Era de manhã em Setembro. Fomos acordados pela nossa vizinha que
tocava a campainha freneticamente. “Estão a multar todos os carros
estacionados na nossa rua! Tirem o vosso daí, rápido!” Era verdade. Por
nenhuma razão aparente, um polícia estava a passar multas aos carros dos
vizinhos. A minha mãe apressou-se a tirar o carro dali.
Nos 13
anos que morámos em Marco de Canaveses, nunca tal tinha acontecido.
Questionado, o polícia explicou que devido ao início de obras na estrada
principal da cidade a nossa rua iria fazer parte de um desvio. Como
iria ter muito mais tráfego, os carros não poderiam estacionar-se ali. E
foi assim que começou a saga das obras de reurbanização do Marco.
Este
grande projecto organizado pela Câmara Municipal visa remodelar o
centro da cidade e implica um investimento de cinco milhões de euros.
Pretende melhorar infra-estruturas, como os esgotos e parques de
estacionamento, e facilitar o movimento de veículos e pessoas. Além
disso, vai transformar alguns espaços públicos, como a Casa do Povo, de
forma a serem mais úteis para a população. Tudo isto para o centro ficar
“ainda mais bonito, acolhedor e acessível para todos”, como se pode ler
no site da Câmara. Isto deve impulsionar e dinamizar a economia e o
comércio locais, o que compensará o investimento inicial. O resultado
final parece promissor mas, por enquanto, reina o caos.
O plano
divulgado inicialmente era remodelar a estrada principal por fases, mas
já na primeira fase de obras a construtora foi contactada e pedida para
avançar com outra etapa ao mesmo tempo. Agora, o barulho das obras enche
os ouvidos e onde antes ficava a estrada está apenas um buraco cheio de
terra que atravessa a cidade. Em dias secos a poeira levantada evoca o
Velho Oeste americano e fica presa na garganta dos moradores. Com a
chuva, as ruas ainda abertas escorrem rios de lama. A pacata rua onde
moro tornou-se numa rua muito movimentada, usada frequentemente por
autocarros e camiões do lixo. Ao depararem-se com o desvio, os
condutores param, confusos, e causam filas de trânsito, antes de
seguirem pelo único caminho disponível. Os dias de feira, então, são uma
loucura. Para os moradores emaranhados nesta confusão torna-se difícil
ter paciência e esperar pelos efeitos que a longo prazo serão positivos.
2013 é ano de eleições autárquicas e o actual presidente não
pretende perder. Embora seja tradição fazer obras públicas antes das
eleições, esta poderá ser a campanha de reorganização mais profunda que a
cidade já viu. Com as obras a afectarem os negócios de alguns dos
moradores, como a fábrica e as lojas na estrada principal, será que os
benefícios se vão fazer sentir e cobrir os prejuízos actuais a tempo das
votações? Ou será que a presidência está a dar um tiro no pé? Só o
tempo dirá.
por Amy Gois
O artigo não está escrito ao abrigo do novo Acordo Ortográfico
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