Num campo de futebol, o mais
usual é encontrarmos três equipas principais, constituídas por homens. Mas
progressivamente este cenário tem vindo a alterar-se, a esquipa de arbitragem
deixou de ser constituída apenas por árbitros do sexo masculino, a entrada da
mulher nas mais diversas áreas também ocorre na arbitragem. É certo que há cada
vez menos descriminação quanto á entrada da mulher no mundo do trabalho. Mas
como reagem os jogadores e adeptos quando é uma mulher a liderar um jogo de
futebol masculino? O distrito de Aveiro é um excelente exemplo, com várias
mulheres árbitro todas na divisão nacional de futebol feminino e que em
simultâneo actuam no futebol masculino distrital. Também é neste distrito que
encontramos a melhor árbitra portuguesa, Sandra Bastos, residente em Lobão,
Santa Maria da Feira.
Encontramo-nos num dos muitos
fins-de-semana desportivos da árbitra internacional filiada na Associação de Aveiro,
são vários os jogos que chega a fazer nestes dias ‘ para além dos jogos da
divisão nacional de femininos, também é habitual apitar jogos masculinos do
distrital’. O futebol é a sua vida, ‘é a minha grande paixão, ocupa-me muito tempo,
isso é certo, mas depois de nascer o bichinho da arbitragem já não é possível
largá-lo’, afirma a árbitra que começou a sua carreira em 2001. “ É um dos
melhores exemplos de persistência na arbitragem feminina, num curto espaço de
tempo conseguiu atingir as insígnias da FIFA, motivo de orgulho para a
arbitragem nacional e em especial para a Federação de Aveiro ‘, diz o seu
colega de equipa André Castro enquanto verifica as fichas de jogo no
balneário.
São necessárias várias
competências para se exercer o cargo de árbitro, para além da competência física,
do conhecimento das regras de jogo , é necessário um perfil psicológico muito
concreto , ‘ não é fácil lidar com certas situações , mas o meu principal
objectivo é ser justa , dar o meu melhor e oferecer todas as condições para que ocorra um bom jogo de
futebol’. Distinguida pelas insígnias da FIFA desde 2007 e tendo desde aí um
vasto currículo de jogos internacionais, a árbitro salienta momentos marcantes
na sua carreira ‘ no final de um jogo masculino, quando me retirava do campo
foi surpreendida pelos aplausos dos jogadores e até do público presente que me
felicitou pela minha prestação no jogo’. Ser juiz de um jogo de futebol,
feminino ou masculino, segundo esta ‘é um privilégio e não uma função
desmotivadora como muita gente o afirma, um bom árbitro deve saber impor regras,
impedindo o conflito e apelando ao fair-play entre todos os intervenientes’, no
caso das camadas mais jovens ‘ temos uma função bastante pedagógica, a minha
postura torna-se mais flexível , cumpro as regras e simultaneamente explico-as
aos jovens jogadores , dialogando sempre ‘ , algo que é fundamental segunda a
própria .
No entanto, existem vários
condimentos num jogo de futebol, pois até nos jogos dos mais pequenos as
confusões e emoções fortes são muito frequentes. Num jogo de infantis ao sábado
de manhã e com uma plateia maioritariamente constituída pelos pais dos pequenos
jogadores existem sempre muitas crítica e o árbitro é sempre o principal alvo,
‘no meu caso essas intervenções externas não dificultam minimamente o meu desempenho,
é mais do que habitual, os árbitros sabem que estão sempre bastante expostas às
críticas, por vezes injustas do público’. Não é algo que os desmotive, nem
afecte de forma significativa ‘ quando estou dentro de campo, quer esteja a
apitar um jogo masculino do distrital ou um jogo internacional feminino, o meu
grau de empenho é sempre o mesmo, mantenho a minha concentração ao máximo no
jogo que está a decorrer e não presto atenção ao que é dito fora das quatro
linhas’, conta Sandra Bastos.
Após um jogo calmo entre duas
equipas bastante jovens, o ambiente vivido no balneário da equipa de arbitragem
é de grande descontracção, ‘é difícil os espectadores em geral pensarem no que
acontece dentro do nosso próprio balneário, normalmente antes do jogo estamos
todos concentrados no jogo e motivamo-nos mutuamente. Depois do jogo o ambiente
mais descontraído , gostamos de brincar e discutir alguns lances de forma
critica mas sempre divertida’ , afirma Óscar Rocha colega de equipa. Quanto ao facto de ter uma mulher no
balneário refere que ‘é exactamente a mesma coisa, não há qualquer distinção ,
já tive outras mulheres em equipas anteriores e acho que uma mulher é capaz de
perceber tanto ou mais que um homem’ .
Quanto ao panorama da arbitragem
feminina em Portugal as opiniões entre os três elementos da equipa de
arbitragem são mais ou menos consensuais. Para a conceituada Sandra Bastos ‘
apesar dos obstáculos, com esforço e persistência, o facto de ser mulher não
impede a obtenção de grandes resultados’. Porém Óscar Rocha, que defende
activamente a igualdade entre homens e mulheres no mundo do futebol pensa que ‘
ainda são claras algumas limitações na progressão da carreira de uma mulher árbitro,
é fácil o acesso e evolução na carreira em termos de futebol feminino, quanto
ao masculino a situação complica-se’. De forma assertiva Sandra refere logo a
sua própria situação ‘apesar do apoio que me é prestado, existem restrições, apesar
de ser estar na primeira a nível internacional, em termos nacionais estou
impossibilitada de exercer na primeira categoria nacional pois teria que perder
as insígnias da FIFA. Este é um facto que impede que árbitras com muito talento
de exercerem em grande jogos nacionais de futebol masculino’. Ou seja todos
admitem que para uma mulher chegar á primeira divisão nacional ainda há muito
trabalho a ser feito e barreiras para serem quebradas. No entanto ‘ não é algo impossível’,
afirma o árbitro André Castro. Para finalizar da melhor maneira, a árbitro que
é um exemplo de sucesso fenomenal e que representa o nosso pais da melhor forma
estabelece ‘como principal objectivo chegar a árbitra de elite a nível
internacional’.
Por: Rosália Costa
redacção 1
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