“Querido Pai Natal, este ano eu gostava
de receber…” ora, era assim que as revistas de brinquedos dos vários
hipermercados começavam a carta para as crianças enviarem ao Pai Natal. Quando
era pequena, escrevi várias vezes para ele a pedir inúmeros brinquedos e, a
verdade é que sempre conseguia um ou outro. Sabia perfeitamente que o Pai Natal
não existia e que quem comprava o que eu queria era a minha família, mas aquela
coisa de escrever uma carta era sempre algo de engraçado. Era uma miúda com
sorte, bastava querer uma coisa e debaixo da árvore lá aparecia ela. Mas a
minha mãe sempre me disse que as coisas não eram assim com toda a gente.
Sempre fui uma criança que sabia do que
se passava pelo mundo fora. Sabia que fora do “meu mundo” existiam crianças sem
brinquedos, sem comida, sem escola e alguns até sem família. Fui habituada a
viver os meus natais com crianças órfãs que a minha tia trazia do lar onde
trabalhava. Ainda hoje isso acontece. São crianças tímidas mas espantosas.
Tiveram de aprender a fazer tudo sozinhas desde muito cedo e nunca tiveram nada
do que queriam. A família delas são os lares que as acolhem, são as outras
crianças que lá vivem, são os empregados dos lares que fazem tudo para eles
terem uma vida minimamente feliz.
Lembro-me de um menino, há uns três ou
quatro anos atrás, a quem a minha mãe perguntou o que ele gostava de receber no
Natal, e ele apenas respondeu: “queria um cão de peluche mas não tenho dinheiro
para o comprar”. Esse menino passou o Natal connosco e demos-lhe o tal “cão de
peluche”. Não me lembro de ver uns olhos brilharem tanto como os dele naquela
noite. Agarrou-se a nós a chorar e a agradecer. São coisas assim, simples, que
deixam as crianças felizes, basta carinho e fazê-los sentirem que têm alguém a
cuidar e a olhar por eles.
Nos dias de hoje, principalmente com a
crise que tem atingido não só o nosso país como o resto do mundo, há cada vez
mais crianças em lares, bebés deixados às portas das pessoas ou encontrados em
caixotes do lixo porque os pais não têm condições de os criar. E, é nesta
altura, no Natal, que eles mais precisam de alguém, de algo parecido com uma
família.
O dinheiro tornou-se num factor de
extrema importância para os portugueses. Nas notícias só se houve falar de
tragédias, da crise, de coisas tristes. O espírito natalício já não é o mesmo.
Para muitas pessoas nem há vontade de fazer uma simples árvore de natal. Não há
dinheiro, não há prendas, e se não há prendas não há Natal. Mas porque é que
têm as pessoas de pensar assim? Sempre ouvi dizer que o importante no Natal era
a família estar toda reunida e não o haver prendas ou não. E se estas crianças
pensassem assim? A diferença está ai. Elas não têm uma mãe, um pai, um avô ou
uma avó. Elas não se preocupam em receber prendas ou não. Só lhes importa que
não estejam sozinhas. E é isso com que nós, portugueses, temos de nos preocupar.
Temos de deixar de pensar que não há dinheiro para isto ou para aquilo, porque
um dia podemos ser nós a não ter ninguém num outro Natal.
As crianças órfãs ficam felizes com um
abraço, com um mimo. Por isso, neste Natal, vamos tornar tudo um pouco
diferente, deixar as preocupações de lado, deixar o problema do dinheiro de
lado e viver o Natal no seu verdadeiro significado, com as nossas famílias.
Querido Pai Natal, que este Natal seja
diferente de todos os outros!
por: Vânia Santos
*Este artigo não está de acordo com o novo Acordo Ortográfico
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