Tânia Santos, jovem de 23 anos,
concluiu este ano a licenciatura de Língua Gestual Portuguesa na ESEC. Iniciou
esta etapa com ansiedades e dúvidas, mas tudo passou assim que teve o primeiro
contacto com esta língua. Hoje conta-nos como a sua experiência foi essencial e
como a sensibilizou para a forma de ver a Língua Gestual e a comunidade surda.
Quando se candidatou à Universidade,
o curso de Língua Gestual Portuguesa foi a sua primeira opção. O que é que
despertou o seu interesse?
Antes
de entrar no Curso de Língua Gestual Portuguesa, entrei na licenciatura de Comunicação
Social em Viseu. Matriculei-me, um pouco por insistência de alguns familiares,
mas não era de facto aquilo que eu queria. Então passadas duas semanas,
desisti. Fiquei esse ano lectivo em casa, a reflectir sobre o que realmente
queria para a minha vida. Durante esse período de tempo, falei com algumas
pessoas, fiz algumas pesquisas na internet ao mesmo tempo que ia fazendo uma
lista com possíveis cursos, aqueles que me despertavam maior interesse e
aqueles em que eu me imaginava a trabalhar no futuro. E foi sem dúvida a Língua
Gestual que me despertou maior curiosidade. O facto de aprender uma língua
nova, de conseguir comunicar com pessoas surdas, aquela sensação de estar a
falar com alguém e mais ninguém à minha volta perceber. Conseguir “falar” com
as mãos e “ouvir” com os olhos foi, de facto, algo que despertou muito o meu
interesse. Deu-me vontade de querer aprender mais sobre esta língua e esta
comunidade.
O curso atingiu as expectativas que
tinha em mente?
Quando
comecei as expectativas eram realmente muito elevadas, os receios eram alguns
também porque tudo era novidade, as pessoas, a escola, a cidade, a forma de
comunicar. Mas sim, de uma forma geral o curso superou as minhas expectativas. Apesar
de que ao longo dos anos fui-me apercebendo de algumas coisas que poderiam ser
alteradas para que o curso melhorasse. Ao longo dos meus três anos de
licenciatura, o momento alto foi mesmo quando comecei a conviver com a
comunidade surda, quando comecei a fazer amigos surdos, quando ia tomar café
com eles. Foi aí que tudo começou a fazer muito mais sentido dentro de mim.
Qual era a ideia que tinha da Língua Gestual antes do primeiro contacto?
Bem…a
ideia inicial era que tudo era demasiado complicado e complexo. E é.
Inicialmente achava que era algo impossível de se aprender e paralelamente a
isto achava e ainda acho que é uma língua fascinante, talvez a mais fascinante
de todas. Acho mágico poder comunicar com as mãos. Expressar qualquer tipo de
sentimento através dos gestos. A ideia que eu tinha antes de saber o que quer
que fosse sobre esta língua já era uma ideia positiva, claro que quando comecei
a adquirir conhecimento esta ideia reforçou ainda mais.
O aluno é quem escolhe o local onde pretende estagiar, e por vezes não corre
como esperado. A sua experiência de estágio foi positiva?
O
estágio foi uma experiência fantástica. Foi poder pôr em prática todos os
conhecimentos adquiridos ao longo de todo o curso. O experimentar “ser
professora”, foi uma experiência bastante positiva.
Pretende trabalhar na área?
Sim,
trabalhar na área é um dos meus objectivos, se assim o conseguir.
A Língua Gestual Portuguesa não é
de aprendizagem obrigatória. Na sua visão, esta língua deveria ser ensinada desde
a entrada na escola, não só à comunidade surda mas também aos ouvintes? E pelo
seu contacto com a comunidade surda, consegue dizer qual a visão deles em relação
a esta situação?
Sim,
era muito importante que a Língua Gestual fosse leccionada como é outra língua
qualquer. Seria uma grande forma de inclusão, por exemplo, um menino surdo ir
para a escola e todos os colegas conseguirem comunicar com ele. Acho que era
importante também para uma abertura de mentalidades, da própria sociedade.
Claro que este passo para a comunidade surda seria muito importante. É algo
para que todos lutam.
Suponho que ao longo destes anos tenha convivido com pessoas surdas. Como é que
elas lidam com o obstáculo da surdez? Sentem-se, de alguma forma, excluídas?
Sim.
E é normal que isso aconteça. Especialmente nos serviços públicos, a própria
televisão onde muitos canais não têm interpretação, apesar de já ser algo que
está a mudar. Aos poucos, mas está a mudar.
No dia 15 de Novembro foi celebrado o Dia Nacional da Língua Gestual Portuguesa.
Acha que hoje em dia a população ouvinte dá a devida importância e o devido
valor à Língua Gestual e à comunidade surda?
Os
ouvintes ainda têm alguma dificuldade em aceitar as minorias e é por isso que
estas sentem dificuldade em integrar-se na sociedade. Porque tudo é feito e
pensado para as maiorias e assim como é natural, acaba por não se conseguir
integrar todas as pessoas.
Inês Santos
Grupo 9
Sem comentários:
Enviar um comentário