Questões relacionadas com a bioética continuam a estar bem
acesas na sociedade portuguesa. Na apresentação do “Manual de Bioética para
Jovens”, da Fundação LeJeune, a presidente da Associação de Defesa e Apoio da
Vida – Coimbra (ADAV), Professora Ana Maria Pinhão Ramalheira, não deixou de
marcar a sua forte posição no que diz respeito a estes temas. Respondeu ainda a
algumas questões para o Posts de Pescada:
Posts de Pescada (PP): Como surgiu a ADAV?
Drª Ana Ramalheira (A.R.): A ADAV surgiu na sequência do
primeiro referendo do aborto em Portugal.Um grupo de cidadãos conimbricenses
sentiu que era importante alertar as consciências das pessoas para o que se
estava a perfilar, ou seja, a liberalização do aborto “a pedido”, por mera
opção da mulher, sem qualquer justificação. Tivemos dois referendos num curto
espaço de tempo (caso nunca visto!). No primeiro referendo ganhou o “Não ao
Aborto”, mas os responsáveis políticos, nomeadamente o PS, o governo de José
Sócrates, voltaram a fazer um referendo, nove anos depois.
A ADAV tem vindo a lutar desde então pelo “Sim à
vida”, pelo “Não ao aborto”, sempre com o objectivo de que “não haja mulheres
em Portugal que abortem por razões socioeconómicas”. Uma sociedade cuja única
solução que tem para oferecer às mulheres, no que diz respeito à gravidez, é o
aborto, é uma sociedade sem futuro, uma sociedade sem sentido. A ADAV quer
ajudar a construir uma sociedade solidária, que acolha no seu seio as crianças
cujas mães não as querem ou que não as conseguem sustentar. Hoje em dia, ainda
não se fala da alternativa da adoção. As mães deviam dar uma oportunidade de
vida aos bebés, certamente que eles mais tarde lhes agradeceriam essa escolha.
Além de ser muito menos traumatizante para a mãe. É este o papel da ADAV:
aliviar as mulheres das dificuldades de uma gravidez não desejada, das
dificuldades financeiras que uma gravidez sempre acarreta. É por isso que
estamos que estamos no terreno a apoiar grávidas, grávidas adolescente e
puérperas e suas famílias sem nunca nos cansarmos, apesar das muitas
dificuldades com que diariamente nos confrontamos.
PP: De que modo é que a ADAV tomou
conhecimento e abraçou este projecto da Fundação LeJeune concretizado neste
manual?
A.R.: Este projecto, iniciado há cerca de
sete anos, foi apresentado por um grupo de fundadores e outros associados da
ADAV à direcção da associação, que desde logo abraçou a ideia por considerar que
o projecto era consentâneo com o compromisso assumido pela ADAV na defesa
intransigente da dignidade da vida humana. Os promotores da ideia angariaram
donativos para pagar a impressão do Manual, pois tudo o resto (tradução,
revisão científica, apresentações públicas, etc.) foi feito pelos muitos
colaboradores de forma voluntária e gratuita.Todo esse processo foi muito
acompanhado desde a primeira hora pela Fundação LeJeune (Paris). O “Manual de
Bioética para Jovens” foi editado em Portugal pela ADAV-Coimbra em parceria com
a Fundação Famílias de Braga. Estamos todos felicíssimos com os resultados .A
tradução portuguesa foi empreendida pelas docentes de francês Alda Maria Dias e
Leonor Seabra Pereira, a revisão científica da tradução feita por Henrique
Vilaça Ramos, professor catedrático jubilado da Faculdade de Medicina da
Universidade de Coimbra e ex-presidente da Comissão Nacional de Ética da Ordem
dos Médicos, e pelo psiquiatra Luís Marques.
PP: O que é que este Manual acrescenta
de novo a estas temáticas já tão discutidas?
A.R.: Este Manual é direcionado para
Jovens. Trata questões muito complexas de uma forma bastante acessível.Tem uma
apresentação muito apelativa em termos gráficos, mormente no que respeita às
cores e à organização de texto. É um Manual que será muito útil a jovens, pais
e educadores que se preocupam com estas questões. Vivemos num mundo um pouco
selvagem, em que tudo gira a uma velocidade alucinante e (des)orientado pelas
lógicas dos mercados. Um mundo destes é avesso à reflexão sobre questões
relativamente mais complexas, como a ética e a bioética.
PP: Como acha que os jovens encaram
estas questões relacionadas com a bioética?
A.R.: Eu acho que há muito pouca
informação sobre estas questões entre os jovens e penso que não têm sido
debatidas nas escolas com a devida profundidade. E nós vivemos numa sociedade
em que tudo se passa a um ritmo alucinante. Há uma cultura “light”,
relativista, que é avessa à reflexão. E eu considero que é fundamental
reflectirmos. Vejamos: a crise económico-financeira pela qual estamos a
atravessar é fundamentalmente uma crise de valores e por isso é importante que
levemos os jovens a pensar sobre estas questões. A publicação da versão
portuguesa deste Manual não passa deum pequeno contributo de duas pequenas
associações para esta discussão mais vasta e abrangente em torno da Éticas. O
nosso objetivo é enviar pelo menos um exemplar para cada escola do país. E os
que sobrarem serão, com certeza, distribuídos por locais frequentados por
jovens.
PP: Qual pensa ser a melhor solução
para diminuir as enormes divergências de opinião sobre estes assuntos que
parecem não permitir conclusões uniformes?
A.R.: Na sociedade nunca há unanimidade.
O importante é pensarmos pela nossa cabeça e saber distinguir o certo do
errado. A ética prende-se com os valores universais intemporais, que estão para
além da moral da uma época. Esses valores intemporais estão muito para além da
lei dos homens. E é por esses valores intemporais que nós nos devemos guiar.
PP: Qual será a relação da bioética com
a responsabilidade social?
A.R.: É toda! A tecnologia é fria… O que
dá sentido à tecnologia é a ética, é a responsabilidade que temos no plano
cívico e social. O respeito pela dignidade da vida humana é que dá sentido à
tecnologia. Reparemos no exemplo de JérômeLeJeune. Este senhor foi um grande
geneticista francês que identificou a anomalia cromossómica que dá origem à
trissomia 21. E ele, que investigou e trabalhou tantos anos para detectar a
anomalia cromossómica que dava origem aquela doença, viu a sua descoberta ser
usada para uma deriva eugénica, ou seja, foi usada para matar, para abortar as
crianças que padeciam desta doença. E LeJeune morreu com essa angústia… E nunca
lhe foi atribuído o prémio Nobel por ele ter defendido publicamente a
inviolabilidade da vida humana desde a conceção até à morte natural. Ou seja,
não lhe foi atribuído o Prémio Nobel, como indiscutivelmente merecia a sua
descoberta científica, por razões meramente ideológicas.
Informação sobre a ADAV em:http://www.adav.coimbradigital.net/
por: Daniela Gonçalves
por: Daniela Gonçalves
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