Começamos a celebrar a época festiva um pouco mais cedo, ou
seja dia 23 rumamos à famosa noite do Mercado. Antigamente utilizava-se este
dia para realizar as últimas compras, (couves, alface, e as famosas
tangerinas), no entanto, o significado alterou-se dando lugar a uma noite de reencontro com os amigos que não vemos há algum tempo.
De vez em quando as bombas artesanais, lá nos pregam uma
partida, obrigando a um movimento involuntário (pulo), derramando um pouco da
bebida tal é o barulho ensurdecedor.
Na véspera de Natal, dia 24 é o dia de reunião com a família.
É nosso costume visitar duas tias-avós, que se esmeram especialmente nesta
quadra, construindo uma lapinha (presépio) com cerca de 2 metros de altura por 3
de comprimento, onde encontrar o menino Jesus torna-se particularmente difícil
depois de provar a aguardente caseira com vários sabores desde laranja,
tangerina e morango. De seguida a família reúne-se na casa de um tio,
previamente combinado, com uma mesa recheada das mais variadas iguarias, não
faltando a “canjinha” de galinha. É nestas ocasiões que se ouvem os
tradicionais: “Está tão grande!” ou mais recentemente “ Engordou um bocadinho.”
Tendo uma família numerosa, contando com 8 tios/tias, cerca de 20 primos, multipliquem
isto por 2, com os respectivos companheiros/as, imaginem a corrida infernal por
um pedaço de comida. O dia de Natal propriamente dito é muito mais calmo, pois
almoçamos em casa, cozinhando no dia anterior peru ou porco, deixando-o no
forno em lume brando de maneira a se tornar mais saboroso. De seguida com a
barriga confortada, é hora de revisitar aquele clássico da televisão “Sozinho
em casa”, não importa a versão, mas atenção desde que conte com o Macauly
Culkin no papel principal.
No dia 26 é a primeira oitava, feriado na Madeira, dedicado
no meu caso à visita da casa da minha avó. Neste dia organizamos uma pequena
troca de prendas, repete-se a mesa recheada de iguarias, e o meu avô prepara
uma grande taça de salada de fruta, aviso não aconselhável a diabéticos. Esta é
também uma oportunidade de derrotar os mais velhos num jogo de cartas conhecido
como a “bisca” onde segundo eles conta muito a experiência. Muito simplesmente,
pois há toda uma ciência por detrás do jogo, consiste em arrecadar o máximo de
pontos possíveis, ficando o baralho de cartas ao meio, retirando sempre uma
carta após uma jogada. Como é um jogo de equipa, degladiando-se três contra
três, é muito frequente passarem-se sinais através de trejeitos na face,
ocorrendo-me frequentemente que o meu avô estaria a ter um AVC, apesar de ser
completamente proibido este tipo de sinalética. Neste dia declara-se
oficialmente o fim da quadra natalícia, aguardando ansiosamente a chegada de
outro evento muito importante na Madeira: o fim do ano.
José Tiago Silva Ferreira
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