50 anos de Dieguito
Nascido na Argentina a 30 de Outubro de 1960, Diego Armando Maradona, revelou-se como um dos maiores, mais famosos, mas também mais polémicos jogadores de futebol do século XX.
Caracterizava-se por ser um jogador com garra, inteligente, com capacidade para mudar o jogo de um momento para o outro, com uma velocidade surpreendente.
Com 9 anos começou a dar os primeiros pontapés na bola, no Argentina Juniors.
Mais tarde chega ao clube do coração, Boca Juniors, onde conseguiu mostrar ao mundo que a Argentina era “pequena” demais para segurar o futebol praticado pelo mesmo.
Na Europa, viveu entre o paraíso e o inferno.
Esteve no Barcelona durante dois anos, mas é aos 24 que chega finalmente à Itália. É no Nápoles que Diego encontra os títulos, mas também os dissabores causados pelo vício da droga, vício esse que destruíu a sua ligação ao clube italiano, a vida pessoal, e até os objectivos que possuía com a Selecção Argentina.
Fez vários tratamentos, mas as dificuldades para abandonar o vício foram imensas.
Mais tarde, tentou novamente a sua sorte em Espanha, desta vez defendendo as cores do Sevilha, mas rapidamente deixou o clube, e regressou ao país natal.
Foi ao serviço da Selecção Argentina que viveu os melhores e piores momentos da sua carreira. Conquistou o Campeonato do Mundo em 1986 no México, marcou presença no Mundial de 1990 em Itália, embora tenha perdido na final o título para a Alemanha. No Mundial de 1994 nos Estados Unidos da América, com 34 anos, vê o sonho terminado rapidamente, já que foi apanhado no controlo anti-dopping.
Durante anos a droga atormentou a sua vida, mas El Pibe de Oro sempre manteve viva a sua paixão com o futebol.
Mais tarde, assume o comando técnico da Selecção Argentina, e a muito custo, consegue qualificar-se para o Mundial de 2010.
Dentro de campo um génio, fora dele polémico, e até como Seleccionador causou impacto, embora no entanto tenha abandonado a selecção após o Mundial da África do Sul, ficando-se pelos quartos-de-final.
Aos 50 anos, afastado de todos os vícios, mantendo apenas um, o futebol, confessa que o seu maior sonho é voltar ao comando técnico da Selecção Argentina.
Por: André Drogas
Nem só de álcool vive a Festa
Se é verdade que o consumo de álcool em festas como a Queima das Fitas ou a Festa da Latas é exorbitante, a adesão às «tasquinhas saudáveis», também tem sido cada vez maior.
Com o lema: ”Descobre outros Prazeres”, a Associação Académica de Coimbra tem tido em marcha medidas que visam estabelecer uma política de prevenção contra o consumo excessivo de álcool pelos estudantes durante a Festa das Latas e na Queima das Fitas. Mais uma vez foi possível aos não apreciadores de bebidas alcoólicas, consumir bebidas sem álcool no recinto da Festa das Latas 2010, como néctares de fruta ou chás. Esta iniciativa já não é nova e tem como principal intuito, demonstrar aos jovens que uma boa noite de diversão pode ser feita sem álcool e a baixo custo.
Exemplos disso eram os preços praticados no recinto. Enquanto um «fino» tinha o preço de 1,00€, para quem optasse por beber sumo ou chás de vários sabores, gastava apenas 0,50€.
Os estudantes universitários em Coimbra são cerca de 33 mil. Quando se realiza uma festa académica, os hospitais reforçam o número de profissionais de saúde em prevenção. Igual medida é adoptada pelas corporações de bombeiros locais.
Sensibilizar os jovens que as noites podem ser divertidas sem consumo de bebidas alcoólicas, é assim, um dos objectivos da «tasquinha saudável», não só em relação aos milhares de estudantes como também às pessoas que vêm de fora para se divertirem no Parque da Canção.
EVITAR CONDUÇÃO PERIGOSA
Com o objectivo de sensibilizar os mais jovens para a condução sem álcool, a comparência de «tascas» de bebidas 0% álcool, tem sido uma aposta ganha e que já faz parte das opções de consumo, para aqueles que pretendem divertir-se sem pôr em causa a sua saúde quando a noite termina e têm que regressar a casa.
JOVENS CONFIRMAM CONSUMO EXCESSIVO DE ÁLCOOL
MIGUEL VIEIRA, 18 ANOS, ESTUDANTE:
“Hoje em dia há um consumo de álcool excessivo entre os jovens. Vêem-se muitos jovens a beber nestas festas dedicadas aos estudantes, sem terem consciência do que estão a fazer. No meu grupo de amigos, habitualmente encontramo-nos depois de jantar e bebemos uma amêndoa amarga, depois tomamos um ‘shot’ ou um uísque e uma garrafa de cerveja (cinco litros) a dividir entre todos. No recinto consumimos uns finos e poucas bebidas brancas, por causa do preço elevado. Entre nós, aquele que conduz só bebe água, quanto muito só bebe uma cerveja. É preciso ter cuidado com as multas que hoje são a doer.”
“Hoje em dia há um consumo de álcool excessivo entre os jovens. Vêem-se muitos jovens a beber nestas festas dedicadas aos estudantes, sem terem consciência do que estão a fazer. No meu grupo de amigos, habitualmente encontramo-nos depois de jantar e bebemos uma amêndoa amarga, depois tomamos um ‘shot’ ou um uísque e uma garrafa de cerveja (cinco litros) a dividir entre todos. No recinto consumimos uns finos e poucas bebidas brancas, por causa do preço elevado. Entre nós, aquele que conduz só bebe água, quanto muito só bebe uma cerveja. É preciso ter cuidado com as multas que hoje são a doer.”
RUI PINTO, 20 ANOS, ESTUDANTE:
“Habitualmente bebo, porque é uma semana de festa e é uma festa dedicada a todos os estudantes, mas isso não traz qualquer inconveniente ou risco para a saúde, quando se consome com moderação. Beber todos os dias é que é mau, isto porque pode levar a que a pessoa fique viciada.
O que eu costumo beber é cerveja, uísque, e vodka, normalmente antes de entrar no recinto. É um hábito na maioria dos jovens, quer sejam rapazes ou raparigas, beberem de igual maneira e nos mesmos locais”.
Por: Ana Sofia Rodrigues
Apito Distrital
Nos campos de futebol, onde é afinal um juiz desportivo, não tem amigos, muito menos claque, é criticado e humilhado por qualquer um, muitas vezes sob chuva e frio, é esta a sina do árbitro distrital.
O jogo começa durante a semana
José Rodrigues tem 20 anos é árbitro distrital da Associação de Futebol de Coimbra (AFC), natural de Oliveira do Hospital, estudante de enfermagem na Universidade Católica de Lisboa. Depois de um dia de aulas vai treinar sozinho pelas ruas da capital, a fim de manter condição física para os jogos que apitará no fim-de-semana.
À quinta-feira recebe, via telemóvel, o leque de jogos para os quais foi nomeado e informa a sua equipa de arbitragem. “É nesta altura que começam os jogos”, sucede-se uma pesquisa na internet sobre as equipas que se vão defrontar, analisa classificações, disciplina, etc. ”dá-me mais segurança, pois consigo tirar algumas conclusões sobre as equipas e preparo a equipa para o que poderemos encontrar”.
Após uma semana de estudo, aulas e treinos, José faz 300 quilómetros até Oliveira do Hospital e acerta os últimos pormenores para o fim-de-semana preenchido que se avizinha.
Mãos à obra
No sábado de manhã dirige sozinho dois jogos de “futebol de sete”, um do escalão de “escolas” (9 e 10 anos) e outro de “infantis” (11 e 12 anos), “almoço qualquer coisa e vou ter com o resto da equipa” a fim de se deslocarem para o campo onde irão arbitrar um jogo de “juniores”(17 e 18 anos), último deste “primeiro dia de guerra”. À noite, jantar com a família, “é preciso aproveitar todo o tempo livre para estar com aqueles que nos querem bem, embora nem sempre seja possível”. O telemóvel toca, são “os amigos da terra” a convidar para “beber um copo”, mas José recusa mais um convite pois tem de se levantar no domingo, bem cedo. Às sete horas da manhã o despertador acorda-o, “a obrigação e a responsabilidade” chamam por ele. Meia hora depois, parte para mais um dia preenchido, o primeiro jogo é às 10 horas, o escalão é “juvenis” (15 e 16 anos), o segundo é de “iniciados” (13 e 14 anos), no mesmo campo, intervalados por 10 a 15 minutos, trocam as posições, isto é, quem apitou o primeiro jogo será árbitro assistente no segundo, por sua vez, o elemento da equipa que não desempenhou a função de árbitro principal nos jogos da manhã, apitará o jogo da tarde, tudo isto é previamente definido pela AF Coimbra, organismo que regula e organiza as competições distritais da modalidade, incluindo a nomeação de cada árbitro para cada jogo.
O pior ainda está para vir
Domingo à tarde, disputa-se mais uma jornada do distrital de “seniores”(Maiores de 18 anos) e a equipa de José Rodrigues está também nomeada para mais um jogo. Como sempre, chegam ao campo uma hora antes da marcada para o pontapé de saída, os assistentes informam-se da cor com que cada equipa vai jogar, rectificam as balizas e as marcações do terreno de jogo e fazem a identificação dos jogadores. Antes da saída do balneário, o chefe de equipa dá as últimas palavras de incentivo, motivação e confiança, pois “é apenas mais um jogo” e a equipa tem “consciência, responsabilidade e qualidade para o apitar”. Conferem os apetrechos a levar: apito, cartões, moeda de sorteio, bloco de notas, lápis, bandeiras dos assistentes, bola e por último conferem se a cabeça também vai no devido lugar. As equipas entram perfiladas, saudação, sorteio, soa o apito e começa mais uma partida, por sinal a que “requer mais atenção, mais disciplina, mais cuidado porque já estamos a lidar com homens, na sua maioria mais velhos” que o próprio árbitro e “com mais anos de experiência”. “Não é fácil, depois de tanto jogo, a nossa atenção e concentração estar ao melhor nível, o pior é que nos jogos de seniores é que nós somos observados”, isto é, nas partidas deste escalão existe um elemento, destacado pelo Conselho de Arbitragem da AFC, que vai observar e atribuir uma nota pela prestação nesse jogo que com a média dos testes escritos e físicos, realizados no início e no meio da época desportiva, resultará um valor que ditará a classificação final dessa mesma época. O objectivo de José Rodrigues é chegar aos campeonatos nacionais.
Fora de jogo
A esmagadora maioria dos adeptos não aceita a equipa de arbitragem, a verdade é que sem esta não se pode realizar o jogo. Mal chegam ao recinto desportivo, começam logo as primeiras reacções por parte do público. “Tentamos já nem dar atenção às palavras que vêm do lado de fora da vedação, mas custa engolir certas insinuações, tendo nós consciência da veracidade, responsabilidade e humildade com que fazemos o nosso trabalho” afirma José Rodrigues.
Vira o disco e toca o mesmo
Na viagem de regresso a casa, discutem onde estiveram bem e onde poderiam ter feito melhor, com o intuito de numa próxima situação semelhante não repetirem o erro, “isto é que é o trabalho de equipa” garante. Depois de seis jogos, 400 quilómetros, pressão psicológica e desgaste físico, tudo em menos de 48 horas, regressa a casa onde ainda tem que ultimar o relatório de cada jogo e enviá-los para a AF Coimbra. Janta e apanha o autocarro em direcção a Lisboa, onde chega por volta da 1 hora, na manhã seguinte tem aulas às oito.
Todo este esforço, dedicação e empenho é remunerado com nada mais, nada menos, que 16 euros em média por jogo, “é pela paixão, não pelo dinheiro”. José dorme o “resto da noite à pressa” e recomeça mais uma semana de preparação para a vida e para a próxima jornada.
Por: Tiago Cerveira
Uma noite sem abrigo
Ninguém sabe ao certo quantos são, apenas que são largas centenas. Os sem abrigo da cidade vivem à margem de tudo e de todos. Muitos nem sequer têm identificação, admite-se que sejam mais de cinco centenas, a maioria portugueses, embora entre eles já exista uma larga quantia de estrangeiros. A miséria não escolhe cor, credos ou nacionalidades.
Quantas vezes já se cruzou com um mendigo ou com um morador de rua pela sua cidade? Com toda a certeza, inúmeras vezes.
Regularmente essas pessoas (mendigos e moradores de rua) passam despercebidas pelos nossos olhos, talvez por estarmos acostumados a ver pessoas nesta situação, o nosso cérebro acaba ignorando essas imagens.
Porém, muitas vezes acabamos por nos sensibilizar e sentimos pena.
Mas continuamos o nosso caminho e alguns minutos depois já esquecemos aquela cena que nos comoveu.
Vamos agora parar um pouco e pensar a respeito dessas pessoas. Por qual motivo elas estão nas ruas? Será culpa dos governantes? Da sociedade? Da família? Ou da própria pessoa que em nenhum momento buscou e tentou uma vida melhor?
De nada adianta, sentir pena, ou dar esmola, se não descobrir o motivo que levou essas pessoas para a rua. Cada caso é um caso, mas grande maioria dos mendigos e moradores de rua têm histórias em comum que os levou até a vida que levam hoje.
Esperam religiosamente por uma refeição caridosa, como se a fome que passam desse para outros tantos. É à noite, onde a vergonha disfarça a consciência de que ser um sem-abrigo é o único meio de sobrevivência de quem já teve uma vida melhor. Mendigar, hoje, em Coimbra, já não é só para os sempre pobres.
Costume de “vida”
Há quase uma década na rua, Miguel (nome fictício), 45 anos, vive há quase uma década na rua. É junto ao café Angola que este senhor se encontra este canto, serve lhe de cama e abrigo para a chuva, mas ainda assim é o único aconchego de uma vida marcada pela solidão e tristeza. “Custa muito. No Verão é mais fácil, mas a cada Inverno que passa, acredito que vou morrer”, desabafou. Ficou sem tecto depois de “muitas aneiras e muita malandrice”. “Agora já não vale a pena. Estou a ficar velho e já não me vou habituar a viver com horas e compromisso”, confessou. Miguel acredita que muitos dos que estão na rua e que partilham o mesmo “cubículo” com ele “já não vão sair”. “É um estilo de vida que dificilmente se abandona”, disse.
"As pessoas têm sido bastante amigas"
Lisete, (chamemos assim) de 53 anos, “dava tudo para ter uma casa e um tecto”. “Está prometida há muito, mas até hoje, nada”, desabafa. Alterna as noites entre um antigo espaço comercial da Baixa e o Terreiro da Erva. “Quando não há ratos dá para ficar lá, mas agora, por exemplo, tenho dormido na rua”, conta. Lisete com a pequena ajuda dos moradores que volta e meia lhe oferecem alguma comida e roupa. “As pessoas têm sido bastante amigas”, confessa com um sorriso tímido na cara. Lisete é das poucas mulheres sem-abrigo na cidade de Coimbra, no entanto afirma não ter medo. Geralmente está acompanhada e já todos a conhecem na zona.
Ajudadas por uma associação
Estas pessoas têm sido também ajudadas por a Casa Abrigo da “Associação Integrar”, na Rua do Brasil. A associação proporciona apoio aos Sem-abrigo da cidade de Coimbra, através de rotinas de passagem normalmente às terças e quintas-feiras para a distribuição de cobertores, vestuário e alimentação. Havendo diversas equipas de entidade pública e privadas a fazer acompanhamento a esta população. Este projecto decorre desde 2004.
“A primeira paragem é numa pastelaria que doa alguns bolos e pães. Costumamos levar uma panela grande de sopa e cerca de 35 refeições preparadas com a ajuda dos Serviços de Acção Social da Universidade de Coimbra. “ Palavras de Sandra, voluntária da associação.
Carinho por parte dos voluntários
Os voluntários desta associação não distribuem apenas roupas e comida distribuem também palavras de afecto e carinho a estas pessoas que já conhecem pelos nomes e histórias. Foi ao médico?; Onde é que está a dormir?; Tem que passar na associação. Perguntas como estas e outras estão sempre presentes. Estes voluntários dedicam grande preocupação a estas pessoas que já lhes são queridas. “Tenho aprendido muito com eles, têm todos, histórias muito diferentes de vida mas todos eles nos ensinam um grande lição por toda a sua experiência.
“Só queria um trabalho para poder voltar”
Pedro, chamemos-lhe assim, explica que chegou há três meses da Roménia, «enganado com uma oferta de trabalho». Com 23 anos, com mulher e filha no país natal. «Só quero arranjar um trabalho que me dê 90 euros para pagar a viagem. Depois não volto mais», garante com mágoa e certeza nos olhos.
Depois de todos estes testemunhos, de todas estas histórias que podemos vir a conhecer ao longo desta reportagem será que já conseguimos responder a todas as perguntas feitas no inicio?
Estas pessoas, são pessoas, iguais a todas as outras. Não é por não terem a sorte de não terem uma casa para morar que vamos ter de olhar para elas de outra forma. Basta uma palavra amiga a estas pessoas para elas não se sentirem tão sozinhas e menos discriminadas. Ajudar quem precisa de nós não custa nada e é tão simples.
Não são bichos, não são animais, são apenas pessoas que não tiveram tanta “sorte” ou regalias mas que têm muitas experiencias e histórias de vida para partilhar com o próximo.
“No outro dia quando ia para o recinto da Queima, passei por um mendigo, ao pé do café Montanha, na Baixa, e fui falar com ele por curiosidade. Na altura nem pensei qual seria a reacção dele mas continuei, quando cheguei ao pé dele, olhou para mim com uma cara um pouco assustada, eu sorri e perguntei se ele precisava de ajuda, ele disse que não, mas eu fiquei mais um pouco à conversa com ele e adorei, ele disse-me coisas tão bonitas.” Conta Jeremias do Carmo, estudante Universitário.
Vamos dar um pouco mais de nós e deixar de ser impotentes com as pessoas que são diferentes. Um sorriso, um gesto uma palavra amiga pode fazer muita gente feliz.
Por: Andreia Santos
Linhas para o horizonte
De olhos semicerrados, numa pequena “jaula”, com os sentidos apurados e um pulso eficaz mas delicado, está aquele que domina o monstro de ferro.
A responsabilidade nas costas, o infinito no rosto e o vazio ali ao lado.
Numa rotina desmedida, o maquinista inicia a sua jornada laboral ao comando do comboio. Ao seu encargo, estão toneladas de responsabilidade, tal é o número de pessoas que tem em mãos ou as valiosas mercadorias que transporta.
Ser maquinista é ainda das funções mais reconhecidas no sector ferroviário. Porém, isso implica trabalho árduo. Quem o garante é o “Sr.Paulo”, condutor de locomotivas e automotoras da Comboios de Portugal há 20 anos: “esta profissão é desgastante a nível dos horários de trabalho porque trabalhamos sempre por turnos, as horas de entrada e de saída são sempre diferentes e acabamos por andar com os horários dormir e de comer sempre trocados”.
A condução de um comboio, na perspectiva deste maquinista parece ser fácil. O painel de botões está muito mais simplificado quando comparado com as máquinas de algumas décadas atrás. A automatização de alguns processos é uma realidade. O condutor já não tem que “tirar a mão do acelerador” ao chegar às passagens de nível, pois a máquina já o faz autonomamente. Daí que as mudanças de velocidade se tornem simples apesar da dimensão e do peso desta lagarta de metal.
Contudo, não se pense que ser motorista é só acelerar, desacelerar ou ir “sempre a direito”. O ingresso nesta profissão implica uma longa e intensa formação, não só a nível da condução de transportes ferroviários mas também em aspectos relacionados com os equipamentos e sistemas do comboio, a segurança dos passageiros, a reparação de avarias e manutenção das máquinas.
Para ser comandante deste comboio, que viaja agora para Coimbra, o “Sr.Paulo” revela: “tive no total 25 meses de formação ao iniciar esta profissão”. Posso dizer que tenho quase uma licenciatura de maquinismo”.
Nesta rotina de vai e vem, as famílias dos funcionários são também sacrificadas pelas sucessivas horas de trabalho sobre carris: “chegamos a passar dois dias sem ir a casa” – confessa o maquinista. Para ele há também um sabor de injustiça: “fazemos horas a mais, o período para a refeição não é ao fim de quatro horas, como está previsto na lei geral do trabalho, é antes ao fim de sete ou oito. Os nossos patrões de certa forma ignoram isto”. E apela – “nós só queríamos os direitos pelos quais lutámos e que conquistámos durante todos estes anos em situações difíceis”.
Já a função de revisor -de fiscalizar títulos de transporte e esclarecer passageiros – parece ter alguns privilégios. O revisor deste comboio, João Alves, confessa que “o cansaço provocado pelos horários é ultrapassado com prazer de contactar com diferentes pessoas e ver bonitas paisagens”.
Estes são homens que se distinguem por viajar sobre linhas de ferro, durante anos a fio, por percorrer grandes distâncias, mas que procuram no horizonte algo comum a todos os passageiros: uma vida melhor.
Número de passageiros aumentou
Nos últimos anos, têm sido frequentes as oscilações registadas ao nível do tráfego de passageiros nos transportes ferroviários. Da óptica de João Alves a tendência é positiva: “parece haver um ligeiro acréscimo de passageiros, apesar de numas linhas se notar mais do que noutras. Na linha do Oeste, entre as Caldas da Rainha e a Figueira, só à Sexta-Feira e ao Domingo regista fluxos significativos. Mas entre as Caldas da Rainha e Lisboa, esta linha acaba por ter muitos passageiros”.
Por: Renato Sapateiro
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