A caixa mágica perdeu o
encanto
Há dias que relembro com saudade
a minha infância, bons tempos, sem preocupações maiores, vivida com inocência e
alegria. Com os velhos amigos recordamos o que foram essas épocas, por muito
curioso que pareça é quase inevitável não referir os desenhos animados que
todos seguíamos fervorosamente, estes eram o “Batatoon”, os “Pokémons”, o
“Dragon Ball”, entre muitos outros.
Como é lógico não me esqueço dos
antigos brinquedos tão estimados, mas é evidente que sempre cresci muito ligada
ao pequeno ecrã. Foram muitas as manhãs, tardes e por vezes dias inteiros em
que não tirava o olhar da minha pequena televisão. Anos mais tarde comecei a
encantar-me por outros conteúdos, a desejar sentar-me na cadeira da Judite de
Sousa ou a cobrir grandes acontecimentos como o José Rodrigues dos Santos.
Hoje aspiro ser jornalista, não
pelo facto de aparecer com os cabelos delicadamente penteados na televisão ou
por ser reconhecida em público. Apaixonei-me pelo jornalismo, pela missão
social que lhe está associada, a profissionais a quem se confia o acto da
informação pública, exigindo-se em troca honestidade e verdade.
Como estudante da área comecei a
reflectir sobre o que realmente me atraía na televisão, nessa caixinha que
temos por quase todas as divisões da casa. Analiso com cada vez mais frequência
os conteúdos exibidos nos canais generalistas portugueses, as conclusões são
evidentes. Somos cada vez mais invadidos por programas de pouco interesse cultural,
com cada vez menos conteúdo informativo, com uma valorização da imagem que
chega a ser exagerada, formatos que apenas se pretendem com a teatralização e
que alcançam grandes audiências.
É necessário perceber toda esta
realidade tendo em conta que actualmente os canais televisivos fazem parte de
grandes empresas mediáticas, com necessidades lucrativas. Assim, a televisão é
vista como um negócio, que logicamente tem de ser rentável. Os conteúdos
apresentados são apenas uma mercadoria, não um produto jornalístico sério que
tenha como grande objectivo satisfazer o interesse público em vez do interesse
do público.
Perante este cenário, é
imprescindível repensar no papel do jornalista. Será possível ser “funcionário
da humanidade” e em simultâneo funcionário da indústria? Se os interesses
económicos se sobrepõem aos valores profissionais, à autonomia e
responsabilidade não há lugar para o exercício de uma profissão ancorada a
valores de liberdade, de expressão e informação e cuja função pública se exige
independente de constrangimentos de poderes políticos e económicos. A classe jornalística
parece demitir-se da sua principal função.
É necessário referir que apesar
de serem poucos os casos, ainda existe jornalismo rigoroso em alguns conteúdos
informativos. No entanto, como consequência do imediatismo da informação
exigido na actualidade, os jornalistas ficam presos a novas rotinas produtivas,
que os impedem de seleccionar, classificar, contextualizar e analisar os
acontecimentos em profundidade. Como amante de arte televisiva, é com algum
desgosto que percebo que muitas vezes a televisão utiliza como principal fonte
o jornalismo tradicional, excluindo-se de uma investigação autónoma. Apesar do
declínio das vendas do jornal em versão papel, é aqui que encontro algumas
publicações de referência, em que denoto que realmente há um grande
envolvimento de profissionais que praticam jornalismo sério, empenhado e
baseado em informar de forma rigorosa, aprofundada e que não contempla fins
meramente lucrativos. Assim, encontramos um ciclo vicioso que afecta os órgãos
de comunicação social portugueses. As publicações de referência tradicionais
enfrentam cada vez mais dificuldades económicas, e, têm poucos meios para por
em prática o jornalismo pautado por valores fundamentais. No entanto, é na
televisão, que apesar de não investir em conteúdos informativos rigorosos, que
há maior receita publicitária.
Perante tamanha desilusão só
posso afirmar que a caixa mágica perdeu o encanto inicial, mas, enquanto estudante
de Comunicação Social, com os meus princípios, valores bem definidos e
acreditando no jornalismo como uma arte, tenho a certeza que um dia será a
minha vez de por em prática tudo o que aprendi, e quando esse dia chegar estará
nas minhas mãos, e dos meus colegas mudar o estado de jornalismo português.
Por : Rosália Costa
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