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segunda-feira, 5 de março de 2012

Sessões de Cinema a Um Euro


 Fila K Cineclube promete divulgar muito mais do que cinema português independente.

Foi na Casa das Artes da Fundação Bissaya Barreto que Gonçalo Barros, da direcção do Fila K Cineclube, nos recebeu. Casa que abriga outros dois projectos, Camaleão - Associação Cultural e MRNT Marionet, e onde a ideia de sustentabilidade entre as três associações é bem patente na partilha de equipamento, espaço e meios financeiros.
Fila K Cineclube faz este ano 10 anos e nós fomos conhecer este projecto que é apenas criança na idade, mas muito adulta quando se fala no que já alcançou neste tão seu curto período de tempo. 

Vanessa Sofia - Posts de Pescada



Posts de Pescada (PdP) - Quando e pela mão de quem nasceu o Fila K Cineclube?
Gonçalo Barros (GB) - O cineclube nasceu a 17 de Maio de 2002 e precisamente este ano vai fazer 10 anos. Foi tudo através de amigos. Reunimo-nos, cerca de 10 pessoas, e formamos a associação cultural sem fins lucrativos. O nome surgiu porque na altura, em 2002, não havia nenhum cineclube em Coimbra. 

PdP - Qual é o público-alvo do Cineclube?
GB - Depende muito da iniciativa. Temos ciclos de cinema que é para toda a gente. Temos, por exemplo, ciclos para o público infanto-juvenil, dos 7 aos 14 anos. E depois dos 14 até ao fim, não é? (risos) Digamos que depende muito da programação que adoptamos.

PdP - Será que nos podia dizer o objectivo do vosso projecto?
GB - Basicamente é divulgar a cultura cinematográfica. É sempre o objectivo de um cineclube: é para promover cinematografias normalmente esquecidas do público e promovê-las para que as pessoas as vejam. No nosso caso foi mais para promover cinema que não era divulgado pelas grandes distribuidoras. Pois se bem reparares, os filmes que estão em exibição num centro comercial, são quase sempre os mesmos que têm no outro. Por isso o nosso primeiro objectivo foi divulgar o cinema português independente e dar ao público mais variedade de escolha. E não só, também mostramos cinema de outros países, mas acima de tudo tivemos o cuidado de sempre divulgar o cinema feito por cá.

PdP - Já que falas na programação em si, tinha reparado pelo vosso site que vocês têm uma programação muito distinta. Para além da atenção que dão ao cinema português, qual é o método de selecção e de organização do vosso calendário de projecções?
GB - Nós como Fila K projectamos em dois sítios diferentes: no Mosteiro Santa Clara, no auditório, todas as sextas feiras às 21:30, e aqui, na Casa das Artes da Fundação Bissaya Barreto. A programação em si difere dependendo do sítio que escolherem.
No Mosteiro, no ano passado, fizemos por autor para mostrar às pessoas a evolução, por filmes, de um realizador. Neste ano decidimos organizar o calendário por temas, como por exemplo o «O Cinema e a Pintura», o «Cinema Mudo» e por aí fora.
Na Casa das Artes adoptamos outra estratégia: nós estamos cá, damos a cara, mas quem programa são outras instituições. Ou seja, funcionamos como acolhimento desses projectos, abrimos a casa e emprestamos equipamento para essas instituições que querem fazer os seus ciclos de cinema.
Por exemplo, este mês [Março] vamos ter três acolhimentos: o do Centro de Estudos Sociais, mais conhecido por CES, que propôs um ciclo de cinema com comentadores todas as Quartas-feiras, depois temos também parceria com os Pioneiros de Portugal e às quintas teremos o Departamento de Arquitectura com o seu ciclo de filmes.

PdP - Como tem sido a adesão do público?
GB - É curioso perguntares isso. Tudo o que começa, demora o seu tempo para chegar aos ouvidos das pessoas, ainda mais falando de um cineclube. Temos que criar um «público» e depois arranjar estratégias para que elas voltem sempre.
Uma das estratégias que arranjamos foi encontrar um dia fixo. Por exemplo, no caso do Mosteiro [Santa Clara], como já disse, é todas as sextas-feiras às 21:30. Assim as pessoas sabem que há ali cinema uma vez por semana com entrada livre.
Este ano, em 2012, a partir de Fevereiro decidimos criar uma entrada simbólica de um euro e quem quiser ser sócio paga 15 euros e pode ver todas as sessões durante um ano. Com esta nova política de preços pensávamos que as pessoas não vinham mais e por acaso aconteceu precisamente o contrário. Temos tido mais público e estamos a crescer cada vez mais.

PdP - Por fim, acha que falta mais projectos como o vosso aqui em Coimbra que divulguem a cultura.
GB - Penso que não.
A cidade não é assim tão grande e se surgir muitos outros projectos pode surgir o problema de haver para um só dia muitas actividades. Nós como Fila K defendemos que temos de trabalhar todos em união, ou seja, se realmente houver diferentes eventos culturais no mesmo dia, seja ele teatro, cinema, música ou outras expressões artísticas, pode-se fazer uma programação em conjunto.
O problema em Coimbra é que a instituição que trabalha com o teatro gosta de divulgar cinema, o que trabalha com música gosta também de cinema . Isto tanto pode ser saudável como não, pois origina desorientação ao público que deixa de saber para onde quer ir por ter tanta oferta. Por isso, não, acho que não haja falta de projectos culturais na cidade.


*Por opção da autora, este artigo foi escrito segundo as normas do Acordo Ortográfico de 1945.



1 comentário:

  1. Desconhecia tal projecto em Coimbra. Muito obrigado por o divulgar. Excelente entrevista.

    Carlos Ribeiro

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