ENTREVISTA – Carlos Matos, vocalista do grupo de Fados e Guitarradas Minerva
É aluno de Doutoramento em Biologia Celular no Centro de Neurociências de Coimbra. Contudo, é fora das Ciências que encontra uma das suas grandes paixões – o Fado de Coimbra. Com apenas vinte e três anos, o satense Carlos Matos é uma das vozes do Grupo de Fados e Guitarradas Minerva, um projecto que leva a guitarra portuguesa onde quer que ela seja desejada.
O Fado de Coimbra é algo que simboliza a cidade. Existem vários grupos dentro deste género musical, alguns deles constituídos por estudantes da Universidade de Coimbra. Quando é que surgiu a ideia de formar o grupo de Fados e Guitarradas Minerva?
Carlos Matos (CM) - A ideia surgiu do amor que um grupo de amigos sentia por este género musical. Desse amor surgiu a vontade de o interpretar e, assim, perpetuar o fado de Coimbra e permitir que ele seja apreciado não só pelas pessoas que estão familiarizadas com este tipo de música, mas também por quem com ele nunca contactou.
Qual a origem do nome Minerva?
CM - Pensámos em diversos nomes, com diferentes referências à cidade de Coimbra, à Universidade e às serenatas, mas durante muito tempo nada nos conseguia agradar. Numa noite de ensaio, um dos membros do grupo sugeriu o nome Minerva, que foi rapidamente aceite por dois motivos: primeiro, faz referência a uma figura da Universidade, uma vez que a deusa Minerva está representada nas escadas homónimas e no selo da Universidade; em segundo lugar, Minerva era a deusa romana do saber, do conhecimento e das técnicas, e pensamos que estes atributos se articulavam muito bem com o facto de todos sermos estudantes de Ciências ou de Engenharia.
Quem são os membros que constituem o grupo Minerva? Que instrumentos tocam?
CM - Actualmente, os Minerva são formados pelo Hugo Paiva de Carvalho (guitarra de Coimbra), pelo Alexis Simões (viola), pelo José Branco (voz) e por mim (voz).
Foi muito difícil para os Minerva agendar as primeiras actuações?
CM - No início, não era uma prioridade do grupo fazer espectáculos. Considerávamos que só depois de muitos ensaios, quando nos sentíssemos aptos, é que daríamos esse passo. Deste modo, embora o nosso grupo tenha nascido em Fevereiro de 2007, só em Maio de 2008 tivemos a primeira actuação. Esta não foi difícil de agendar, pois foi no âmbito das comemorações do aniversário da Quantunna, a tuna mista da Faculdade de Ciências e Tecnologia da UC, à qual três dos então elementos dos Minerva pertenciam. O evento incluiu a actuação de vários grupos “amigos” da Quantunna, pelo que não foi difícil sermos convidados.
Qual tem sido o feedback do público?
CM - Geralmente o público demonstra bastante agrado com os nossos espectáculos. Recebemos frequentes elogios no final das actuações, até mesmo de estrangeiros. Isto honra-nos muito porque, embora eles não compreendam a língua em que cantamos, entendem os sentimentos que procuramos transmitir.
Que novos lugares conheceu com o grupo?
CM - Em Coimbra são poucos os sítios em que actuámos que eu não conhecesse já. Os únicos serão talvez as janelas das ocasionais serenatas à moda antiga que fazemos de vez em quando. Fora de Coimbra estivemos em vários locais, como Figueiró dos Vinhos, Albergaria-a-Velha e Águeda.
Em que locais podemos regularmente encontrar os Minerva?
CM - Os Minerva não actuam regularmente num local particular. Somos convidados por diversas entidades, para várias iniciativas, que tanto podem ter lugar dentro como fora da cidade. Contudo, é no Café de Santa Cruz que actuamos com maior frequência.
Enquanto estudante universitário, deve ser importante para si fazer parte de uma iniciativa que tão intimamente honra a cidade de Coimbra e a Universidade…
CM - Sim, absolutamente. Confesso que quando assisti às minhas primeiras Serenatas Monumentais nunca pensei que um dia também eu cantaria fado de Coimbra.
O que é que tem aprendido com esta iniciativa?
CM - Nestes três anos de vida do grupo Minerva, aprendi que, quando existe um amor verdadeiro por um projecto, é possível desenvolvê-lo, enraizá-lo e leva-lo avante. Nós começamos como um grupo de amigos a tocar guitarra de Coimbra e viola, e hoje actuamos em muitos lugares, dentro e fora de Coimbra, temos um blog e temos um site a caminho. No fundo, com muita dedicação, conseguimos fazer nascer um projecto bastante sólido a partir do “simples” amor pelo fado de Coimbra. Contudo, aprendi também que há muita gente que aprecia o fado de Coimbra, mas que nem sempre consegue aceder-lhe.
Antes de constituir o grupo Minerva, esteve ligado a outros projectos musicais, como por exemplo, tunas?
CM - Sempre gostei muito de música, mas, embora o meu pai seja músico, confesso que nunca aprendi a tocar um instrumento. No entanto, no meu segundo ano da Universidade entrei na Quantunna, onde era pandeireta. Hoje em dia, embora já não seja um membro activo, gosto de participar nos espectáculos sempre que tenho oportunidade.
Pode dizer-se que sempre teve um “fraquinho” pelo fado, ou foi um gosto que foi adquirindo com a tradição coimbrã?
CM - Confesso que, até entrar na UC, nunca me interessei por qualquer género de fado. O gosto pelo fado de Coimbra surgiu exactamente na altura em que contactei com ele – no contexto das tradições académicas e do espírito estudantil de Coimbra, nomeadamente nas Serenatas Monumentais. Julgo que foi o que o fado me transmitiu nessas situações que me levou a gostar deste estilo musical.
Habitualmente os grupos de fados universitários são uma “brincadeira” de estudantes. No caso do grupo Minerva, pretendem continuar após os estudos?
CM - Embora seja verdade que alguns grupos de fado acabem quando as pessoas terminam os cursos, não é sempre esse o caso. Quando tal acontece é muitas vezes devido ao facto de os estudantes se separarem para darem início à sua vida profissional. Para além disso, penso que os grupos que vingam são sempre mais do que uma “brincadeira”; são o resultado de um dedicado investimento. Quanto a nós, continuaremos a tocar e a cantar juntos mesmo depois de todos acabarmos os cursos, uma vez que a curto prazo, pelo menos, todos continuaremos em Coimbra.
Grupo:
Bruno Sobral
Joana Leite
Sofia Fernandes
Inês Henriques
Diana Cónego
Pedro Silva
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