Da raquete à pasta e batina, Inês Bastos encontrou tempo para nos contar como começou a sua jornada no mundo do ténis. Aos 20 anos, a jovem de Oliveira de Azeméis não só pratica desporto, como é estudante do terceiro ano do curso de Jornalismo na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra.
Posts de Pescada – Com que idade começou a jogar ténis e como qual o motivo da escolha deste desporto?
Inês Bastos: Comecei aos 15 anos. A minha melhor amiga estava na altura a seguir o torneio Master 1000 e decidi ver um jogo. “Apaixonei-me” imediatamente pelo Roger Federer e achei a filosofia do jogo fascinante, o facto de se estar sozinho num corte faz paralelismo à minha própria vida, por termos de pensar e lutar por nós e só por nós, dar o máximo e saber que fizemos o nosso melhor para mostrar o que valemos.
PP – O que é que sente quando está em campo?
IB: Já tive duas fases. Antes ficava muito nervosa, porque os meus pais iam sempre ver-me e queria que tudo saísse bem, sentia que tinha de ser perfeito e não podia falhar. Depois comecei a acalmar-me, apesar da pressão e da liberdade que simultaneamente se sente dentro do corte, pois mesmo que se erre, ninguém nos vai dizer que estamos a fazer mal naquele momento, o treinador até te pode estar a “esganar” com os olhos, mas se não olhares para ele, só ouves as críticas no final do jogo.
PP – Com que frequência treina?
IB: Desde que fui operada ao joelho treino menos, mas antes, no verão, chegava a treinar quatro horas por dia. Durante o período letivo treinava duas horas e meia, cerca de três a quatro vezes por semana. Atualmente treino, apenas, aos fins-de-semana.
PP – Quais são as principais dificuldades que sente ao enfrentar adversários diferentes?
IB: A dificuldade está na adaptação, mas ultrapassa-se com a preparação. Num jogo, nós não sabemos propriamente quem vamos enfrentar, porque a seleção é feita por sorteio, mas no circuito em que andamos, começamos a conhecer-nos uns aos outros e acabamos por nos encontrar muitas vezes o que cria uma nova dificuldade, que é a ligação que criamos entre nós. Já me aconteceu ter de jogar num torneio contra a minha melhor amiga, só pensava que se ganhasse, ela ficaria triste. Acabei por ganhar, e enquanto ela ficou feliz por mim, eu só chorava por tê-la derrotado (risos). Mesmo para os treinadores é difícil ver dois dos seus jogadores confrontarem-se, mas é algo que acontece e acaba por ser saudável para a amizade.
Difícil é a adaptação contra esquerdinos, porque sou destra e durante o jogo tenho de pensar para que lado tenho de mandar a bola, visto que tenho mais força na pancada direita, mas não é nada que com treino não se consiga ultrapassar.
PP – Consegue conciliar os treinos com a faculdade?
IB: Desde que vim para a faculdade tornou-se mais difícil. Podia treinar em Coimbra, mas não seria a mesma coisa porque já tenho uma ligação com o meu treinador, que já considero um amigo. Treinei uma ou duas vezes em Coimbra mas o treinador não conhecia as minhas “manias” portanto não me iria sentir à vontade para fazer certas coisas que faço quando treino com o meu treinador. Portanto treino com ele ao fim de semana e o resto do tempo dedico-me aos estudos.
PP – Qual a maior diferença que sente entre a preparação para um jogo e para um exame?
IB: Acho que a única diferença é que se perder um jogo, há torneio na semana a seguir, enquanto que se chumbar num exame, não há propriamente um exame na semana a seguir (risos). Tenho a minha consciência tranquila porque sei que dou sempre o meu melhor, tanto num exame como num treino, já não vou nervosa, a pensar que não vou ser capaz; nisso o ténis ajudou-me bastante.
PP – Acha que faltam iniciativas e locais para a prática do ténis?
IB: Penso que o ténis continua a ser visto como um “desporto para ricos” e não é. Por exemplo, eu estou num clube local que oferece todas as condições, inclusive bolhas para não estarmos a treinar à chuva, visto que é perigoso. Quanto aos locais, acho que há muitos cortes universitários, um pouco por todo o país e nomeadamente em
Coimbra, que estão bem equipados, como há outros locais que não têm tantas condições. Eu nunca senti isso porque onde ia nunca me faltou material, mas sei que há falta de iniciativas por parte de entidades patronais, pois este desporto ainda não está muito divulgado no nosso país, o que faz com que os torneios sejam muito caros, incluindo custos de deslocação, dormida, alimentação, entre outras coisas. Mas quem tiver força de vontade e quiser mesmo aprender, consegue ultrapassar estas barreiras.
PP – Referiu que é perigoso jogar à chuva. Explique porquê.
IB: As linhas do corte de ténis são de um material diferente das do campo de futebol, são mais compactas, à chuva ficam salientes e tornam-se escorregadias. As sapatilhas não aderem e podemos ter lesões graves.
PP – Se tivesse que escolher um lema de vida desportivo e académico, qual seria?
IB: ah…uma vez vi uma entrevista do Roger Federer onde ele disse que “o desporto não forma caracter, revela-o” e eu acabei por tomar isso como lema de vida, porque realmente é numa situação de pressão que uma pessoa revela o que realmente é, se é altruísta, se é egoísta, assim como na faculdade acontece o mesmo.
PP – Sente-se uma Inês diferente quando está em campo?
IB: Claro! Fora do campo sou uma medricas e dentro sinto que sou a dona do mundo (risos). Então se estiver tudo a correr bem e estiverem as pessoas de quem gosto a apoiar-me é uma sensação que não dá para explicar. Dentro do corte tenho o poder de fazer o que quero com aquela bola, o que não se aplica ao meu dia-a-dia fora dele.
por: Fátima Pereira e Marilena Rato
*Artigo escrito ao abrigo do novo Acordo Ortográfico
Sem comentários:
Enviar um comentário