“A nível nacional,
morrem todos os anos 40 a 100 jovens por causada morte súbita cardíaca.”
Fonte: http://5minutos1vida.com/ |
As
doenças cardíacas são a quinta causa de morte em Portugal, nos jovens, entre os
18 e 35 anos, sendo a morte súbita cardíaca a responsável pela sua maioria. O
projecto “Dá-nos cinco minutos e nós damos-te uma vida”
surgiu com o intuito de precaver e alertar para uma das causas de morte mais
proeminentes nos jovens da nossa população. O cardiologista e coordenador do projecto, Dr.
Rui Providência, realçou a importância do rastreio, que pode fazer toda a
diferença!
Posts de Pescada – Como é realizado o rastreio? Quais os procedimentos seguintes depois
da verificação de alguma anomalia no coração?
Dr.
Rui Providência - O princípio do
rastreio é detectar um grupo restrito de jovens que possa ter doenças cardíacas
que o coloque em risco. Como todos os rastreios globais baseia-se em exames
rápidos, mas eficazes para fazer essa separação. Um resultado negativo pode
deixar os jovens relativamente descansados. Um resultado positivo só por si não
define a presença de uma destas doenças, mas coloca a necessidade de realização
de mais alguns exames a confirmar.
O rastreio
baseia-se num questionário, de forma a avaliar a presença de sintomas e
história familiar que possam indiciar algum risco, e no Electrocardiograma, que
pode mostrar a presença de doença estrutural ou eléctrica.
P.P. – O que é a morte súbita cardíaca?
Dr. R.P. - A definição utilizada internacionalmente é a
seguinte: “A morte súbita cardíaca é a morte
inesperada de causa cardíaca em que o intervalo que decorre desde o início dos
sintomas até ao evento fatal é inferior a uma hora.”
P.P. – Quais são os sintomas mais frequentes desta patologia?
Dr. R.P. - Frequentemente (em mais de
metade dos casos) podem existir sintomas prévios. Porém, temos duas
dificuldades: por vezes esses sintomas também são frequentes em jovens que não
têm doenças cardíacas, e por isso não têm risco. Por outro lado, cerca de 1/3
dos casos podem ter um evento trágico sem ter sintomas prévios.
Como se pode
então resolver esta questão? Acoplando a realização de um Electrocardiograma.
Assim, se uma pessoa tiver sintomas ou alguns factos que por vezes nos
preocupam (história familiar de morte súbita num familiar directo antes dos 50
anos, ou um episódio de síncope, nomeadamente se acontecer em esforço, ou
episódios de palpitações rápidas/sensação de coração acelerado em repouso) em
associação a alterações do Electrocardiograma, podemos classificá-los como
indivíduos em risco. Por outro lado, mesmo que não tenham sintomas sugestivos,
a presença de certos padrões do Electrocardiograma serve, só por si, para
detectar risco elevado.
P.P. – A miocardiopatia hipertrófica ocorre com mais frequência nos jovens.
Porém existem outras doenças cardíacas, quais?
Dr. R.P. - O síndrome de Wolff-Parkinson-White é
bastante frequente (1 em cada 300 jovens). Depois temos a miocardiopatia
hipertrófica (1 em cada 500) e outras doenças mais raras, mas que já tivemos a
oportunidade de detectar ao longo destes meses: a não compactação do ventrículo esquerdo, o Síndrome de QT
Longo, o Síndrome de Brugada, a displasia arritmogénica do ventrículo direito,
etc.
P.P. – Estamos na Era das novas tecnologias. A ciência faz todos os dias
novas descobertas. Actualmente, quais são os novos tratamentos possíveis para
ajudar a prevenir a morte súbita cardíaca?
Dr. R.P. - Dependendo das doenças em questão temos
diferentes tratamentos. Se falamos de um síndrome de Wolff-Parkinson-White o
tratamento é a ablação percutânea por radiofrequência. De uma forma bastante
simplista, trata-se de um método invasivo em que são realizadas picadas na
“virilha” para a introdução de sondas que viajam até ao interior do coração.
Aí, detectam um “fio eléctrico” que se encontra em excesso e é responsável por
uma espécie de “curto-circuito” que pode levar à ocorrências de arritmias
graves. Depois de detectado, pode ser realizada a ablação por radiofrequência.
De uma forma simples, podemos dizer que esse “fio é queimado”.
Em doenças
como o Síndrome de QT longo e não compactação do ventrículo esquerdo, o
diagnóstico pode servir para começar medicação para proteger o doente.
O
cardioversor desfibrilhador implantável é uma opção nos casos de doença (não
compactação do ventrículo esquerdo,
Síndrome de QT Longo, Síndrome de Brugada, a displasia arritmogénica do
ventrículo direito) associados a outras alterações de risco nos exames. Este
pequeno dispositivo é um computador altamente especializado que é colocado
debaixo da pele e detecta a informação sobre tudo o que se passa em termos
eléctricos a nível do coração, através de sondas que o ligam directamente ao
músculo cardíaco. Na presença de uma arritmia potencialmente fatal ele entrega
muito rapidamente o tratamento eficaz.
P.P. – O desporto de alta competição
aumenta o risco de morte súbita cardíaca (para duas vezes mais). O projecto
teve com base o exemplo italiano realizado em desportistas, porquê?
Dr. R.P. - A Itália é o exemplo a nível Mundial do
sistema mais evoluído na triagem de atletas. Este sistema encontra-se
devidamente legislado, existindo Centros especializados a nível Regional que
avaliam todos os atletas de alta competição e olímpicos de forma protocolada.
Desta forma, conseguiu-se diminuir o número de óbitos em 90% nos últimos 20
anos.
P.P. - Um indivíduo que tenha nascido sem
qualquer anomalia aparente pode desenvolver uma patologia cardíaca?
Dr. R.P. - Muitas vezes, as pessoas já nascem com uma
alteração genética mas que só se manifesta mais tarde. Por exemplo, a
miocardiopatia hipertrófica pode, por vezes, só se manifestar depois dos 40
anos. Em casos extremos, mas raros, mesmo as pessoas que não têm alterações, se
tiverem uma infecção viral e desenvolverem uma miocardite (inflamação do
músculo cardíaco) podem ficar em risco. Dessa forma, é muito importante a
realização periódica do Electrocardiograma.
P.P. - O cidadão comum pode intervir de
alguma maneira para ajudar uma pessoa que está em morte súbita?
Dr. R.P. Existem coisas simples que
todos nós podemos fazer.
1º Se não detectarmos pulso ou
respiração na pessoa em questão devemos chamar imediatamente o 112.
2º A realização de suporte básico de
vida (massagem cardíaca e suporte de ventilação) pode fazer toda a diferença.
Qual o fundamento para isto? Trata-se de numa situação de paragem cardíaca
tentar manter de forma artificial (compressão externa) a função de bomba
cardíaca e a oxigenação (ou por respiração boca a boca, ou com máscara ou
outros dispositivos).
Cada vez mais
vão surgindo formações para leigos sobre este assunto. No nosso País ainda vão
escasseando, mas tenho doentes que só sobreviveram a episódios de morte súbita
cardíaca abortada porque algum familiar ou amigo os manteve em massagem
cardíaca enquanto o INEM/VMER não chegava.
P.P. O projecto iniciou-se em Fevereiro de 2012, com o objectivo de incluir
o maior número de jovens possíveis (cerca de 20.000). Qual é o balanço que faz desde
o início até agora?
Dr. R.P. Atingimos os 11.000
participantes muito recentemente. Julgo que iremos ficar perto dos 15.000 no
final. Trata-se do maior rastreio do género (jovens não desportistas e
desportistas) realizado a nível Mundial (dado que todos os outros estudos se
focam em desportistas apenas).
Detectamos
vários casos de doenças cardíacas de risco em jovens que não faziam a mínima
ideia de que teriam qualquer tipo de problema. Trata-se de facto de uma minoria
de 30 participantes, mas que possuíam um risco de morte súbita que variava
entre 10% e 50% nos próximos 10 anos. Desta forma, sabemos que conseguiremos
alterar positivamente a vida destas pessoas e esperamos sensibilizar os
organismos competentes para tal, a nível nacional e internacional, para que
esta prática se generalize. A nível nacional, morrem todos os anos 40 a 100
jovens por causa da morte súbita cardíaca. Diminuir este números em 90% faria
toda a diferença para muitas vidas e famílias.
Para mais informações consulte:
http://5minutos1vida.com/
por: Márcia Alves
*Este artigo não está de acordo com o novo Acordo Ortográfico
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