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terça-feira, 30 de novembro de 2010

Crónica

Soluçar por amar!


Os tempos mudam isso é certo, as modas vão e vem, a tecnologia evolui à velocidade da luz mas, um pouco irreal para mim, os sentimentos também. O amor mudou sem grande percepção da minha parte.

Ninguém chora por amor como outrora em que se inundavam lares, só porque ele partia, só porque ela o abandonava por uns dias. A criança chorar por ver a avó sofrer, a lágrima a cair ocultamente porque as dificuldades dos outros sensibilizavam.

E então: que é feito disto? Onde estão as pessoas que choram umas pelas outras? Agora ninguém corre atrás de outra pessoa, agora ninguém grita por desespero, agora ninguém tenta dizer uma última palavra, agora ninguém se preocupa. É preciso chorar mais, é preciso abrir mais o coração. Iremos perceber que o melhor choro é o que tem soluços e faz fungar, que potencialmente nos liberta de todo o peso, angústia e mágoa de tal momento.

Eu já chorei por amor e recordo-me bem que soluçava e fungava com grande perfeição. Eu sei do que falo. É algo tão natural que não consideramos que estamos a fungar e que parece mal ou que o rímel borrou e ficamos com mau aspecto. Não se separa choro de soluçar, nunca, porque é justamente essa arrojada junção, que causa um tamanho incómodo a nível respiratório, que nos obriga a parar de o fazer e nos confirma, agora sim, que estamos perante um grande amor. Que desenvolvemos um vínculo emocional com alguém, de imenso poder, onde não existe qualquer tentação para se ser superficial ou evitar a demonstração de amor, nu e cru. Exactamente, como o amor deve ser.

Mas daqui surge outra questão, até que ponto hoje se diz “amo-te” no real sentido da palavra. Cada um de nós se devia assegurar de que sente o que realmente diz e que está disposto a fazer tudo e qualquer coisa por essa pessoa merecedora de preciosa e pura palavra. Estejamos a falar do nosso namorado, mãe, irmã ou amigo. De uma criança ou de um idoso.

Existe medo de mostrar a essência de cada pessoa e os seus sentimentos, dando importância apenas à imagem que querem transmitir? Ou na verdade, as pessoas estão tão ocupadas com a sua vida que os sentimentos pelos entes queridos vão voando, voando para bem longe. Até que um dia chegam à conclusão de que nada do que queriam foi dito, pois o dia de amanha é uma incógnita. E, quem disso não tiver noção, corra já para as suas pessoas amadas e oiçam-nas, não as deixem partir, não tenham medo, riam, abracem-nas, chorem, aceitem, perdoem, libertem-se, amem-se. E lembrem-se, um dia terão de dizer adeus.

Carolina Guedes
Grupo 5




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