A reorganização administrativa das freguesias no
território português já foi desenhada pela Unidade Técnica (UTRAT- Unidade
Técnica para a reorganização administrativa do território) nomeada pelo
Governo, no entanto a última palavra cabe à Assembleia da República.
Maria Isabel Sousa |
O entusiasmo, face a esta situação, por parte dos
municípios não foi o desejado, muito pelo contrário, o processo ficou marcado
pelo descontentamento e por várias polémicas e manifestações. Assim espera-se
que cerca de 1165 freguesias sejam agregadas, envolvendo mudanças em 230
municípios.
Deste modo, Maria Isabel Sousa apresenta-nos o seu
parecer enquanto Presidente de Junta da Freguesia de Silva pertencente ao
distrito de Viana do Castelo e concelho de Valença, uma das quais afetadas por
esta agregação.
Posts de
Pescada: Antes de mais, há quanto tempo está à frente dos destinos da Junta de
Freguesia?
Isabel
Sousa: Comecei por fazer parte da comissão política da minha freguesia há
alguns anos atrás, fazendo parte da Assembleia de Freguesia. Mais tarde,
tornei-me secretária da junta e durante um ano e meio estive à frente da
freguesia em substituição à anterior presidente. Nessa altura e, durante esse
percurso de inteira responsabilidade, no ano de 2009 decidi candidatar-me como
Presidente da Junta. Enquanto autarca é com imenso prazer que desempenho e
assumo as minhas responsabilidades.
P.P: Que
balanço faz do trabalho desenvolvido enquanto Presidente da Junta?
I.S: Até
ao momento, já consegui melhorar e restruturar grande parte desta freguesia. É
com grande satisfação que o faço, pois o facto de construir soluções para o
bem-estar da população, deixa-me um importante sentimento de dever cumprido.
Espero dar continuidade a todas as ações a que me comprometi no meu programa
eleitoral, pelo que o balanço é muito positivo!
P.P: As
juntas de freguesias correm o risco de fechar portas para se unirem a outras. A
Freguesia de Silva é uma delas. Qual a sua opinião enquanto Presidente?
I.S: Esta
reforma põe em causa a identidade das freguesias, a sua toponímia, a sua
história e cultura. Nesta freguesia este assunto é encarado com muita revolta, pois
todos os habitantes da mesma estão contra esta união/extinção. Esta opinião dos
habitantes foi confirmada através de um abaixo assinado, onde se pôde constar
que a freguesia na sua totalidade (100%) estava contra esta agregação.
P.P: Considera
pertinente a união ou extinção de algumas Juntas de Freguesia do concelho?
I.S: Considero um pouco
disparatado e sou contra essa reforma, pois tenho muitas dúvidas de que esta
decisão consiga reduzir custos. Há assuntos que só uma junta pode tratar dada a
sua proximidade, pelo que a sua extinção trata outro tipo de custo para além do
económico.
P.P: A
freguesia da Silva é autónoma ou dependente do Município?
I.S: A freguesia não tem fontes de
rendimento próprias e, dada a sua dimensão é totalmente dependente do
Município.
P.P: A freguesia de Silva é uma das
freguesias que se vai agregar a outra mais próxima. Quando acontecer essa
união, qual vai ser o seu papel, ou o que é que vai mudar?
I.S: Sim,
a freguesia de Silva irá agregar-se a São Julião, uma freguesia limítrofe.
Quando se der esta união o meu papel enquanto Presidente termina, visto que
terá de ser eleito um novo representante. Possivelmente, irei recandidatar-me
mas no entanto está tudo ainda muito incerto.
P.P: Que
consequências esta união pode vir a trazer para os habitantes da freguesia?
I.S: A
agregação desta freguesia trará com certeza muitas consequências, devido não só
á deslocação que as pessoas terão que fazer para se dirigirem á freguesia vizinha sempre que
necessitarem, mas também á perda da sua identidade, a sua história, os seus
costumes, tradições. Penso que as pessoas se sentirão menos identificadas com
os seus representantes, perderão o à vontade para expor os seus problemas o que
levará a um aumento de necessidades não identificadas.
Por tudo isto todos se sentem revoltados,
uma vez que esta é uma medida que visa destruir o Poder Local.
P.P: Se
dependesse de si, continuaria a exercer o cargo como Presidente?
I.S: Sim,
por vontade própria continuaria com todo
o gosto a exercer este cargo.
P.P:
Gostaria de deixar alguma mensagem face a esta situação que está a atingir
milhares de freguesias pelo país?
I.S: Mais
do que deixar uma mensagem, gostava apenas de demonstrar a minha inquietação
relativamente a esta realidade da agregação de freguesias, pois, mais do que a
incerteza se esta decisão levará ou não á efetiva redução de custos, como
autarca, preocupa-me que esta decisão, em ambientes rurais como é o nosso caso,
origine uma menor atenção e cuidado com as pessoas mais desfavorecidas/mais
velhas, pois perdendo-se a pao se perder a proximidade acaba por se perder
também um pouco a sensibilidade para estes problemas sociais.
Por: Sofia Sousa
*este artigo está ao abrigo do novo acordo ortográfico
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