Jornalismo e Profissão
Hoje em dia, ser jornalista
é ter coragem de dizer a verdade num mundo repleto de mentiras. É querer saber
mais e transmiti-lo aos outros, é um dar e receber constante. No entanto, ser
jornalista também é deparar-se com a enorme barreira que é o desemprego visto
que o jornalismo é uma das profissões com menor taxa de empregabilidade em
Portugal.
Eduarda Macário, jornalista
e sub-diretora do Diário As Beiras, dá-nos a conhecer não só o seu encontro inesperado
com o jornalismo como também os prós e contras desta profissão.
“Como acontece – ou devia
acontecer – em todas as profissões, ser jornalista é, acima de tudo, uma
paixão. Paixão pela escrita, pelo contacto com as pessoas, pela vontade de
formar e informar os cidadãos, pela procura de histórias e pela capacidade de
dar voz a quem, normalmente, não a tem. Paixão pela coragem de denunciar o que
está mal de forma independente e assertiva.
Estes valores – ou
princípios – são comuns aos profissionais e devem nortear a aprendizagem de
todos os jovens estudantes nas áreas de jornalismo/comunicação social.
Costumo dizer a brincar que
foi o jornalismo que me descobriu e não o contrário. Licenciada em Filosofia, e
por isso, professora numa altura em que os cursos de Letras começavam a ter
dificuldades de colocação no mercado, em 1987 respondo a um concurso no DIÁRIO
DE COIMBRA, o único diário na cidade. E fui das primeiras mulheres a entrar
como jornalista naquele jornal. Tive sorte. Descobri a mais bonita profissão do
mundo que me realizou ao longo destas quase três dezenas de anos, em que muita
coisa mudou. Umas para melhor, com as mulheres a descobrirem e a afirmarem-se
cada vez mais numa profissão que os vários poderes aprenderam a respeitar e a
temer, até.
Outras, seguindo o percurso
vivido em quase todas as áreas de atividade, menos positivas, nomeadamente, o
aumento do número de cursos em jornalismo e comunicação social que acabou por
criar uma grande oferta no setor para a qual o país não tem capacidade de
resposta. O que acabou por contribuir para colocar no mercado mão-de-obra
barata (ou gratuita) que as empresas vão usando (ou explorando) segundo as suas
necessidades mas sem criarem condições de continuidade, nem perspetivas de
futuro.
Mas não só. A luta pelas
audiências (nas televisões) e pelas tiragens (nos jornais), com vista à
conquista dos anunciantes, foi acentuando graves distorções no tratamento da
atualidade e na utilização dos critérios noticiosos. Ver a informação como um
serviço que é preciso vender depressa e bem, tem levado ao predomínio não só do
sensacional, mas também do curto e simples, do facilmente digerível pelo leitor
ou espetador. Felizmente – ou não – estas questões não se colocam de forma
tão incisiva nos jornais regionais – cuja realidade eu conheço bem. Uma
realidade marcada pela pluralidade e onde todos acabamos por saber fazer um
pouco de tudo e escrever sobre todos os assuntos. Uma questão que tem sido
discutida por vários investigadores e que reconheço, tem coisas boas e menos
boas.
Destes 27 anos de profissão,
os primeiros quatro foram vividos no DIÁRIO DE COIMBRA, três anos no semanário
AS BEIRAS que, entretanto se transformou em DIÁRIO AS BEIRAS (há 20 anos).
Considerando-a uma das profissões mais bonitas e completas, lamento, no
entanto, que o presente e o futuro não sejam risonhos, quer para os
profissionais, quer para os jovens estudantes. Se por um lado, não aparecem
novas empresas no setor que criem resposta para as centenas de jovens que
anualmente concluem os seus cursos no ensino Politécnico e Universitário, por
outro o desenvolvimento de novas tecnologias, das redes sociais (etc) levou ao
aparecimento de outros meios alternativos e abriu as portas ao cidadão comum. É
claro que as transformações operadas nos últimos anos nos media e no jornalismo
têm como eixo central o fator económico. Mas não podemos esquecer nem
desvalorizar a importância da evolução tecnológica.
Casada e com uma bebé de um mês quando entrei na
profissão, sem dúvida que as coisas não foram fáceis. A ideia de que um bom
jornalista é um pouco boémio, que gosta da noite e que não tem horários não é
de todo descabida e nem sempre compreendida por quem nos rodeia. Mas a verdade
é que a notícia não tem hora marcada para acontecer e o controlo dos horários
não é nada fácil. Não sendo a causa primeira, é claro que também contribui para
que haja muitos divórcios nesta profissão. Eu sou um exemplo. O que, ainda
tornou as coisas mais complicadas, há 23 anos que sou mãe e pai, jornalista a
tempo inteiro e fui subindo alguns degraus dentro da estrutura do DIÁRIO AS
BEIRAS. Comecei por ser responsável por uma secção do jornal (Região), passei a
sub-chefe de redação, chefe de redação e hoje, sub-diretora.
É claro que, quanto mais se
sobe na hierarquia, maior é a responsabilidade e outros desafios nos são
colocados, como a capacidade de trabalhar – e até liderar - a equipa.”
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