São muitos
aqueles que adormecem com vista para o céu de Coimbra e acordam na calçada
portuguesa. São muitos aqueles que fazem do banco de jardim a sua casa e o
Mondego a sua janela. São muitos aqueles dos quais a calçada já sentiu as suas
lágrimas e os seus corações. Eles são pessoas. São seres humanos. Fogem dos
flash´s dos turistas e dos curiosos. Pedem na rua de cabeça baixa. Sentem
vergonha. São sem-abrigo.
Nem todos os
que vêem param. Nem todos os que fogem têm medo. “Acredito que as pessoas
quando passam na rua discriminem e não consideram os sem abrigo como sendo
parte da sociedade” diz-nos o técnico Tiago Ferreira da Associação Integrar
(trabalho que o preenche à cerca de três anos). Nem todos assumem o que os
atormenta, mas existe quem se preocupe. Existe quem queira fazer, por mínimo
que seja, algo de bom por estes seres humanos. Entre os que querem ajudar temos
o nome de várias instituições distribuídas pela cidade de Coimbra. Todos os
dias há uma carrinha a percorrer as ruas da cidade, desde locais perto da Praça
D. Dinis até outros locais identificados, quer pelos cidadãos, quer pelas
instituições. Todos os dias da semana há uma instituição nas ruas da cidade,
sendo que durante a semana há várias instituições com equipas na rua, a instituição
Anajovem, a associação Integrar, a Câmara Municipal de Coimbra (Divisão de Ação
Social e Familia), o Centro de Acolhimento João Paulo II, a Cruz Vermelha
Portuguesa, a Associação Todos pelos Outros e a Instituição CASA. “As equipas
de rua já funcionam há mais ou menos dez anos”– Tiago Ferreira. Este percurso tem
início às 21:30 horas e pode prolongar-se até às doze badaladas que soam dos
sinos das capelas e das igrejas de Coimbra.
A Associação
Integrar, sediada na Rua Do Teodoro junto ao Estádio Cidade de Coimbra, no âmbito
do projecto de ajuda aos sem-abrigo, tem a preocupação de implementar rotinas
de passagem para a distribuição de cobertores e alimentação. “A população alvo
da associação são maioritariamente pessoas desfavorecidas em situação de sem abrigo
e/ou com problemática de adição” refere Sara Teixeira. A instituição, para além
dos giros noturnos e diurnos, tem ainda um “centro de acolhimento familiar”
mais direcionado a famílias carenciadas, “um pronto a vestir no pólo de
formação das lages” onde os mais necessitados podem recorrer sem qualquer custo.
Oferece ainda um “centro de acolhimento que acolhe doze Homens e acompanha mais
vinte e cinco Homens em regime ambolatório” explica a técnica Sara Teixeira da
Associação Integrar. O principal objectivo é a intervenção tanto a nível
psicológico como social.
Esta
Associação conta com setenta a oitenta voluntários distribuídos pelos diversos
projectos da associação. “Para ser voluntário é muito simples. Existem duas
maneiras: ou dirigem-se à sede da Associação Integrar e preenchem o formulário
de voluntariado ou então preenchem o mesmo formulário presente no site da
instituição e mandam para o e-mail da mesma.” – Sara Teixeira. Os voluntários
poderão ser chamados de imediato ou quando a associação sentir a necessidade de
os chamar, tendo em conta a disponibilidade horária apresentada pelo mesmo. “A
primeira coisa que os voluntários fazem em ambiente de giro é ocuparem os seus
postos pré-definidos e começarem a distribuição de bens alimentares”- Tiago Ferreira.
A intenção de ajudar alguém através do voluntariado, de doações alimentares ou
de vestuário é necessária ao longo de todo o ano, no entanto Sara Teixeira
diz-nos que, “As épocas festivas são as alturas em que notamos, infelizmente,
que a maior parte das pessoas se lembra de ajudar. É nessa altura que há mais
procura tanto pela imprensa para fazer reportagens e pelos cidadãos para fazer
voluntáriado. Lamentavelmente acontece que existem alturas do ano em que é
dificil termos os bens necessários para distribuir e, por exemplo, no natal
passado houve uma abundância exagerada de bens distribuídos”. Mesmo com a
exagerada afluência de bens materiais, a associação tenta “juntar todos os
utentes na Quinta dos Olivais durante o dia para promover as relações entre
eles”– Tiago Ferreira. Esta é uma iniciativa da associação que tem como
objectivo mostrar que o Natal é e deve ser para todos e que ninguém está
sozinho. A familia é insubstituível mas o carinho que recebem atenua esse
sentimento de perda e de solidão.
A baixa de
Coimbra é sem dúvida o maior palco destes que são os familiares da calçada
Portuguesa. É junto ao Mondego e na zona da Estação Nova que muitos se fixam.
Esta realidade faz principalmente parte da vida de muitos adultos, reformados e
inválidos que todos os dias tentam sobreviver. No entanto, existem jovens que
passam por estas situações por questões de necessidade ou por rebeldia. A fome,
o frio e a solidão não são as únicas complicações da vida destas pessoas, que muitas
vezes são atraiçoadas pelas dependências.
Na
quinta-feira, a Associação Integrar saiu à rua, à semelhança de todas as
semanas. Eram cerca de 21:30h quando a carrinha da associação saiu das suas
instalações com rumo à zona da portagem, mais concretamente ao hotel “Astória”.
Em representação da instituição havia dois profissionais técnicos, duas
voluntárias e Maria Garcia, estudante de
Comunicação Social da Escola Superior de Educação de Coimbra. Chegaram não só
recheados de comida para distribuir como também de carinho para dar. “A
primeira coisa que fazemos quando chegamos ao local de encontro é cumprimentar
as pessoas e saber se alguém precisa de apoio tentando perceber se existe algum
tipo de problema com os utentes que acompanhamos”, diz-nos Tiago Ferreira. “É
gratificante saber que um simples “boa noite!”, um sorriso e uma refeição
quente podem fazer a diferença na vida destas pessoas que entre sorrisos e
apertos de mão se divertiam sem pudor. Ali eles sabem que estão bem. Estão
seguros e nada de mal lhes vai acontecer.” diz Maria Garcia. Sentaram-se a
conversar e por ali ficaram cerca de meia hora. Ao todo eram cerca de trinta e
cinco pessoas das quais o técnico Tiago Ferreira apontou “os nomes e eventuais
problemas que possam existir”. Reuniram-se mais cedo, meteram a conversa em dia
e assim que a carrinha da associação chegou, fizeram fila para recolher a sua
refeição.
“Todos os dias,
nós e as restantes instituições da Cidade, ajudamos cerca de setenta a oitenta
pessoas que se deslocam ao nosso encontro com grande afluência na primeira
paragem do nosso percurso que é no hotel «Astória»”. Sara afirma ainda que
“este projecto não é movido apenas pela felicidade que sentimos ao fazer parte
dele mas sim pela possibilidade de intervir para ajudar e fazer alguma coisa
diferente pelos outros“. Para estas pessoas é sem dúvida o momento mais
esperado do dia.
Grupo 8
Maria Garcia
Cristiana Barreto
Rafael Simões
Rubina Teles
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