Portugal
tem uma cultura muito rica e interessante mas também algumas excentricidades
que, como estrangeira, tenho dificuldade em compreender. Com o tempo acabei por
descobrir a razão de ser de certos hábitos estranhos dos portugueses (como o
lavar do chão com a mangueira quando está a chover). No entanto, existe uma
tradição que realmente me mistifica: a praxe.
Ao
chegar a Coimbra pela primeira vez, encontrei-me a questionar (como decerto
muitos outros estrangeiros) se não teria apanhado o comboio errado. Havia uma
quantidade muito suspeita de pessoas vestidas como personagens de Harry Potter
na cidade. De facto, os “doutores”, quando vestem o traje académico, parece que
acreditam que têm poderes mágicos de controlo sobre os caloiros (ou, se
quiserem, “muggles”). Mas, para a minha desilusão, não têm varinhas nem poções
mágicas para lançar feitiços. Usam apenas o poder da psicologia e da pressão de
grupo.
Se
observarmos mais de perto, porém, a Coimbra académica já parece mais o País das
Maravilhas: pessoas a passear de pijama na rua, a “andar de quatro”, a rebolar
no chão, a levar com farinha, ovos e chuva torrencial… Isto só pode ser um
daqueles sonhos esquisitos, não? Mas essa nem sequer é a parte mais estranha. O
que leva isto tudo a um nível completamente surreal, para quem vem de fora, é o
facto de que quase todos gostam da experiência (e até imploram por mais). Basta
perguntar a qualquer aluno universitário como foi a praxe no seu ano. A
resposta típica é histórias arrepiantes de joelhos despedaçados, humilhações
públicas e gripe, terminada com “mas foi o máximo!” (!?) Ora, ou algo
fundamental me está a escapar, ou estamos perante uma séria pandemia de
sadomasoquismo…
Pensando
que o problema talvez fosse meu, decidi experimentar um dia de praxe.
Resultado: passei grande parte de uma manhã sentada com vários colegas
desconhecidos a ouvir outros alunos mais velhos a gritar-nos obscenidades. E
não podíamos conversar, portanto o grande objectivo de fazer amigos falhou
redondamente. O resto do tempo, usei-o a tentar passar despercebida enquanto
não cantava músicas sujas com o resto da multidão (não estava com vontade de
debater os meus princípios com os chefes da praxe). Depois, quando me
perguntaram se tinha gostado e respondi que não, não entenderam porquê. E, para
que conste, sou anti praxe, tenho muitos amigos e, se quiser, ninguém me pode
impedir de usar o traje académico.
Concluindo,
alguém me pode explicar o conceito de “diversão”, por favor? É que a minha
definição deve ser muito diferente. Para mim, a praxe é degradante e
assemelha-se demasiado ao “bullying” para o meu gosto. Mas vá, perdoem-me, não
sou de cá. Estrangeiros, vá se lá entendê-los!
por: Amy
Gois
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