“Não, eu não sou
fotógrafo. Eu faço fotografias”
Autoria: Nuno Ramos
Nuno, sendo que a tua profissão não é
fotógrafo, conta-nos como surgiu a fotografia na tua vida?
Nestes
últimos anos tenho lecionado a disciplina de Ciências Naturais em várias
escolas do país e foi no ano de estágio que surgiu a experiência de fazer
algumas fotografias sobre atividades que os alunos faziam na escola e acho que
foi mesmo aí que surgiu o gosto pela fotografia. Comprei a minha primeira
máquina e as primeiras fotografias que fazia era a nível da natureza. Só
posteriormente é que me “apaixonei” por fazer auto-retratos nos quais tentava
expressar algumas emoções, usando até o meu próprio corpo para fazer diversas
fotografias.
Neste
momento continuo a dar aulas e apenas nos tempos livres é que faço alguns
trabalhos de fotografia. Ultimamente, mais ao nível de fotografia de eventos:
casamentos ou batizados.
Nesta
área apenas tive formação de edição de fotografia e tudo o que tenho feito até
hoje, considero autodidata. Os meus trabalhos são realizados à base de
experiências e inspiração de outros fotógrafos, sendo que o que eu faço é
tentar criar as minhas fotografias, os meus próprios trabalhos.
Qual é o teu objetivo com a
fotografia?
Costumam-me
perguntar “então, mas és fotógrafo?” e eu costumo dizer “não, eu não sou
fotógrafo…eu faço fotografias”. E isto, porquê?! Porque eu não tenho qualquer
formação na área, a não ser a que já referi, portanto, não me considero
fotógrafo. Considero-me sim uma pessoa que faz fotografias, que fotografa
momentos e que depois através dos resultados que obtenho, tento “passar” alguma
coisa para o “outro lado” e sim, normalmente as pessoas gostam dos meus
trabalhos.
Consegues definir o teu estilo
fotográfico?
Eu
não considero que tenha um estilo definido, embora as pessoas que olham para as
minhas fotografias vêem nelas um determinado estilo. Eu, pessoalmente, não o
consigo ainda encontrar. Procuro muitos trabalhos e inspiro-me em fotógrafos de
fotografia conceptual, portanto, fotografia que tenta, quando olhamos para ela,
transmitir qualquer coisa. Quanto às minhas referências, não tenho ainda nenhum
“fotógrafo de eleição”. A minha inspiração advém de trabalhos que vou
encontrando “online” e alguns através de partilhas e que depois vou
investigando acerca do autor da fotografia. Agora, em concreto, nomes de
fotógrafos em mente não tenho.
Como praticas esta arte?
Na
maior parte dos casos, quando tenho um trabalho de casamento para fazer,
costumo dar uma vista de olhos, antes de partir para o terreno, em fotografias
que gosto e depois a partir delas, surgem-me ideias. Mas isto também depende
muito das pessoas que vou fotografar. Quando eu sinto que há uma grande empatia
entre elas, a “coisa” parece que funciona muito bem, enquanto que nas pessoas
com menos empatia eu é que tenho de criar ali, digamos que, uma espécie de
afinidade para que o trabalho resulte, “puxando” por eles. E quando ficam
tímidos com a minha presença, o que acontece também muitas vezes, explico-lhes
que devem fazer da sessão fotográfica um momento só deles, fazendo de conta que
não estou ali, isto para poder captar o ambiente de forma o mais natural
possível e eu acho que o resultado final das fotografias espelha isso mesmo.
Não há aquelas “poses” rígidas e típicas de muitos fotógrafos que trabalham
nestes eventos. Pretendo captar momentos “espontâneos”, naturais e
descontraídos.
Nas
fotografias de rua, tento fotografar mais ao nível de paisagens. Tento“apanhar”
alguma coisa que torne a fotografia especial, diferente. Por exemplo, estou-me a
recordar neste momento de uma fotografia tirada em Coimbra que eu fiz com um
espelho retangular, em que estou a segurar nele, da mesma forma que os
estudantes desta cidade agarram na sua pasta académica, fazendo refletir a
cidade junto do Rio Mondego. Essa ideia surgiu-me do nada, enquanto estava a
fazer umas compras. Olhei para aquele espelho e pensei “isto poderia dar um
resultado engraçado”. Comprei-o, desci rapidamente as escadas rolantes do Fórum
e fui até ao Rio Mondego, visto que ando sempre com a máquina fotográfica atrás
de mim. E assim a fotografia saiu. Entitulei-a de “Coimbra…Levo-te comigo!”.
Foi assim uma coisa espontânea. Depois andei com o espelho muito tempo e fui
sempre fazendo uma série de fotografias com ele, mostrando sempre reflexos: fiz
algumas na Figueira da Foz junto ao mar, outras no campo do Baixo Mondego e
também outras em Coimbra.
Quais são os procedimentos que
utilizas até obter o produto final?
Primeiro
fotografo, depois passo as fotografias para o computador, uso alguns programas
para fazer a edição de fotografia – o programa com que mais gosto de trabalhar
é o “Lightroom”, um programa que aprendi a manusear sozinho, sem qualquer
formação – e gosto, depois, de dar um aspeto diferente à fotografia, formar
algo fora do vulgar.
Gosto,
por exemplo, de quando se trata de uma fotografia com um céu carregado de
nuvens de dar um certo ar dramático, mais melancólico. Agora se se tratar de
algo mais alegre, puxar talvez mais pelas cores. Isto funciona consoante a ideia
que a fotografia me transmitir, tentando fazer as coisas ao meu gosto e
fazendo, claro, com que as pessoas percebam a mensagem que lhes quero também
transmitir.
És tu quem trata dos elementos de
decoração das fotografias ou são as pessoas que dão as ideias e fazem questão
de usar?
Normalmente
sou eu quem pensa nesses aspetos e nesses materiais e as ideias surgem nas
pesquisas que faço antes do dia das sessão fotográfica. Depois, ou sou eu que
faço e passo para os noivos ou então eles é que organizam após discutirmos o
que melhor se enquadra naquele momento.
Por
exemplo, numa sessão de noivos, eu achei que ficaria muito engraçado fazer umas
fotografias como as que vi que se realizou num género de um campo e que tinha
várias lanternas. Pegando nessa inspiração, achei que ficava engraçado colocar
velas dentro de copos de iogurte enfeitados e espalhados pela praia e depois
fazer fotografias ao pôr do sol, como se os noivos estivessem ali a dançar.
Um
outro exemplo, numa “trash the dress”, uma sessão que se faz após o casamento,
que realizei com um casal que fazia um ano de casados, o que idealizei para
eles (e que também tinha visto numa outra fotografia) era uma espécie de uma
“cabana do amor” que se localizava no meio de uma floresta. Na minha versão,
foi feita na praia. O que eu fiz foi arranjar canas da Índia (umas canas
grossas) que na altura até pedi ao meu pai para me as cortar e com uma série de
fotografias fiz uma espécie de filme/ película, em que os noivos estão a construir a cabana e eu estou ao fundo a fotografar. O véu da noiva (de 15
metros e usado anteriormente pela sua mãe e irmã nos seus casamentos) servia
como que uma espécie de “proteção”. Levei também uns candeeiros com umas velas
e assim criámos um ambiente especial. Como era o “trash the dress”, eles foram
primeiro ao banho (no mar) e depois é que foram para a cabana do amor.
Resultaram muito bem as fotos, mas na altura a melhor fotografia não foi
publicada porque como era a cabana do amor, eu criei a ilusão de que estavam
nus, mas na verdade não estavam, e então pediram-me que não a publicasse por se
tratar de uma dimensão mais íntima.
E quanto às ferramentas de trabalho?
Que materiais usas?
Neste
momento tenho duas câmaras: uma Canon 5D mark II e tenho uma Canon 70D. Não
tenho portanto muito material fotográfico. Não tenho material de estúdio. É só
mesmo as máquinas, algumas lentes e tenho o flash, mas que não gosto muito de
utilizar. Considero-me um anti-flash [entre risos]. Acho que dá muito brilho às
fotografias, opinião de um “amador” que pode ainda não perceber muito bem
acerca da utilidade de alguns materiais.
Atualmente, como te posicionas
comercialmente?
Tenho
lucro com as fotografias através de sites de venda online (bancos de imagem)
para os quais envio as imagens, que por sua vez passam por um “filtro”, onde só
são realmente publicadas imagens de qualidade e que sejam diferentes,
originais. Só depois disso é que passam a estar disponíveis para compra.
Há
um site que é o “Shutterstock” onde eu tenho conseguido um maior número de
vendas, apesar de ter ainda uma galeria de tamanho reduzido, motivo de não ter
ainda apostando muito nisso. E eu sinto que se tivesse disponibilidade para
apostar nesse tipo de fotografia (fotografia para publicidade), penso que
poderia ser uma boa fonte de rendimento.
Para
além desse site, é através da minha página do Facebook que me vão contactando
para fotografar eventos, que mediante a minha disponibilidade, vou aceitando.
Projetos que tenhas criado, em que
contexto se baseiam e como descreves a experiência?
Um
deles é o de “365 dias, 365 rostos”. Este projeto surgiu quando estava a
trabalhar numa escola na qual não tinha horário completo e portanto tinha
bastante tempo livre que “canalizava” para a fotografia. Fiz nesse ano muitos
auto-retratos e fotografias de paisagens pois o meu final de dia era passado quase
sempre no mesmo local, na serra a fotografar ou o pôr do sol ou a fotografar-me
a mim e ao pôr do sol. E então nesse ano, dizia eu que, deu para fazer muitas
pesquisas a nível de fotografia e ver muitos projetos. Foi aí que verifiquei
que muitas pessoas desenvolviam um projeto de 365 fotografias, ou seja, todos
os dias publicavam uma fotografia. E eu pensei porque não avançar também com
esse projeto, o projeto de “365 dias, 365 rostos”. Ou seja, durante 365 dias,
todos os dias publicava um rosto diferente na minha página do facebook e para
além disso decidi associar a cada foto uma legenda que incluía: a idade, uma
coisa de que a pessoa gostasse, outra de que não gostasse e um sonho.
No
final, o projeto ficou muito consistente e não estava à espera que tivesse
tanta visibilidade, sinceramente. Foi
engraçado ver uma pessoa que tive oportunidade de fotografar, uma senhora de
100 anos, que ainda tinha sonhos. Apesar de ser um sonho de fácil
concretização, assim como muitos outros que surgiram, ali notava-se a
experiência de todos aqueles anos de vida – o sonho de “não ter dores”, uma
coisa que poderia ser simples de se realizar mas que uma pessoa não consegue
controlar. Foi em suma, um projeto que me deu muito gozo de fazer e acho que o
resultado final foi excelente.
Houve
também um outro projeto que se realizou numas férias de verão que eu partilhei
com três amigos e que consistiu em experimentar fazer campismo selvagem na
Costa Alentejana e na Costa Vicentina. Fotografei aqueles dias de férias “low cost”
e foi assim que o nosso “verão azul” foi escolhido e publicado na revista
“Público”, na P3. Aliás, ambos os projetos foram publicados nessa revista
online.
E
penso que estes foram os projetos que tiveram maior visibilidade.
Onde podemos acompanhar todos os teus
trabalhos fotográficos?
Na
minha página do facebook (www.facebook.com/nunoramosfotografia) podem encontrar todos os meus trabalhos e que
ultimamente são mais relacionados com casamentos. Este ano, como já referi,
tenho estado mais ocupado portanto não está a ser muito fácil conciliar as duas
coisas, sendo que a fotografia tem estado um pouco “parada”. Mas claro, sempre
que tenho oportunidade, pego na máquina fotográfica e vou fazendo umas
fotografias e publicando online.
Tens alguma fotografia favorita?
Não,
sinceramente não tenho. Mas com a venda de fotografias online, existe uma
fotografia da Torre Eifel , em Paris, que tem tido bastante saída.
Autoria:
Nuno Ramos
Tens alguma mensagem a deixar aos
iniciantes desta área?
Eu
acabo por ser também ainda um iniciante desta área, mas com as experiências que
já tive, posso-lhes deixar a dica de que é necessário ter bastante paciência.
Fotografar não é só o ato em si. Trata-se de se experimentar coisas novas,
perceber nos trabalhos realizados onde é que errámos e numa próxima
oportunidade tentar melhorar os aspetos negativos, fazendo disto sempre uma
espécie de ciclo.
A
edição de fotografia também é uma coisa que exige paciência. Não basta pensar
que ter o programa já é caminho feito para a edição estar pronta. Não, é um
processo que é lento e que exige tempo. Mas a partir do momento que já se percebe
de edição de fotografia, claro que depois se torna muito mais fácil.
Elisabete Branco, nr.20140107, grupo 5
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