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quarta-feira, 20 de outubro de 2010

“Portugal corre sérios riscos de se afundar”

Bruno Gomes, de 25 anos, é músico a tempo inteiro. No entanto, foi na política que encontrou uma das suas grandes paixões. Actualmente, exerce cargos de Presidente da Concelhia do Partido Socialista de Ferreira do Zêzere, Deputado Municipal e Intermunicipal, Presidente da Comissão Política da Juventude Socialista (JS) Ribatejo e membro da Comissão Política do Partido Socialista (PS) Ribatejo. Face à situação política e económica que o país atravessa, Bruno Gomes dá a sua opinião sobre os assuntos que têm vindo a preocupar a vida dos portugueses…


Sandra Portinha (SP) - Tendo em conta as declarações de José Sócrates, Primeiro-Ministro - “A proposta de Orçamento do Estado para 2011 "protege o país da crise internacional, protege a economia, protege o emprego e protege o modelo social em que queremos viver"”(in Económico) - e as de Miguel Relvas, Secretário-Geral do PSD - “Este orçamento é, por outro lado, de "grande insensibilidade social, que vai trazer maior disparidade social, que vai trazer maiores problemas sociais, mais fome e mais miséria ao nosso país”” (in Económico) – defendes que a proposta de Orçamento de Estado (OE) deveria ser aprovada?

Bruno Gomes (BG) - A proposta de OE será alvo de algumas mudanças, ainda. Estou convicto que vai haver negociações entre o PS e o PSD e que a proposta final será aprovada. Sou de esquerda, se existe modelo social, se existe um sistema nacional de saúde, por exemplo, isso deve-se ao Partido Socialista. Ninguém melhor do que o PS protege os direitos sociais. Se a proposta de OE não for aprovada, Portugal corre sérios riscos de se afundar. Julgo que os partidos políticos reconhecem as suas responsabilidades e que o Orçamento de estado será aprovado.


SP - Como encaras as medidas de austeridade do Governo?

BG - Encaro-as como medidas necessárias para garantir a estabilidade económica de Portugal. Sou daquelas pessoas que não gosto de me lamentar. Se existem problemas, temos que encontrar soluções. Temos que controlar o défice das finanças públicas e só assim o conseguimos. Sabemos que os mercados financeiros internacionais se guiarão pelas medidas tomadas pelo Governo, o que fará (já está a fazer) com que tenhamos uma maior credibilidade no exterior. Falemos de rating’s ou de juros cobrados.


SP - Achas que são suficientes? Achas que vão corresponder às expectativas?

BG - Eu espero que sejam suficientes. Já se está a pedir muito aos Portugueses. É necessário que estas medidas tenham resultados, para o bem de todos nós.


SP - "O que posso dizer é que continuam ainda por explicar as contas de 2010" e "como é que o país chegou a esta situação", disse Miguel Relvas (in Económico). Achas que deveriam ter sido tomadas medidas mais cedo?

BG - Esperava que as contas públicas estivessem um pouco melhor, pois foram tomadas algumas medidas. Não culpabilizo tanto o Governo, culpabilizo o mercado financeiro mundial. Extremamente maleável, extremamente liberal. Havendo uma crise financeira global, Portugal, como é lógico, é apanhado na bola de neve.


SP – Mas, visto que isto não aconteceu de um momento para o outro e que o governo já devia estar a par da situação, o governo não deveria ter admitido e alertado há mais tempo para a situação em que o país se encontrava?

BG - Julgo que o Governo esperava outro tipo de resposta perante as medidas tomadas anteriormente. O que é certo é que não deram o resultado esperado. A situação económica de um qualquer país desenvolvido, está hoje amplamente dependente dos agentes económicos exteriores. Bem vimos como alguns países se afundaram com esta crise financeira. Para mim, neste momento, o problema reside no estado, no seu peso, nos seus gastos. Foi um problema que foi aumentando mandato após mandato, e não somente no Governo de Sócrates.


SP - Tiago Caiado Guerreiro, fiscalista, defende que "se calhar é melhor não aprovar o Orçamento e vir para cá o FMI, que realmente faz um trabalho muito mais competente". Como é que vês a possível intervenção do FMI no nosso País?

BG - Julgo que os políticos portugueses têm capacidade para resolver a situação actual. Como sabemos o FMI é, muitas vezes, inflexível perante as finanças públicas. Não será preciso a intervenção do FMI, será preciso, sim, que nós, internamente, possamos viabilizar o cumprimento dos compromissos perante o PEC. Se este orçamento for aprovado, daremos garantias ao exterior, o que se traduzirá numa maior credibilidade perante os agentes económicos.


SP – Entraste no universo político muito cedo. Quando e como aconteceu? O que te motivou a entrar na política?

BG - Motivou-me essencialmente o espírito de camaradagem e entreajuda em torno de um objectivo comum. Quando entrei, não sabia bem o que eram os corredores da política! Tinha 14 anos e participei activamente numa campanha autárquica (1997), onde a minha mãe integrava uma lista. Fiquei com grande motivação, pois a logística de uma campanha autárquica concelhia é grande, a união e o “acreditar” num projecto político, numa equipa, são coisas que a mim me causaram um estado radiante! Um projecto autárquico envolve muitas pessoas, fazem-se caravanas, partilham-se ideias, organizam-se actividades. Paralelamente, já pertencia à Associação de Estudantes da Escola Secundária onde estudei, que posteriormente presidi também. Com tudo isto, fui convidado para liderar a JS Ferreira do Zêzere.


SP - A partir daí nunca mais paraste, não é?

BG – Sim, as coisas foram acontecendo naturalmente. Candidatei-me depois à Concelhia do PS porque entendi que podia dar outra dinâmica à estrutura. Na altura (e penso que ainda agora), era o presidente de concelhia mais novo do País. Um desafio que me obrigou a estar à altura do mesmo. Posteriormente, fui convidado para me candidatar à JS Ribatejo, cargo que desempenhei durante dois anos.


SP – Partilhas da opinião de que os jovens deveriam interessar-se mais pela política?

BG – Sim, claro! Todos sabemos que a política é que decide tudo. Não podemos só dizer mal das coisas, temos que perceber que também as podemos melhorar. Que temos espaços para isso. Precisamos que haja mais interesse pela política. Se houver mais interesse, haverá mais qualidade, mais cidadania, maior envolvimento da sociedade no rumo do País, seja a nível local ou nacional.


SP – E a população em geral? Achas que as pessoas desinteressam-se demasiado pela política do seu país?

BG - Como dizia acima, o envolvimento nas tomadas de decisão é de extrema importância. Infelizmente existem casos (de corrupção, de tráfico de influências, etc.) que descredibilizam os políticos. Um caso singular arrasta a classe política atrás. E é isto que faz com que exista algum desinteresse. É necessária uma maior aproximação da classe política aos cidadãos e penso que gradualmente isso está a ser feito. Esperemos que se consiga obter por parte dos cidadãos um maior interesse.


SP - A política sempre foi o teu sonho?

BG - Não digo que tenha sido um sonho, talvez tenha sido o resultado de ser alguém lutador, alguém que acredita em ideais, num mundo justo, que tem grande motivação, que adora o seu concelho e que tem vontade que ele progrida mais, melhor e de forma diferente.


SP - Como prevês a situação portuguesa daqui a uns anos, talvez 4/5 anos?

BG – Eu acredito que Portugal estará melhor. Certamente teremos as contas públicas em ordem, teremos outra credibilidade no exterior, com os mercados estabilizados. Isso vai-nos permitir crescer economicamente, proporcionando mais investimento, melhores condições de vida, mais rendimento. As dificuldades exigem-nos respostas e por vezes são essas dificuldades que nos fazem atingir voos mais altos. Portugal ao longo da história tem sabido resolver os seus problemas, estou convicto que desta vez também saberá.


Por Sandra Portinha
Grupo 4


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