“Em
Portugal é sempre a mesma coisa, no estrangeiro é que é bom.” Cresci a ouvir
esta frase, ainda hoje a ouço. Todos, de uma forma ou de outra, a aplicam ao
que mais lhe convém. Estejamos a falar de política, cinema ou economia. E entre
tantos temas, lá aparece a música portuguesa perdida numa destas conversas. Sim
porque a música nacional não é nada além do fado. Pelo menos, é desta forma que
sinto que a vêem. Perdão, que a ouvem!
Somos
o pequeno país da península, para muitos, não passamos dos “bimbos” com bigode,
da ponta Europa que sabem receber turistas e continuar a dizer “és francês? Ena!
Na França é que há boa música.” Tudo isto é mentira, errado e triste. Portugal,
é musicalmente rico! Se há má música em Portugal? Sim, bastante. Mas isso
acontece em todo o lado não é?
A
qualidade e diversidade da música portuguesa que actualmente se ouve, é
simplesmente notável, basta ir á procura dela. Temos muito que descobrir. A
ideia de que a nossa música é toda igual ou anda toda á volta do mesmo, é errada.
Não querendo deixar para trás os grandes nomes de toda a história da música
nacional, acho que hoje estamos mesmo muito bem. Nos últimos anos, a abordagem
à música portuguesa tem vindo a mudar, os artistas estão mais destemidos, as
línguas mais afiadas. Há mais vontade de experimentar coisas novas, introduzir
novos instrumentos, inventar novas vertentes musicais e continuar com as que
sempre cá estiveram. Os nossos músicos perderam o medo, e algo fantástico
aconteceu.
Enquanto
escrevo estas linhas, vou comendo “acordes com arroz”, dos Doismileoito. O
“super” youtube trouxe-me aqui. Encontrei boas guitarradas, cheias de fibra e
harmonia com letras simples e bem escritas em português, mensagens
interessantes.Talvezseja este o novo pop-rock português, já descoberto por
muitos, mas desconhecido para outros tantos. E não, não é mais do mesmo.
A
minha viagem pelo famoso site dos vídeos parou há pouco no “Palco do tempo” de
Noiserv. Uma música conhecida por entrar na banda sonora do filme/documentário
José & Pilar. Talvez por isso, e felizmente, menos ignorada pelo público em
geral. É de facto um músico inovador. Um homem sozinho em palco, tocando e
gravando um instrumento de cada vez, o som da sua guitarra, do seuxilofone, chegando
até a usar um acordeão. Pode parecer até confuso ler isto, porque a música
ouve-se, não se explica. Segundo as fontes de quem tem o “dom” dos rótulos,
Noiserv é um músico indie/alternativo.
Os
exemplos que referi (Doismileoito e Noiserv) são apenas dois dos, entre muitos,
valores da nova música portuguesa. A revolução musical portuguesa tem-se vindo
a revelar em todos os génerosmusicais.Seja com o gritar dos instrumentos ou com
o poder das palavras, não nos limitamos mais apenas àsbaladas, ao fado e ao rock
dos Xutos. Não precisamos de sair do nosso pais para encontrar boa música seja
ela electrónica, rap, indie ou até mesmo progressiva, sem esquecer o fado e a
música rock popular dos Diabo na Cruz. Portugal está a crescer, e os nossos
artistas também.
Cada
vez mais têm vindo a surgir festivais com o intuito de promover e divulgar a
música Portuguesa. O que é bom, já que as rádios, na sua generalidade, não
fazem o seu papel. Muitos são os músicos que continuam no anonimato, ou com um
público muito pequeno. Não que não tenham talento, não têm é dinheiro, ou ainda
ninguém reparou que já existem no youtube. É nestas alturas que penso, bendita
sejas internet. Está na altura de abrirmos mais ouvidos e começar a dar mais
valor ao que por cá temos.
por: Marcelo Carvalho
*Este artigo não foi escrito ao abrigo do novo Acordo Ortográfico
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