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terça-feira, 9 de novembro de 2010

Jornalismo e profissão - Palmira Correia: "Sou apaixonada pelo jornalismo"

Palmira Correia é uma jornalista da velha guarda. Estagiou na rádio e na ANOP. Depois passou pelos diários e semanários, experimentou a reportagem televisiva, para a seguir dirigir revistas semanais e mensais. Actualmente é directora de Viva a Vida, a primeira revista para pessoas com mais de 50 anos. São 30 anos inteiramente dedicados à escrita, que completou com 10 livros biográficos das mais proeminentes figuras públicas portuguesas


 
Ana Veiga [A.V.] - O que a levou a entrar no mundo do jornalismo?

Palmira Correia [P.C.] - Desde muito pequena que a comunicação sempre me fascinou. A minha enorme curiosidade sobre o mundo e tudo o que me rodeava, só podia levar-me para esta profissão. Apesar de nunca ter conhecido nenhum jornalista, nem ter ninguém na família próxima da profissão, sempre achei que o meu interesse pelas pessoas havia de ajudar-me a ser jornalista. Ainda no liceu, lembro-me de as minhas redacções correrem as turmas de português e dos elogios das professoras serem uma constante. Hoje, admito, que esse reconhecimento talvez tenha sido um incentivo. Gostava tanto de escrever, que pensa muitas vezes: porque não fazer disso a minha profissão? Quando terminei o antigo sétimo ano do liceu, tudo se conjugou: aparecia o primeiro curso de Comunicação Social na Faculdade de Letras de Lisboa, que, três anos depois, deu lugar ao mesmo curso da
 Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa.

A.V. - Que emoções despertou o seu primeiro emprego na área?

P.C. - O meu primeiro emprego foi muito curioso e ainda hoje recordo com ternura o meu primeiro chefe de redacção. Em Junho de 1981 a agência noticiosa ANOP oferecia seis estágios aos finalistas do primeiro curso de comunicação social. Como éramos cerca de 30, fomos fazer um exame de admissão à agência (dirigido por Luís Paixão Martins, o guru da Comunicação em Portugal) e recordo-me de ele me ter dito que fiquei em segundo lugar. Este estágio tinha a duração de dois meses, Julho e Agosto, mas acabou por ser prolongado mais um mês. Um dia, numa conversa informal com um jornalista da redacção, fiquei a saber que havia uma vaga na delegação de Lisboa de O Comércio do Porto e decidi marcar uma reunião com o chefe de redacção. A nossa empatia foi recíproca. No final da entrevista, ele perguntou-me se não queira começar a trabalhar no dia seguinte, mas eu atribuía uma importância tão grande ao meu estágio na ANOP, que lhe pedi para esperar por mim até ao fim de Setembro. E assim foi: no dia 1 de Outubro de 1981 dei entrada na redacção de um jornal diário, a melhor tarimba para qualquer jornalista.

A.V. - Desde aí, como tem sido o seu percurso profissional?

P.C. - Depois de ter ficado dois anos em O Comércio do Porto, fui para O Tempo, um semanário muito combativo no tempo do PREC, entretanto desaparecido. Lá ganhei visibilidade e, dois ou três anos depois, fui desafiada pelo director de o TAL & QUAL a trabalhar com eles. Isto porque leram uma entrevista que eu fiz ao pai de Cavaco Silva quando ele ganhou as eleições em 1985 e acharam tanta graça que me telefonaram no dia em que a entrevista foi publicada. No final dos anos 80 estava a ser desafiada para chefe de redacção da revista Nova Gente ao que se seguiu a direcção da revista Tomorrow, uma revista mensal que entrevistava protagonistas das várias áreas da cultura. Depois fiz parte do arranque da revista Tv Mais, cujo "pai" tinha sido o meu director no TAL & QUAL. Nos últimos anos fiz parte das equipas de direcção das revistas femininas do grupo Impresa, e nos últimos três anos, era responsável pelas páginas de saúde do semanário Expresso. Desde Março deste ano, dirijo a revista Viva a Vida. Ao longo destes 30 anos de jornalismo, também colaborei com inúmeras publicações, nomeadamente SSD, Século, Exame, Sábado e Visão e fiz inúmeras reportagens televisivas para a SIC.

A.V. - Qual é a sua opinião acerca da evolução tecnológica e sobre a notícia ao segundo?

P.C.- Quando comecei a trabalhar como jornalista, nem sequer havia computador. As notícias eram escritas à máquina, e entregues ao chefe em papel, que, na época, se chamavam "LINGUADOS". O chefe de redacção pedia-nos um, dois ou três linguados, conforme a importância da notícia. O primeiro computador surge no final dos anos 80, quando estava a chefiar a Nova Gente, e foi um susto horrível. Claro que um ou dois meses depois, estávamos todos rendidos à eficácia do caixote. A revolução seguinte é, sem dúvida, a Internet. Antigamente, sempre que precisava de fazer uma entrevista a alguém, tinha de ir para o arquivo de O Diário de Notícias, consultar jornais antigos. Depois, tiravam-se apontamentos ou pediam-se fotocópias que, por sinal, eram bastante caras. Hoje, com um clique, temos toda a informação disponível. Ter acesso à comunicação global ao segundo é, seguramente, a maior revolução da comunicação deste século. Hoje assistem-se a guerras, catástrofes, e a todos os grandes acontecimentos em tempo real em toda a parte do mundo.

A.V. - Que influências isso pode trazer ao exercício da profissão?

P.C. - Só beneficia. Hoje podemos fazer uma entrevista a qualquer pessoa nos antípodas e ter a resposta no momento. A videoconferência, o email, as redes sociais, são excelentes mecanismos de comunicação, e isto é, sem dúvida, o melhor da globalização. Hoje já não é necessário esperar para saber pormenores da notícia mais distante. A informação está sempre disponível em qualquer parte do mundo. Nas televisões! Na Rádio! Na Internet! E ainda bem...

A.V. - Acha que o jornalismo pode perder o seu papel profissional e social, tendo em conta todas as alterações que estão a ocorrer?

P.C. - De forma nenhuma. As notícias continuam a ser feitas pelos jornalistas em todo o mundo, só os meios de as divulgar é que mudaram. E quando se dizia que a Internet vinha acabar com os jornais, já se viu que não. Hoje vendem-se menos jornais não por causa da Internet, mas por dificuldades económicas. As pessoas com mais poder de compra continuam a adquirir as revistas que as distraem e os jornais que as informam e ajudam a formar opinião. Hoje, mais do que nunca, os jornais dispõem de inúmeros especialistas que dão a sua opinião sobre as várias vertentes do conhecimento, e são, muitas vezes, esses artigos os preferidos dos leitores.

Ana Veiga
Grupo 4

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