Maria Lurdes
Fonseca é costureira há 23 anos, na cidade de Estarreja. Apesar de ter notado
grandes modificações na sua profissão, ao longo dos anos, Lurdes garante gostar
do seu trabalho “sei que esta profissão já não é o que era. Houve muitas
mudanças. Porém, adoro ser costureira e não trocava este trabalho por nada. ”
Costureira Maria Lurdes Fonseca |
Atualmente existem inúmeras profissões em vias de
extinção, causadas por vários motivos e com consequências prejudiciais para a
sociedade. Permanecem, também, as profissões adaptadas, que sofreram muitas
mudanças ao longo dos anos. A profissão de costureira é uma delas.
Maria Lurdes é costureira desde dos seus 26 anos de
idade. Escolheu esta profissão pelo enorme entusiasmo que sente ao cortar, coser,
alinhavar o vestuário. “Aprecio imenso a textura dos tecidos. Sinto uma enorme
alegria e vontade de fazer roupas”, diz.
Lurdes era responsável por um vasto conjunto de
funções. Era uma costureira emblemática, com imensos clientes. “uns clientes
chamavam os outros. Eram dias e dias seguidos a trabalhar, para conseguir
satisfazer as necessidades dos meus clientes. Gostavam do meu trabalho.” revela Lurdes,
com ar nostálgico.
Porém, com o passar dos anos, e sobretudo após a
Revolução de 25 de Abril de 1974, o caso mudou de figura. As costureiras
passaram a ter uma função diferente à que tinham até então.
Atualmente, Lurdes não faz mais que simples
arranjos, devido sobretudo, ao maior poder de compra dos cidadãos, que preferem
comprar roupas já feitas, em lojas, do que mandá-las fazer. Em qualquer loja,
existe uma enorme variedade de vestuário ao dispor dos clientes, o que lhes
desperta um maior interesse, devido, essencialmente, à poupança de tempo.
Profissões
extintas
Aguadeiras |
Ao longo dos
anos, são várias as profissões que se têm extinguido, por imensas razões.
Nos anos passados, era comum ver-se as aguadeiras, a
dar/vender água fresquinha na rua, os alfarrabistas, que vendiam livros de
histórias, as lavadeiras, a lavar as roupas, os cauteleiros, a vender cautelas/lotarias
na rua, ou até mesmo, o engraxador, que adorava engraxar os sapatos das pessoas
que passavam.
Todas estas profissões, outrora, eram emblemáticas e
bastante atrativas e recorridas. Hoje em dia, estes ofícios só são reconhecidos
pelos mais velhos, que os relembram, com saudade.
Profissões
adaptadas
Cauteleiro Joaquim Silva |
Por outro lado, existem algumas profissões, cujas
funções foram alteradas. Os profissionais, para manter a subsistência dos seus
ofícios, tiveram que adaptar as suas funcionalidades à sociedade.
A costureira deixou de fazer roupas para fazer
arranjos. O sapateiro, deixou de confecionar calçado adequado aos pés de cada
cliente, para passar a fazer consertos nos mesmos.
Causas
e consequências
As principais mudanças que se avistaram nas
profissões foram, sobretudo, após a “Revolução dos Cravos” a 25 de Abril de
1974.
A vida profissional antes do 25 de Abril era muito
diferente da atual. Era uma sociedade fechada, na qual valorizavam pouco o
ensino e a formação dos cidadãos. Salazar enaltecia a agricultura, ao contrário
da indústria, que era pouco elogiada e empregada.
Sapateiro Manuel Oliveira |
A Revolução do 25 de Abril trouxe várias mudanças
para a sociedade. Para além da liberdade de expressão e política, verificou-se,
ainda, um grande surto industrial com a abertura de grandes empresas e
superfícies comerciais que, associado ao maior poder económico, levou à
desvalorização ou adaptação das profissões antigas.
Surgiram novos valores, como a independência,
consumismo e culto do prazer, que se apoderaram da população e alteraram os
seus hábitos de consumo.
Os jovens, atualmente, preferem tirar um curso
académico para exercerem uma profissão com rendimento elevado. Neste sentido,
não apostam nas profissões tradicionais por considerarem que não dão futuro.
Por consequência, leva à extinção de certas profissões ou à sua adaptação.
por: Liliana Pastor
*Artigo escrito ao abrigo do novo Acordo Ortográfico
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