É num recanto de uma superfície comercial da vila da
Benedita, concelho de Alcobaça que encontramos Ângela Vicente. A técnica de
farmácia de 23 anos vê na Parafarmácia VivaPharma que abriu à cerca de dois
meses a oportunidade de mudar e quem sabe melhorar o seu futuro. “Gosto do que
faço e do projecto do qual sou empreendedora mas não está fácil arranjar
trabalho e todos os anos saem mais formados, é uma verdadeira bola de neve que
se alastra e é disso que tenho medo.”, confessa a jovem turquelense que
desempenha também as funções directivas.
Joana
Pestana – Actualmente está a colher os frutos da árvore que criou e cuidou
durante os últimos anos. Conte-me um pouco da história relativa ao seu percurso
académico, do qual está a tirar proveito.
Ângela
Vicente – A minha preocupação sempre foi pensar muito na
prática. Admito que não fui uma aluna brilhante em todas as cadeiras mas apliquei-me
em tudo o que tinha a ver com o meu curso, Farmácia. Foram quatro anos duros,
tinha muito pouco tempo livre e passava o dia quase todo na ESTeSL (Escola
Superior de Tecnologia da Saúde de Lisboa) contudo, quando gostamos vale a
pena. Desde sempre quis trabalhar com o que dizia respeito à parte prática, ao
atendimento e foi nisso que me foquei, até no próprio estágio. Tentei sempre
dedicar-me ao máximo porque tinha noção de que era fundamental e penso que é
graças a isso que hoje estou aqui como directora técnica, tendo conquistado o
meu espaço.
por: Joana Pestana
Técnica de Farmácia Ângela Vicente |
JP
– A sua ida para a universidade sempre foi um objectivo ou foi algo que só surgiu
com o tempo?
AV-
Desde
nova que tive o objectivo de prosseguir nos estudos. Ciências era
definitivamente a minha área e a saúde era o que eu queria. Ponderei opções
desde nutrição a farmácia ou enfermagem, impondo apenas o contacto com o doente
e o gosto que sinto como parâmetros indispensáveis. A ideia de Farmácia veio
apenas quando no 12º ano reflecti conscienciosamente sobre o futuro, o trabalho
e as saídas profissionais. Nessa altura comecei a concentrar-me no que
precisava para ingressar no ensino superior. Informei-me, percebi que conseguia
entrar naquela escola e fiz a minha escolha com base no bom nome, nas condições
oferecidas e na localização.
JP
– Todas esta jornada implicou sacrifícios e com certeza surgiram dificuldades,
como correu?
AV
- Felizmente
os meus pais economicamente sempre me puderam ajudar mas tenho noção de que
mesmo que quisesse trabalhar e se tivesse essa necessidade durante o curso, nunca
o teria feito em quatro anos. Com todo o trabalho e dedicação que o curso
exigiu de mim, fiquei sempre com muito pouco tempo livre. Durante o ano de
estágio, a trabalhar a tempo inteiro era praticamente impossível conseguir
conciliar mais alguma coisa.
JP
– A sua vida foi muitas vezes ponderada em função da realização deste sonho?
AV
– Foi,
mas só às vezes porque sempre consegui conjugar mais ou menos as coisas. Sem
querer deixar de parte as idas a casa ao fim de semana e o tempo com a família
e amigos mais próximos, aproveitava todos os dias da semana para estudar até
tarde e não descansava enquanto não acabasse o que estava a fazer. Nunca
abdiquei daquilo que me fazia sentir bem e feliz por causa dos estudos, se o fizesse
não resultaria.
JP
- Como surgiu a oportunidade de abrir a Parafarmácia?
AV
- Tendo
em conta as dificuldades que passamos hoje em dia e a dificuldade que tive em
arranjar trabalho, surgiu esta oportunidade única. Estive na farmácia Popular
em Turquel mas só temporariamente e após percorrer várias farmácias arranjei
trabalho numa em Alvorninha. A farmácia em causa propunha um estágio
profissional que nunca entrou em vigor e sentido que não era futuro para mim,
analisei outras hipóteses. O meu pai sempre me falou na ideia de eu abrir um
negócio próprio e aí surgiu a ocasião ideal para pensar no assunto. O
Neomáquina dispõe desta zona comercial, estava a criar espaços e tendo em conta
a proposta comecei a avaliar a viabilidade económica. Foi um risco que corremos
considerando a fase que o país atravessa. Não será fácil mas faço-o em prole de
um futuro melhor, espero eu. (risos)
JP
- Em relação ao planeamento, à duração do projecto e às burocracias
envolventes, foi uma fase complicada?
AV
-
Foi menos complicado do que aquilo que eu pensava. Comecei a pensar neste
projecto desde o início do ano, por alto, vendo valores e investimento. Depois
a partir da tomada de decisão andei a analisar preços, investimento, rendas e
comecei a, trabalhar todos os dias para abrir o mais rápido possível. Em termos
burocráticos não foi muito difícil porque já estamos integrados num espaço com
licença e posteriormente tive de solicitar o licenciamento do Infarmed (autoridade
nacional do medicamento e produtos de saúde).
Parafarmácia VivaPharma localizada no supermercado Neomáquina, na vila da Benedita |
JP - Desempenha todas as funções que dizem respeito à edificação deste
projecto empreendedor sozinha?
AV
–
Neste momento tenho um colega que faz comigo o atendimento mas depois toda a parte
de gestão sou eu que faço e farei enquanto conseguir.
JP
– Foi fácil criar este posto de trabalho?
AV
– Sim,
aproveitei a oportunidade e ele está cá a realizar estágio profissional. Visto
que é um período experimental de um ano, vou ver se isto tem viabilidade ou não
mantendo todas a opções em aberto, como por exemplo ter de ficar só eu aqui.
JV
– Como vê a sua profissão e o facto de estar integrada na área da saúde?
AV
-
Eu acho que é muito gratificante. Acho que o sentir que podemos ajudar e contribuir
de alguma forma faz-me sentir bem. Aqui não se vive só aquele dia a dia de
lidar com doenças e problemas que facilmente nos afectam. As pessoas
valorizam-nos pela profissão que temos, respeitam-nos, consideram a nossa
opinião e isso é fantástico.
JP
- Este é um serviço que ao fim ao cabo está ligado às pessoas, por diversos
motivos como acabámos de dizer. No fundo exige um atendimento muito
personalizado, um trabalho profundo e uma aproximação diferente, como é que
isso é?
AV
- É
inacreditável como em dois meses de abertura ao público, já haja clientes que
se fidelizaram, que já entram constantemente por aquelas portas, conversam e pedem
ajuda. Na realidade, essa ligação para mim é que é importante pois não me interessa
só vender, quero que a pessoa vá contente, se sinta bem e pense em voltar.
JP-
Gosta realmente do que faz, como já entendi. Deseja que dure para sempre, podendo
quem sabe expandir o negócio, ou por outro lado, tendo em conta a situação do
país é difícil fazer mais planos ou desenvolver projectos?
AV
–
De momento não tenho outros projectos, estou realizada. Essencialmente aquilo
que eu espero mesmo muito é que o negócio supere a crise porque é aqui que eu
me vejo a trabalhar, acho que se estiver aqui estou bem. Caso isso não se
verifique, considero a hipótese de sair do país por algum tempo. Gosto do que
faço e do projeto do qual sou empreendedora mas não está fácil arranjar
trabalho e todo os anos saem mais formados, é uma verdadeira bola de neve que
se alastra e é disso que tenho medo.
JP
- Até agora há algum arrependimento baseado nas escolhas que foi tomando?
AV
- Não
me arrependo de nada do que fiz. Tenho noção que sei fazer aquilo que aprendi,
sinto-me à vontade e pretendo aprender mais, sou uma pessoa interessada e se há
uma coisa nova vou ver ou ler pois agrada-me imenso saber aconselhar e ajudar
da melhor forma. Até hoje não me arrependo de ter aberto o espaço, só espero
que estas tenham sido as melhores decisões para mim.
JP
– Tenciona apostar mais na sua formação?
AV
- Eu
sou sincera, não vejo por exemplo um mestrado como uma necessidade, talvez por
estar num negócio próprio neste momento e isso também não me deixar muito
templo livre. Ainda assim, sinto sempre necessidade de aprender, dou mais
importância a formações e eventualmente uma pós graduação num tema que eu sinta
que não estou tão à vontade.
JP
– Apesar da novidade que é o seu projecto, quais foram as principais
dificuldades e talvez mesmo preocupações?
AV
- As
minhas principais preocupações são pagar as contas e por vezes ver os dias a
passar não é fácil. Sinto imenso a responsabilidade de pagar à pessoa que aqui
trabalha comigo. Em relação ao resto não tenho tido grandes obstáculos nem me
tenho deparado com situações que não consiga resolver. Sinto realmente é o peso
da responsabilidade e as minhas verdadeiras preocupações são se isto vai dar,
se vai ser um sucesso ou não.
JP
– Como é que se sente aqui quando olha para o que conseguiu?
AV
- Sinto-me
principalmente realizada. Esta é a minha área, gosto disto, gosto do
atendimento ao público, de trabalhar não só a parte que diz respeito aos
medicamentos, como à cosmética, aos suplementos, às vitaminas, à parte de bebé
e ao contacto com diferentes faixas etárias. É muito bom.
Atendimento ao público |
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