Com a chegada do Outono e dos novos caloiros, chega a Coimbra uma das
mais emblemáticas e características festas académicas desta cidade, a
Festa das Latas, tendo como objetivo integrar os estudantes que iniciam
um novo capítulo na sua vida e dar a conhecer um pouco da tradição
praxista e académica.
Um caloiro envergando um cartaz com carater satírico. |
As origens da Latada remontam ao século
XIX, sendo que inicialmente era realizada em Maio, quando os estudantes
comemoravam euforicamente o término das aulas, utilizando latas e demais
objetos ruidosos. As Latadas do Séc. XIX estavam ligadas também ao
facto de nem todas as Faculdades terem o mesmo dia de ponto, o que
levava os alunos já livres das atividades escolares pavonearem-se aos
restantes, através de desfiles barulhentos que os não deixassem estudar
ou dormir. As latas presas ao corpo servia-lhes como escudo pois
enquanto tivessem em contato com algo metálico, estavam protegidos das
praxes dos doutores.
É com as décadas de 50 e 60 que a agora então Festa das Latas ganha o formato que hoje é tão bem conhecido.
Mas então, o que mudou?
- Em primeira instância, uma das
mudanças mais significativas para quem vivenciou esta tradição há muitos
anos atrás, está no nome. A Latada deixou de ser Latada e passou a ser
conhecida como Festa das Latas.
Eram muitos os que aproveitavam o cortejo paramostrar o seu desagrado perante a conjuntura da época. |
- Atualmente existe um cortejo
único gigantesco, algo que não sucedia no início desta tradição pois era
um cortejo por dia para cada Faculdade. Se assim continuasse, dada a
quantidade de Faculdades, Politécnicos e faculdades privadas que
existem, teríamos Latadas até ao final do 1º semestre.
- Com o magnetismo que a Latada ganhou ao longo dos anos, tornou-se
mais parecida com uma festa comercial uma vez que conta com uma data de
concertos, onde os estudantes bebem mais cerveja que água e onde o INEM,
numa semana, tem mais trabalho que num mês inteiro.
- O dia do
cortejo é agora também sinónimo de batismo. Chegados à margem do
Mondego, os padrinhos usam os penicos transportados pelos caloiros
durante o cortejo para os batizarem com a água do emblemático rio. Este é
também um momento de profunda emoção onde se fazem desejos de
prosperidade para o futuro.
Cortejo |
- O nabo é também hoje um símbolo
para afilhados e padrinhos. Ao contrário do que acontecia antigamente,
são os caloiros que roubam o nabo nos mercados para oferecerem aos seus
padrinhos desejando-lhes boa sorte. Posteriormente, estes colocam o nabo
na pasta e são os caloiros que, durante o cortejo, o vão mordendo até
que reste apenas o grelo para ser atirado ao Mondego.
Eu sou da opinião que é esta adaptação às novas realidades que tem
mantido a praxe viva já que é uma
forma da tradição ser vivenciada pelos
novos estudantes. Nada se mantém inalterado e isso passa também pela
praxe coimbrã pois com o passar do tempo novos costumes se irão criar,
nunca desrespeitando os valores há muito criados porque é graças a eles
que hoje temos tradição para honrar.
por: Patrícia Gouveia
O artigo está escrito ao abrigo do novo Acordo Ortográfico
Sem comentários:
Enviar um comentário