Mais que um desporto, uma filosofia
de vida
Imagina-se aos saltos de
sua casa para o seu trabalho?
Na verdade todos nós
sabemos que o modo mais rápido e eficiente de nos deslocarmos é em linha recta.
Mas quando o cenário muda de figura e
representamos no terreno os movimentos de corrida, fugida, salto ou equilíbrio
estamos certamente aptos para dar ínicio ao espectáculo do parkour.
Os “traucers” ou
“parkouristas” são os praticantes da modalidade cuja missão é ultrapassar e
superar obstáculos, que estão dispersos no espaço urbano. Segundo a
administração do site Parkour.pt “a analogia mais comum à simplicidade e utilidade de
movimentos do parkour é a de um bombeiro a caminho de salvar alguém ou a de um
polícia a perseguir um ladrão”.
Para a prática do Parkour os atletas
necessitam de uma grande coordenação física bem como uma boa capacidade motora
e psicológica e devem respeitar o próximo, como em qualquer desporto. Parkour
pode também ser abordado como um método de pensamento do praticante que joga
com o desporto e com a arte de defesa do próprio e dos outros. “Superar os meus medos, encarar os meus limites, saber
cair e sempre levantar, não intimidar diante dos obstáculos e seguir sempre em
frente são apenas algumas das verdadeiras lições de vida que esse desporto
incrível traz para a minha vida” afirmou Ricardo Moraes, praticante da
modalidade. “Tal como uma arte marcial acaba por
transbordar para a filosofia pessoal de cada um, sinto que o Parkour não
consegue ser contido em algo como simples desporto ou actividade. A visão do
mundo muda, as capacidades pessoais mudam e a filosofia inerente do altruísmo
implica forçosamente alguma filosofia do Parkour na vida” explicou MoDu, praticante
e monitor do desporto.
História do Parkour
As
inspirações para a prática desta arte em movimento nasceram de diversos métodos
que remontam à década de 80. Em Lisse, França, David Belle junta-se a Sébastian Foucan, dois nomes
importantes no parkour que foram difundindo os seus ideais até que se separaram
por completo. Para Foucan, o parkour é uma actividade ligada às filosofias orientais e os seus
movimentos estão baseados na autonomia e nas energias positivas. Já David Belle
considerado pelos traucers como o pai do parkour defende os movimentos puros e objectivos.
O único “parque” oficial
em Portugal
O mais recente espaço para a prática de parkour no nosso país
situa-se na Mealhada. Considerado como único parque oficial em
Portugal o espaço abriu as portas aos praticantes, no dia 30 de Novembro de
2010. O parque de Parkour foi uma aposta da Câmara Municipal da Mealhada e foi
planeado por jovens praticantes. Segundo
o vereador do desporto, Júlio Penetra, a história que levou à construção do
parque é bastante caricata e curiosa “ a vice-presidente vive na zona
desportiva e de repente foi confrontada com qualquer coisa que ela identificou
como um assalto, porque havia umas pessoas estranhas com uns fatos estranhos,
umas mochilas estranhas a tentarem trepar por uns muros nas paredes das
piscinas municipais e a saltarem de um lado para o outro e ela comunicou à GNR
e a GNR veio ao local e identificou as pessoas. As pessoas não eram mais do que
munícipes jovens do concelho e eles explicaram que não estavam a fazer nenhum
assalto mas sim a desenvolver uma actividade física e as coisas
esclareceram-se.” Foi assim, que se deu
início à construção de um espaço desportivo para a prática da actividade. “Um
projecto com investimento da Câmara Municipal com a ajuda dos jovens”
acrescentou o vereador.
No local
Na verdade quando cheguei foi quase impossível perceber que
estava num parque para a prática de parkour. Foi por entre os muitos muros que
cobrem o espaço, os edifícios adaptados, as rampas em curva que enfatizam todo
o cenário mítico do conceito urbano que consegui sentir alguma adrenalina.
Meia volta, Passagem, Passagem Francesa, Recepção,
Rolamento, Salto de Gato, Salto de Braços, Salto de Precisão e Tic Tac são
alguns dos nomes técnicos que os desportistas adoptaram para os seus movimentos.
Cada qual tem as suas características mas segundo os praticantes “Temos de
começar pelos saltos mais básicos e só quando estivermos realmente preparados é
que passamos para os mais complicados”. Um desporto que exige muito esforço e
preparação física requer acima de tudo que se “pratique de forma consciente e segura”. “Só é tão perigosa quanto o traucer a
tornar. A evolução pessoal deve ser gradual e consistente, com bases bem
edificadas e educadas”, confessou MoDu. Num local onde os rapazes são os
protagonistas principais, as raparigas, ainda não foram seduzidas por esta arte
em movimento “É um desporto de quem quiser
praticar, mas atrai poucas raparigas. E se dessas poucas, quase todas desistem
ao fim de poucos meses (acontece também nos rapazes, apenas 1 em cada 100 é
capaz de continuar a treinar para além do 1º mês), poucas ou nenhumas sobram”
adianta Filipe Neves, um dos praticantes.
Em conversa com André
Pereira
Depois de ver todos aqueles movimentos, que pareciam saídos
de um filme de acção fui conversar com um dos instrutores de parkour para que
me esclarecesse sobre a actividade. André Pereira, mais conhecido por MoDu,
para além de praticante é monitor de parkour e revelou que na modalidade os
traceurs são conhecidos pelos seus nomes artísticos: “O Parkour espalhou-se,
maioritariamente, como cultura de internet e fóruns, onde o “nome artístico”
(ou “nick”) é a o único nome conhecido, mesmo em encontros. A cultura do
Parkour desenvolveu-se então para continuar sempre a representar qualquer traceur
pelo seu “nick”. ” Para este rapaz o parkour significa a capacidade de adaptar
e ultrapassar obstáculos físicos, dentro dos limites do seu corpo e defende
alguns dos seus príncipios: “Os meus princípios enquanto tracer
(ou traceur, tanto faz) são: desenvolvimento pessoal constante, partilha de
conhecimentos e altruísmo responsável que advém das capacidades que se ganham
com o parkour”.
Um desporto recente
Parkour tem vindo a ganhar cada vez mais adeptos e apesar de, ainda ser
pouco conhecido os preconceitos têm vindo a desaparecer “Os preconceitos estão
a desaparecer, a informação já está espalhada e a população em geral já começa
a conhecer o Parkour. Há um diferença notória dos dias de hoje para o ano de
2005.”
Seguindo os lemas pseudos-oficiais dos parkouristas “être et durer” e “on avance toujours”, que se traduzem em “ser e
durar” e “eu evoluo todo os dias” os praticantes defendem que antes de ser um
desporto, o parkour tem de ser visto como uma filosofia de vida. Não existem
campeonatos oficiais nem uma federação específica mas mesmo assim, pretendem
continuar a treinar mostrando a sua ideologia, superando e ultrapassando
obstáculos. “Vamos viver o nosso mundo usando a nossa liberdade” dizem eles. Uma
liberdade limitada pelo corpo e pela mente.
Fotos: http://www.flickr.com//photos/78993334@N03/show/
Andreia Roberto
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