As minhas marcas, a partir de
agora, sou eu que escolho. A minha primeira tatuagem fez oito anos no mês
passado. Lembro-me como se fosse hoje, o batimento cardíaco acelerado e as mãos
transpiradas de excitação ao sentir a agulha pela primeira vez a rasgar a minha
pele.
Fonte: http://tattoismo.wordpress.com/ |
Carregamos cicatrizes pela vida
fora. Alguém que descarregou as suas frustrações em cima de nós, alguém que foi
embora quando mais precisávamos, um ex-namorado que despedaçou o nosso coração,
uma amizade que terminou sem motivos, alguém que a vida (ou a morte) levou mais
depressa do que gostaríamos.
Quando olho para dentro, vejo crateras
profundas, feridas que sangram até se transformarem em cicatrizes, muitas
vezes, visíveis ao olhar nu dos outros. É la que está a dor. Dor estampada,
bordada a linhas de cores fluorescentes e não me foi dada a escolher a cor que
queria, a forma ou a textura da marca. Não houve opção de escolha no desenho,
nem do profissional que a iria eternizar. Mas querendo ou não, elas estão ali,
sem possibilidade de as esconder com roupa ou maquilhagem. São as minhas
marcas, as minhas cicatrizes, as minhas vivências, a minha dor ou as minhas
alegrias.
E lá vem alguém dizer, mais uma
vez, “Não te vais arrepender de tatuar
isso?”. A resposta é simples. Se me arrepender, aprenderei a conviver com a
minha escolha, como aprendi a viver com as outras, aquelas que não escolhi.
Porque, pelo menos, estas eu pude escolher.
Sempre fui contra a ideia de
aceitar as imposições da vida. Fui uma criança difícil, uma adolescente rebelde
e, agora, uma adulta livre, que escolhe o seu caminho, torto, por atalhos ou
curvas. Não tenho medo de me perder para me encontrar. Mas para ilustrar o
livro das minhas viagens, levo as minhas marcas tatuadas, por dentro e por
fora. Convivo com as escondidas e escolho as visíveis. Porque independentemente
do que carrego, a vida corre debaixo dos meus pés.
Por: Laura Duarte
O artigo está escrito ao abrigo do novo Acordo Ortográfico
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