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terça-feira, 2 de novembro de 2010

Artigo de Opinião - Shutter Island



Numa época em que começam a surgir os habituais balanços de tudo e mais alguma coisa, é-me dado a ver o filme Shutter Island, de Martin Scorsese. Este pode não ser o melhor filme do ano, mas com certeza vai fazer parte do balanço cinematográfico de 2010.
Muitas dúvidas havia em relação a Shutter Island e ao desempenho de Leonardo DiCaprio. Apesar do registo bastante diferente daquele a que Martin Scorsese nos habituou, o realizador consegue com mérito fazer jus à obra de Dennis Lehane, da qual o filme é adaptação, e Leonardo DiCaprio saúda-nos  com uma interpretação à altura da sua complexa personagem.
A história desenrola-se em 1954. O U.S. Marshall Teddy Daniels (Leonardo DiCaprio)  e o seu novo colega Chuck Aule (Mark Ruffalo) são enviados para o Hospital Psiquiátrico na Ilha de Shutter, instituição onde são internados os mais perigosos e perversos criminosos do país, com o intuito de investigar o desaparecimento de Rachel Solando, uma perigosa assassina que consegue escapar da instituição sem deixar rasto, à excepção de uma pequena mensagem codificada. O único meio de aqui chegar é o ferryboat. Os funcionários da Instituição Psiquiátrica não parecem cooperantes com a investigação, especialmente o director Dr. Cawley (Ben Kingsley), responsável pelos tratamentos aplicados aos pacientes.
 A investigação prossegue e o ambiente torna-se cada vez inóspito. A ilha é atingida por um furacão o que leva a uma envolvente caótica no seio do hospital, com a fuga de vários prisioneiros da sua celas. É aqui que o rumo do filme começa a mudar e os agentes mergulham num ambiente  que coloca em causa a sua própria sanidade. O desaparecimento de Rachel Solando torna-se cada vez mais estranho e nada parece fazer sentido.
Sobre a história pouco mais poderei dizer sem revelar pormenores importantes que estragariam o filme a quem ainda não teve oportunidade de o ver, mas posso adiantar que Martin Scorsese, nesta história aposta num  ambiente de constante suspense, colocando-nos quase na pela da personagem principal, não nos deixando saber mais do que devemos a cada momento.
Os focos apontam sempre para Teddy Daniels que é constantemente perturbado por memórias da II Guerra, o que nos mostra  um historial de violência, assim como frequentes alucinações e sonhos com a falecida mulher. Aqui há que salientar o desempenho de  DiCaprio, que não se revela extraordinário e que não me parece que faça dele “um dos melhores actores da actualidade”, como muitos dizem,  mas ainda assim à altura da complexidade não só do personagem como de toda a trama da história. Por sua vez a Mark Ruffalo,  dou-lhe o mérito de excelente sombra de DiCaprio, uma boa interpretação ainda assim não inesquecível.
Não posso  esquecer Ben Kingsley (Dr.Cawley). Este, na minha opinião, um grande actor da actualidade, que  na mesma personagem oferece ao espectador a faceta de vilão e de herói, sem que realmente se perceba qual delas é verdadeira, contribuído assim para que o filme se torne um pouco mais complexo e indecifrável.
            Deve dar-se ainda algum destaque à banda sonora, à fotografia e à caracterização, elementos que a meu ver sobem um pouco a fasquia, no que diz respeito à qualidade.
No entanto, alguns pequenos erros, essencialmente erros de continuidade, fazem com que Shutter Island não seja um excelente filme,  apenas um bom filme. Destes erros destaco um que é quase flagrante, na fase de interrogatório, uma das interrogadas pede um copo de água a Chuck. Quando ela está a beber não tem nada na mão e supostamente bebe com a mão direita, no entanto coloca o copo vazio em cima da mesa com a mão esquerda, e numa  das cenas posteriores em que as três personagens aparecem o copo está meio cheio.  Interroguei-me bastante sobre esta cena, seria propositado? Mas depois de ver de novo o filme nada me levou a crer que houvesse algum tipo de simbolismo dentro da história que justificasse tal erro.
Apesar de não ser uma obra perfeita de Martin Scorsese, Shutter Island consegue prender o espectador do início ao fim, fazendo com que este se sinta Teddy  Daniels.
            Fica a eterna dúvida: qual a verdadeira versão da história, a de Teddy Daniels ou a de Dr. Cawley? 
           
Ana Serrano
Grupo 1

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