15 anos, 18 cidades, perto de 40 filmes, é
sinal de que o Cinema Francês ainda não morreu. Nesta 15ª edição da “Festa do
Cinema Francês”, o TAGV em Coimbra deu a conhecer dramas, comédias, animações e
umas quantas antestreias. A principal novidade foi a presença de dois
realizadores cujos filmes também fizeram parte da seleção do Festival de
Cannes.
Uma programação que acaba com estereótipos
Em entrevista na AF a Amina Mazouza |
Contando
com uma parceria entre a Embaixada Francesa, o Instituto Francês e a “Alliance
Française”, a “Festa do Cinema Francês” é uma iniciativa que conta com várias edições de
grande êxito. A capital portuguesa é ainda a cidade com maior adesão,
seguindo-se Coimbra. A par das sete cidades que receberam a festa no ano
passado, assistiu-se este ano a uma expansão para quase vinte localidades
portuguesas. “A Festa na Aldeia” foi outra inovação marcante do festival e teve
como finalidade levar a magia do cinema francês a todo o país, inclusive às
localidades com menos acesso a este género de programação. Deste modo, os três
organizadores fulcrais da festa realizaram, pela primeira vez, sessões de
cinema utilizando ecrãs insufláveis. Sobre a atividade, Amina Mazouza, diretora
da “Alliance Française” de Coimbra, ressalva que é “o cinema francês a ir ao
povo e não o povo a ir ao cinema.”
Numa tentativa de acabar com o estereótipo romântico
do cinema francês, a edição deste ano, apresenta uma visão mais moderna e
plural da sétima arte em França. Segundo Amina Mazouza, estes filmes “refletem
a França de hoje, uma França multicultural.”
A Cidade universitária fiel ao “Septième
Art”
Coimbra
é a segunda cidade com maior adesão à Festa do Cinema Francês. Em 2014, foi
celebrada no Teatro Académico Gil Vicente (TAGV)
e contou com a visita de centenas de pessoas que se deixaram envolver nas obras
cinematográficas apresentadas. A “curiosidade que move o grande público” é o
principal motivo que leva tantas pessoas ao TAGV, afirma a diretora da
“Alliance Française”. Este ano, a festa contou também com a presença, em
Coimbra, de dois realizadores, Fabianny Deschamps e Pascal Tessaud, que tiveram
a sua obra em exibição.
O sucesso das edições anteriores é tido em conta, mas
a qualidade e diversidade do cartaz é também um fator decisivo para o êxito de
cada edição. Este ano, a Festa do Cinema Francês conta com um cartaz variado,
composto por filmes comerciais e obras independentes; assim como sessões
escolares gratuitas. Entre a seleção de filmes, alguns são os escolhidos do
Festival de Cannes. A programação do cartaz é da responsabilidade de Jean
Chrétien Blanc que, de acordo com as cidades, decide a programação.
Para além de haver um público jovem e interessado no
cinema, Amina Mazouza frisa que os sessenta anos da Alliance Française em
Coimbra permitem a existência de um público fiel. Este tem vindo a ser
conquistado ao longo dos anos, o que ajuda a criar uma nova geração de
frequentadores da “Festa”.
O público da “Festa” não quer ver o cinema da
“Nouvelle Vague”. Vem, por conseguinte, celebrar “a morte do estereótipo do
cinema francês”, tal como anunciam os cartazes e flyers espalhados pela cidade.
A diferença entre o novo cinema francês e o seu estereótipo reside, por
exemplo, no fim do cinema romântico e romantizado e da Torre Eiffel como tela
de fundo e personagem principal. O cinema francês debruça-se cada vez mais
sobre as vidas das pessoas que vivem na França contemporânea, retratando-as de
uma forma nua e crua. Exemplo disso, é a longa-metragem “Brooklyn”, de Pascal
Tessaud.
KT Gorique e “Brooklyn” são o “lado B” de
Paris
Fotograma de "Brooklyn" |
Com
um título que remete para os EUA, Pascal Tessaud apresentou ao público
conimbricense, no TAGV, a sua primeira longa-metragem. “Brooklyn” é um retrato
social do Paris dos subúrbios, refletindo sobre o peso que a cultura hip-hop
tem nos jovens da periferia. Em tertúlia no TAGV, o realizador explica que o filme
“mostra todo o potencial criativo que há nas periferias de França” que reside
na juventude, ainda que, “os media a estigmatize constantemente”. Isto
traduz-se num fenómeno de “racismo grave” em França, pelo “medo que se tem
desses jovens, jovens que só precisam de amor”. Pascal Tessaud propôs-se a
desligar-se inteiramente da escola do cinema francês, que é, por sua definição,
“uma estrutura aristocrática”.
O realizador retrata a sua própria realidade social
com toda a lealdade possível, filmando toda a longa-metragem em Saint-Denis, um
subúrbio parisiense, apenas com moradores do bairro. O elenco contava apenas
com dois atores tendo uma experiência profissional na área. A própria atriz
principal, que se apresenta como “KT Gorique”, estreou-se na grande tela com
este projeto. O cineasta acredita que “uma mulher negra como protagonista é uma
ferramenta de autoestima para todas as mulheres”, uma vez que o rap em França
trata mal as mulheres. Já em tom de brincadeira, acrescenta que “este é quase
um filme feminista”.
“Brooklyn” é, então, uma crónica do dia-a-dia da
juventude dos subúrbios franceses. Depois de “perder a confiança e esperança
nas instituições”, Pascal Tessaud afirma-se como realizador e produtor
independente ao produzir um filme sem dinheiro, nem recursos, nem “equipa
técnica de 20 pessoas”. Defende que não se deve “pedir autorização aos
professores” para se fazer um filme, ao estilo de Martin Scorcese, exemplo que
deu múltiplas vezes durante a tertúlia e em entrevista. É um filme que ele descreve
como sendo “do povo, pelo povo e para o povo”, cuja primeira apresentação foi
exclusivamente para a população de Saint-Denis – a maioria da qual nunca tinha
sequer entrado numa sala de cinema.
Bruna Becegatto Costa - texto
Bruna Dias - texto
Daniela Bulário - texto
Vanessa Alves Ferreira - tradução e texto
Zita Moura - fotografia e texto
Félicitations à toute l'équipe pour votre professionalisme ! :) Sans oublier votre sympathie. Amina Mazouza
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