Bolsas, empréstimos, part-times, instituições de solidariedade… como sobrevivem os estudantes de Coimbra?
“Ainda agora estive três semanas sem vir a casa por não ter dinheiro e agora que vim apercebi-me de que não tenho dinheiro para voltar”, diz “Maria”, estudante da Escola Superior de Educação de Coimbra (ESEC). Este é apenas um dos 1187 casos de alunos da ESEC, num universo de 2000, que no ano lectivo 2009/2010 usufruíram da bolsa de estudo.
Neste ano lectivo, com a aprovação do novo regulamento de atribuição de bolsas e do decreto de lei 70/2010, por parte da Direcção-Geral do Ensino Superior, a situação tende a agravar-se. Apesar de esta actualização já estar em vigor, as normas técnicas que permitirão às assistentes sociais analisar as candidaturas ainda não foram enviadas o que atrasará o processo de atribuição de bolsas de estudo.
De acordo com o novo regulamento, deixarão de existir escalões de atribuição de bolsa o que, segundo Jorge Oliveira, administrador dos Serviços de Acção Social do Instituto Politécnico de Coimbra (SASIPC), permitirá a diminuição da disparidade de valores entre alunos com rendimentos semelhantes. O novo sistema prevê também a atribuição por ciclo de estudos, isto é, em vez de as candidaturas serem feitas anualmente, serão feitas por três anos com um valor contínuo, o qual apenas será modificado se houver alterações nos rendimentos do agregado familiar. Jorge Oliveira afirma que “esse é um avanço enorme, pois permite que não haja quebra no pagamento das bolsas”. Por outro lado, o decreto de lei 70/2010, que não é aplicável apenas à comunidade estudantil, estabelece mudanças na noção de agregado familiar e passa a considerar os rendimentos ilíquidos na análise dos processos de candidatura às bolsas de estudo. Sobre estas alterações, “Maria” comenta que “com as novas medidas será muito mais fácil para as pessoas que não merecem, manipularem novamente os seus dados para obterem um valor mais alto, prejudicando quem realmente precisa”. No ano lectivo passado, esta aluna recebeu bolsa no valor de 330€ mensais, mas não foi suficiente para cobrir todas as suas despesas e, por isso, recorreu ao empréstimo de crédito bancário. Este apoio, financiado por algumas instituições bancárias, concede aos estudantes um determinado montante que estes deverão pagar após o término do curso. Apesar de ser novamente candidata à bolsa de estudo, ”Maria” procura, ainda, um emprego que a ajude a suportar todos os custos.
Andreia Tavares é cabo-verdiana e estudante de Comunicação Social na ESEC. Não recebe qualquer tipo de apoio financeiro por parte dos Serviços de Acção Social, optando por trabalhar para sustentar os seus estudos e a sua estadia em Coimbra. Empregada de balcão num restaurante durante a noite, Andreia afirma que uma das suas maiores dificuldades é não ter tempo para estudar e, às vezes, sentir-se cansada. A estudante avança, ainda, que “corta nos gastos” como saídas à noite, jantares de curso e bens prescindíveis, conseguindo poupar dinheiro que se destina ao pagamento das propinas.
João Morgado, presidente da associação de estudantes da ESEC, refere que “a maioria dos alunos mantém um emprego em part-time, em lojas de centros comerciais ou em call centers”. Acrescenta ainda que estas soluções não são suficientes pois para além das propinas, muitos estudantes têm que pagar uma renda mensal de um quarto. Jorge Oliveira menciona que os pedidos de emprego aos SASIPC aumentaram dez vezes relativamente ao ano lectivo anterior.
O administrador dos SASIPC defende que o Instituto Politécnico de Coimbra deveria colaborar com instituições de solidariedade na angariação de bens alimentares ou postos de emprego. Em troca, estas mesmas instituições ajudariam os estudantes mais carenciados.
São muitos os universitários que tentam combater as dificuldades económicas. Há, inclusive, pessoas que não se matriculam por falta de garantias para se poderem sustentar.
Embora a situação actual seja já descrita como muito grave por parte dos estudantes, Jorge Oliveira alerta para o seu agravamento: “Qualquer dia vamos para cortes nos apoios sociais, acho que já é uma evidência ”.Grupo:
Ana Veiga
Ana Teixeira
Diana Teixeira
Sandra Portinha
Tony Santos
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