Dado a conjuntura atual da economia portuguesa, a emigração começou a tornar-se a primeira opção para quem tem dificuldades em trabalhar no seu país e quer tentar a sua sorte "lá fora".
Foi a pensar nestas novas dificuldades e dúvidas dos portugueses que surgiu o Talent Abroad.
Marcelo Silva, criador deste projeto, explica para o Posts de Pescada o passado, presente e futuro do TA, que promete dar resposta a todas as perguntas em relação à emigração para os países da CPLP (Comunidade dos Países de Língua Portuguesa).
Vanessa Sofia
Posts de Pescada: De onde surgiu a ideia de criar o Talent Abroad?
Marcelo Silva: O
projeto Talent Abroad surgiu da minha própria necessidade, enquanto jovem, que
coloca em hipótese a procura de trabalho nos mercados internacionais.
Em agosto
de 2011, visitei uma Feira de Emprego em Aveiro sobre os mercados de trabalho
internacionais e verifiquei uma grande falta de organização e informação
relativamente a países como o Brasil, Moçambique e Angola, que por sinal são
países em grande crescimento e com grande procura de mão-de-obra qualificada
para algumas áreas.
Desde
lá, decidi então procurar mais
informação e foi aí que me surgiram as principais dúvidas: Quais os melhores
mercados de trabalho para a minhas área? Que empresas estão dispostas a
receber-me enquanto estrangeiro? Quem é que estaria disposto a fazer o mesmo
percurso que eu? Se não conseguir emprego vou ficar desamparado no país de
destino?
Comecei
a questionar-me se seria o único a pensar assim, o que me permitiu estudar
profundamente o mercado e perceber que é realmente uma necessidade e um
problema social.
Não me
conformando com esta questão, decidi encontrar e começar a criar respostas. Depois
de muito trabalho e de muita ajuda por parte de toda a equipa envolvente,
finalmente consegui começar a solucionar alguns dos problemas, surgindo assim o
Projeto Talent Abroad.
PP: Qual é o objetivo desta plataforma?
M.S.: De uma forma muito simples, o
objetivo desta plataforma é apoiar todos os jovens que querem conquistar o seu
espaço no mercado internacional e fazer um matching entre a procura e a oferta
de trabalho. Queremos fornecer ferramentas e mediar serviços simples que
permitam responder às questões básicas de quais empresas que estariam
interessadas em receber determinada mão-de-obra, quais as empresas dispostas a
receber-te enquanto trabalhador emigrante, que pessoas estão realmente a pensar
internacionalizar-se para determinado local, informação institucional e
importante sobre todo o processo de cada país, fornecimento de contactos, troca
de experiências e feedbacks reais entre pessoas de vários pontos do mundo e de
uma forma muito importante, criar uma rede de cooperação internacional do
mercado de trabalho.
PP: Porquê a vossa preferência com os países da CPLP (Comunidade dos Países de
Língua Portuguesa)?
M.S.: Os
países da CPLP surgiram por uma vantagem comparativa básica nos mercados em
questão que é a língua portuguesa.
Contudo,
e sustentando a análise do projeto em fatores base, a verdade é que 4,6% do PIB
Mundial fala português; existem 253,7 milhões de pessoas que falam a nossa
língua; o peso no comércio internacional de trocas entre agentes de língua
portuguesa é já de 441,9 milhões de euros; e, num caso específico, já temos
hoje 3.000 empresas portuguesas em Angola.
A minha
questão prende-se então: porque não acompanhar todo este movimento por uma
internacionalização da mão-de-obra qualificada portuguesa? Focamo-nos portanto
numa ideia de comunidade entre estes países, porque sabemos que a criação de
laços entre as pessoas é muito importante, de forma a também resolvermos o
problema real de desemprego nacional e de apoio a todos os jovens que procuram
alternativas e soluções.
PP: Apostaram na Rede Social Facebook para difundir o vosso projeto. Têm
tido muita procura?
M.S.: A aposta nas Redes Sociais surgiu
como necessidade de testar os feedbacks de potenciais interessados. Começamos
uma semana antes de ter uma etapa importante no projeto que foi a final no
concurso de Empreendedorismo de Diogo Vasconcelos, organizado pela FAP, e na
verdade, tivemos um crescimento da nossa notoriedade, alcançando 1000 jovens
apenas nesses dias.
Desde lá, temos tido um feedback
fantástico de muitos interessados no projeto, que nos contactam tanto por email,
telefonemas, contactos pessoais o que nos tem feito trabalhar sem parar. É bom
que assim seja, porque a verdade é que cada vez mais toda a equipa acredita e
foca-se no nosso objetivo e através de todo estes contactos, pretendemos agora
começar a construir a nossa comunidade.
A rede social foi apenas mais um meio para
termos material para trabalhar.
PP: Quais são as maiores dúvidas que chegam até vocês?
M.S.: As maiores dúvidas, em síntese,
prendem-se com as incertezas laborais.
O que tenho verificado é que o que
faz muito dos jovens não arriscarem na procura de oportunidades nesses mercados
é numa palavra: o medo.
E o medo deve-se à falta de
informação, à falta de contactos, à falta de feedback de pessoas que tenham
passado por essa experiência, à falta de preparação e à falta de confiança no
que vão encontrar.
O que nós pretendemos é responder o
mais possível a todas essas dúvidas e tirar o medo às pessoas.
Por isso estamos a trabalhar neste
momento em ferramentas e meios que o permitam fazer, proporcionando toda a
informação possível sobre as necessidades de cada um, criando uma rede de
contactos, organizando bases de dados de pessoas que vão para determinados locais
e a área que pretendem, organizando meetings entre pessoas e empresas com
experiências e interesses semelhantes e responder às necessidades específicas
de cada um.
De salientar ainda que trabalhamos
enquanto organização sem fins lucrativos, em que o que deixamos bem assente é
que não garantimos o futuro a ninguém, garantimos sim, um lugar seguro para
começar.
PP: Atualmente, quais são as melhores saídas
profissionais e locais de trabalho fora do país?
M.S.: Existem áreas gerais que têm tido
muita procura a nível internacional, não só nos países que especificamos mas
também noutros países. Dentro dessas áreas destacamos as Tecnologias e Sistemas
de Informação, as áreas de Engenharia, a Gestão e Economia que têm sempre alguma saída e dentro
da área de Marketing, o E-commerce.
No Brasil, de referir ainda que as
áreas sociais e o Terceiro Setor estão muito mais desenvolvidos que em
Portugal, por exemplo, o que pode ser uma oportunidade para quem trabalha nesta
área. Nos países dos PALOP poderá ainda ser uma solução e uma alternativa para
profissionais da área de educação.
PP: Quanto investiram neste projeto?
M.S.: Os maiores investimentos mais do que
financeiros, têm sido o investimento de tempo e de trabalho, que tem grande
significado e valor no mercado.
Neste momento temos 14 pessoas
ligadas diretamente ao projeto de diferentes áreas como Design, Marketing, Gestão, Economia, Tecnologias da
Informação, Saúde, Engenharias de diferentes universidades do país. Todos nós
temos investidos muito tempo e trabalho para responder às nossas necessidades,
sendo um projeto de jovens para jovens. E este trabalho em termos económicos, volto
a referir tem valor no mercado.
Financeiramente, em termos concretos,
temos algumas pessoas a investir no projeto, mas pretendemos colmatar as
necessidades estruturais com parcerias fortes e credíveis que identifiquem as
suas organizações com o objeto social e com as mais-valias que pretendemos
transmitir. Trabalhamos para estabelecer parecerias win win entre os agentes,
que contribuam socialmente para o desenvolvimento da nossa comunidade.
PP: Recebem algum tipo de apoio financeiro ou operacional
por fora da equipa que criou o Talent Abroad?
M.S.: A nível operacional temos conseguido
diversos apoios com o desenvolver do projeto. De salientar a abertura do IAPMEI
e da Universidade Católica (onde se situa a nossa sede neste momento) que nos
têm orientado de forma a focar-nos e a concretizar o que pretendemos.
Não deixa de ser importante claro que
apelamos o apoio de outros entidades, como a Aicep Portugal Global que seria
muito importante, em termos de informação.
Durante este ano de trabalho, temos
também aberto algumas portas entre instituições bancárias, instituições
públicas e organizações de empreendedorismo social que manifestam o interesse
em nos apoiar.
Para já, procuramos ser
autossustentáveis e crescer por nós mesmos, de forma a que os principais apoios
que pedimos no momento, é a de todos os jovens que queiram lutar por esta causa
e se queiram juntar a nós, como comunidade. Volto a referir que é um projeto de
jovens para jovens.
Tudo o resto, tem surgido naturalmente.
PP: Pretendem expandir o vosso negócio da Internet para agências próprias no país, e quem sabe, fora de Portugal?
M.S.: Sim. O nosso principal objetivo é
difundir o nosso conceito por todo o país e criar uma comunidade credível e
organizada. Neste momento temos a nossa associação localizada no espaço da
Socialspin da U. Católica. Mas pensamos já noutros locais como Universidade de
Aveiro, ou mesmo Universidade de Coimbra. Todos os jovens que nos têm
contactado com intuito de trabalhar connosco não serão certamente esquecidos,
pois queremos conjugar as capacidades técnicas de cada um com uma forte vontade
e motivação pelo projeto. Somos 14 neste momento, mas estamos a pensar expandir
nos próximos meses para a segunda equipa.
A médio prazo queremos estar presentes nos principais pontos a nível nacional e
depois quem sabe, pensar para além de fronteiras... Why not?
PP: Que conselho dão a um recém-licenciado que quer
começar a sua carreira no Brasil ou em outro pais da CPLP?
M.S.: Preparem-se muito bem antes de tomar
uma decisão. O que nós apelamos é que tomem decisões bem conscientes do que
estão a fazer. Procurem toda a informação disponível, troquem contactos com
pessoas que se encontrem nos locais que querem ir, procurem empresas das vossas
áreas dispostas a receber-vos, contactem pessoas que no nosso território que
também pensam no mesmo processo que vocês e se possível frequentem também
algumas ações de formação. Diminuam o máximo possível o vosso risco.
Essencialmente, procurem o máximo de
informação e tomem a vossa própria decisão. Se não o quiserem fazer sozinhos,
podem então contactar-nos que estamos dispostos a ajudar. Sem qualquer custo,
pretendemos que as pessoas se juntem também à nossa rede comunitária. É nesta
força conjunta que acreditamos e que pretendemos passar a mensagem a todos.
Para mais informações, contacte a TA: