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terça-feira, 19 de outubro de 2010

Separar a “vertente pessoal da profissional é essencial” num jornalista

Ricardo Ferreira Santos é licenciado em Comunicação Social pela Escola Superior de Educação de Coimbra. Tem 27 anos, trabalha para a secção desporto do Diário de Coimbra e conta como é ser jornalista actualmente.


1. Como surgiu o interesse pela área do jornalismo?
Desde muito novo que demonstrei interesse em ser jornalista. Curiosamente nem tanto pelo universo televisivo que fascina a grande maioria dos aspirantes à profissão, mas pela comunicação social impressa. Lia muitos jornais, ganhei o gosto e estudei para concretizar esse desejo.

2. Onde iniciou a sua carreira como jornalista?
Estudava na Escola Secundária D. Duarte, em Coimbra, e numa disciplina superiormente leccionada pelo professor Gil Ferreira, tivemos de fazer uma “mini publicação” onde teríamos de incluir uma entrevista ao director de um jornal. Tentámos vários, mas infelizmente a disponibilidade e receptividade demonstradas não foram as melhores. Até que fomos a um jornal chamado Folha de Santa Clara. Nesse mesmo dia, José Simão, que era o director, convidou-me para começar a escrever sobre o desporto e, em particular, sobre o futsal do Santa Clara, “freguesia alvo” desta publicação mensal.

3. Há quanto tempo trabalha para o Diário de Coimbra?
Em 2001, colaborava com a Folha de Santa Clara e o futsal sénior do Santa Clara subiu aos campeonatos nacionais. O Diário de Coimbra já então dava algum destaque à modalidade e procurou, através do meu amigo Abílio Lopes, infelizmente já falecido, um colaborador para a modalidade em Santa Clara. Contactaram-me e comecei então por fazer o futsal do Santa Clara para o DC. Depois passei a fazer diversos trabalhos para a secção desporto e quando acabei o curso, em 2005, fiz estágio curricular e, mais tarde, profissional, no jornal, acabando por ficar.

4. Sempre esteve ligado à secção de desporto ou já colaborou noutras secções do jornal?
Já estive um tempo a fazer agenda de redacção, mas ainda assim, mantive sempre a ligação ao desporto. Na “agenda” recebemos as centenas de emails que enviam para o jornal, temos de fazer uma triagem, distribuir pelos vários editores e colocar o mais importante em agenda. Um trabalho que, para muitos, passa despercebido, e em que a maioria nem sabem como funciona. É algo que se fala nos cursos, lê-se nos livros, mas com o qual muitos nem sequer contactam apesar de ser de fulcral importância para o bom funcionamento da redacção.

5. A escolha pela secção desportiva do jornal deve-se a quê?
Foi uma sequência natural. Pelo que já disse, sempre adorei desporto, adoro escrever e conciliar as duas coisas é um grande privilégio.

6. Quais as principais características de um bom jornalista nos dias de hoje?
O termo “bom” é sempre relativo, mas parece-me que é fundamental que ser-se bom comunicador, perspicaz e conseguir passar para o público os factos como realmente eles aconteceram. Criar uma rede de contactos de confiança e saber sempre distinguir a vertente pessoal da profissional é essencial. O restante da profissão é dado igualmente pelos critérios editoriais que cada Media tem.

7. Acha que o jornalismo impresso será a médio/longo prazo substituído pelo jornalismo digital?
Penso que quem gosta de ler nunca deixará que os jornais terminem. É como um bom livro, nunca se lê da mesma maneira através de um processador de texto num computador. Ainda assim, é óbvio que a era digital evoluiu bastante ao longo dos últimos anos e são cada vez mais os jornais que disponibilizam as suas páginas online para que as pessoas as possam ler em casa ou mesmo no trabalho. Isso, contudo, tem igualmente muito a ver com chegar a vários “públicos alvo” e não com a ideia de “substituir” o impresso pelo digital.

8. As redes sociais são uma mais-valia para o jornalismo?
Posso dizer que sim. Não digo que se façam muitas notícias tendo como base redes sociais, mas é cada vez mais comum nas redes sociais estarem informações que podem ser úteis a “puxar o fio à meada” sobre uma boa matéria.

9. Como é o dia-a-dia de um jornalista?
A agenda estipula o dia do jornalista. Falo no caso do Diário de Coimbra em que os nossos horários variam substancialmente. Não temos um 9h00-12h00 e 13h00-18h00 por exemplo. Podemos estar um dia inteiro na redacção e não é por isso que deixamos de trabalhar, como podemos ter, no caso do desporto, de sair para fazer jogos ou conferências de imprensa e depois ainda regressamos para ajudar no que for necessário para o fecho do jornal.

10. Que conselhos deixaria aos futuros jornalistas do nosso país?
Não tenho experiência, nem a bagagem necessária para aconselhar futuros colegas. Apenas posso dizer que quem gosta da profissão deve encará-la de forma muito séria e saber que ficam na posse de uma arma muito preciosa: a palavra. Depois de escrita ou dita, não há volta a dar. É uma profissão fantástica, que permite conhecer muitas pessoas e nos dá a arte de perceber quem realmente nos tem em boa conta e com as quais poderemos ter boas amizades, “separando as águas”, ou “assistir de camarote” àqueles a quem apenas interessa o protagonismo social.

Ana Sérvolo (grupo 1)

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