Após ter visto o novo Bala e Bolinhos, sai da sala a pensar e a
divagar no cinema português. Fiquei triste. Apesar de ter gostado do
filme fiquei chateado a que ponto o cinema português chegou. Foi a
primeira vez que me sentei numa sala de cinema que estava cheia para ver
um filme lusitano.
O cinema em Portugal tem uma grande história
e até pouco tempo atrás era uma peça fundamental da nossa cultura.
Perdeu-se, evaporou-se e cada vez há menos. Não que a sua produção tenha
parado, mas a sua distribuição cada vez é menor. O cinema de
entretenimento ganhou e pôs de parte o cinema como arte e essa mudança é
logo visível com a extinção das salas de cinemas de rua passando de uma
actividade cultural para uma distracção em centros comerciais.
Os
realizadores perderam importância e os actores ganharam ainda mais. Não
importa mais se o filme tem uma boa estória ou se nos faz pensar, o
“mainstream” de hoje em dia quer ver um filme para passar 90 minutos na
repleta ignorância a ouvir o som das pipocas a serem mastigadas,
explosões e gargalhadas. E é ai que Portugal peca. O nosso
entretenimento é medíocre. O povo português quando vai ver um filme
português espera tiros, piada e o nu feminino e quando falamos de César
Monteiro ou Manuel de Oliveira são filmes “lentos” e “chatos”. Não
conseguem ver a beleza de certos planos e de certos diálogos que nos
transportam para ambientes incríveis como em Recordações da Casa Amarela
(João César Monteiro) que é um filme tipicamente português sobre
portugueses. Não estou a dizer que não gosto do cinema de pipoca, porque
todos gostam, mas há mais para além disso. Há toda uma arte e uma
concepção artística e cultural que fazem filmes serem obras-primas e
ficaram na história e em Portugal temos vários exemplos disso e várias
pessoas capazes disso.
Porém, onde estão essas pessoas? Onde está
toda essa criação por parte do nosso povo? Não nos chega. Primeiro
porque o cinema que predomina os circuitos dos nossos realizadores é o
cinema de autor (filmes independentes) e o documental e eles próprios já
não procuram o nosso país, preferindo distribuir o seu produto além
fronteiras em festivais como o de Cannes e o de Berlim onde por exemplo
João Salaviza ganhou o urso de ouro com a curta “Rafa” e como ele há
mais como Miguel Gomes com o seu surpreendente “Tabu” e João Pedro
Rodrigues com “Morrer como um Homem” bastante conhecido lá fora por ter
ganho o prémio de melhor filme gay e lésbico “Mezipatra”, na República
Checa.
Segundo, a única coisa que nos chega são filmes sofríveis
como “Morangos com Açúcar” (mais do mesmo) e coisas do género tentando
imitar o “bluckbuster” americano mas sempre da pior maneira e deixando
para trás o que seria imperativo para nós vermos.
Felizmente em
Portugal ainda há alguns festivais de cinema como o Fantasporto, o Indie
Lisboa e Caminhos do Cinema Português. Estes são quase os únicos meios
que os cineastas lusitanos têm para os seus filmes terem alguma
visibilidade. Mas mesmo assim, nem estes festivais têm grande
visibilidade no nosso país, passando completamente despercebidos pela
maioria. As ajudas são poucas, os patrocínios cada vez menos e os
espectadores cada vez mais escassos.
Assim me pergunto, onde
ficou o prazer e a educação de se ir ao cinema como vamos a um museu, a
uma exposição ou até mesmo ao teatro para vermos uma bela obra de arte.
Já não há aquele entusiasmo de vermos algo que nos vais transportar para
o “outro lado”, que nos vai deixar a reflectir e boquiabertos. Pior
ainda é a falta de cultura e patriotismo do nosso povo em relação ao
cinema e a cultura que não é nem um pouco curioso para saber mais e para
apoiar os filmes nacionais. Onde ficou a cultura cinéfila deste país
que deu origem a um dos pais do cinema? Fico triste com a falta de
interesse.
por: Diogo Sousa
*Este artigo não foi redigido ao abrigo do novo Acordo Ortográfico
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