Numa era marcada pela crise económica e social que se vive no país e com a descrença dos jovens, estudantes e trabalhadores, na possibilidade de ter um futuro que lhes permita viver “por cá”, Teresa Pinho, de 18 anos e estudante do 1ºano do curso de Medicina da Universidade De Coimbra, dá-nos uma ideia daquilo que sempre teve e tem em mente em relação ao seu futuro.
Porquê Medicina?
A resposta mais óbvia seria porque
gosto de ajudar os outros, de me sentir útil. Não vou negar que isso pesou na
minha escolha. A ideia de que a minha profissão pode fazer uma enorme diferença
na vida de milhares de doentes que passarão por mim ao longo do meu percurso
como médica é motivadora. Mas para além disso, o que também me levou a escolher
estudar Medicina foi o meu fascínio pela complexidade do corpo humano, sabendo
que nenhum curso me deixaria tão próxima de o conhecer como este. Para além
disto, queria tentar superar-me a mim própria, perceber até onde posso chegar,
num curso que, como sabes, é extenso e que envolve dedicação e muito estudo.
Dada a conjuntura política e económica que país
enfrenta, considera que essa foi a melhor decisão que podia ter tomado? Porquê?
Na verdade, a
situação político-económica do país não se revelou muito importante na minha
decisão. Sou da opinião, e partilho-a diversas vezes quando questionada, de que
devemos tentar, ao máximo, escolher a nossa profissão com base nos nossos
gostos, convicções e desejos e só depois avaliar essa escolha consoante a
realidade que nos envolve. Nessa medida, escolhi Medicina pelas razões que
referi, consciente de que a situação do país em nada muda a necessidade de ter
bons profissionais e eficiente sistema de saúde.
Acha que a área da saúde, ao contrário de muitas
outras, é uma área que lhe conseguirá garantir um futuro estável quando
ingressar no mercado de trabalho?
Sei que a área da saúde está, atualmente, bastante lotada. As políticas
que têm sido postas em prática são de redução de custos, com cada vez menos
funcionários a realizarem o trabalho que, outrora, era realizado por um grupo
maior de profissionais. No entanto, como disse anteriormente, acredito que haja
sempre espaço para um bom profissional de Medicina. Claro que não tenho
esperanças de um futuro estável, até porque a área de saúde nunca é estável.
Exemplificando, neste momento, tal como os professores, muitos médicos não são
necessários nos locais onde residem. Passo a explicar, há uma maior procura de
profissionais de saúde no interior do que no litoral, tendo sido chamados,
inclusive, médicos reformados a muitos centros de saúde. Posto isto, não espero
facilidades quando ingressar no mercado de trabalho, mas espero oportunidades
para mim e para todos os meus colegas.
Pondera
exercer atividade cá em Portugal ou tem perspetivas futuras que passam pelo
estrangeiro?
Por um lado, eu quero mesmo muito exercer no meu país, ser
útil ao meu país. Por outro lado, tenho imensas expectativas de que o meu
percurso a nível de aprendizagem, bem como de voluntariado, passe pelo
estrangeiro. Como pessoa que viaja todos os anos, sei o quão importante é
contactar com realidades diferentes. Não vejo forma de um médico e, acima de
tudo, de uma pessoa crescer e melhorar se só conhece a sua realidade. É nessa
medida que quero que o meu futuro passe pelo estrangeiro, para ajudar onde seja
mais necessária do que cá, bem como para aprender e trazer todo o conhecimento
que adquirir para o meu país.
O que mudaria no sistema de saúde em Portugal? Porquê?
Antes de mais, penso que o acesso ao ensino de Medicina em
Portugal é demasiado exigente, muito virado para as famosas médias de
candidatura, com uma série de fórmulas que, a meu ver, são muito pouco
reveladores do trabalho e talento que alguém possa ter para exercer Medicina.
Começava por mudar esse aspeto. O Reino Unido, por exemplo, tem um sistema
completamente diferente, com o recurso a entrevistas e testes de admissão.
Penso que a escolha de quem seria ou não melhor profissional iria mais de
encontro à realidade, do que olhando somente para as médias. Relativamente ao
sistema de saúde em si, apesar de perceber que, durante estes últimos anos,
tenham sido extremamente necessários certos cortes, não consigo conceber uma
sociedade onde existem cidadãos que estão horas numa fila para obter uma senha
que lhes dá acesso a um exame e, ainda assim, não conseguirem, ou faltarem
fármacos a algum paciente por diminuição do seu poder de compra. Penso que a
mudança devia passar por, e com os escassos recursos que temos, organizar o
sistema de modo a que todos tenham igual acesso à saúde.
Quais as características que considera fundamentais para se
ser um bom profissional na sua área?
Acho que, para além de possuir um conhecimento extenso e
necessariamente sempre atualizado, um médico deve também agir como pessoa que,
efetivamente, é. Para tal, penso que a qualidade de um médico passa por valorizar
sempre a relação com o paciente, permitindo ao máximo que o doente se sinta bem
em ambiente hospitalar.
Espera um dia vir a ser uma referência no mundo da
Medicina?
Sinceramente? Não penso muito em ser uma referência. Estou
ainda a iniciar o meu percurso académico e ainda a tentar perceber qual será o
meu papel no mundo da Medicina. Sei que quero aprender o mais possível, com o
maior número de pessoas e, com isso, ajudar o maior número de doentes. Se me
destacar? Melhor. Mas penso que qualquer profissional de saúde que exerça com
gosto e vontade já é uma referência para quem é tratado.
Márcio Pereira
(20140112) [Grupo 2]
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