A UNESCO financiou, em 2014, 86 projetos de solidariedade
social, pertencentes à organização “Criança Esperança”, que ajudaram as cerca
de 48 mil crianças envolvidas nos diversos projetos. Estas acções visam,
através da cultura ou do desporto, aliar-se à educação, e ajudar crianças e
adolescentes residentes em favelas, no Brasil, a integrar-se na sociedade.
Estas ações contaram com o apoio indispensável de
voluntários e Filipa Vieira, aluna de mestrado em Lisboa, passou dois meses em
Florianópolis, inserida no projecto que colaborava com a favela Boa Vista.
Porque
é que decidiu envolver-se neste projecto de solidariedade no Brasil?
Já há muito tempo que fazia voluntariado em pequenas associações
em Lisboa, mas sempre tive vontade de envolver-me em acções que envolvessem
mais pessoas, especialmente crianças. A oportunidade de ir para o Florianópolis
surgiu quando me mostraram a parceria que existia entre a associação para que
colaborava e a “Criança Esperança”.
De
todos os projetos, dentro da “Criança Esperança” porque é que escolheu o
“Esporte Cidadania”?
Desde pequena que pratico desporto e sou apologista que o
desporto, qualquer que seja, é uma forma de integração. Tive a oportunidade de
praticar desporto e ajudar a passar às crianças valores de ética desportiva que
devem ser aplicados no dia a dia.
Que
trabalho desenvolveu com as crianças?
Trabalhei
com crianças que viviam na favela na Boa Vista, e estas crianças, por viverem
nestes bairros, carregam uma imagem pejorativa para a sociedade. O que nós
tentamos fazer foi, mudar mentalidades, mas através dos comportamentos destas
crianças e adolescentes.
Como
foi realizado esse trabalho?
Através de
desportos de equipa, sobretudo com o futebol. Aqueles miúdos são uns
verdadeiros apaixonados. Todos têm o sonho de poder a vir a ser o novo Pelé ou
o próximo Ronaldinho, mas o que nós tentávamos fazer primeiramente, era passar
os valores do desporto e como eles podiam utilizá-lo nas suas vidas.
Aquelas
crianças convivem todos os dias com drogas, armas e violência. Tentámos que
elas criassem uma mentalidade forte, associada ao desporto e à vontade de
vencer, e que procurem fintar os obstáculos que lhes hão-de aparecer na vida.
Para além do desporto,
desenvolviam outras actividades?
Sim.
Aliávamos as actividades desportivas com pequenas formações de prevenção de drogas, álcool e
tentávamos ainda promover comportamentos éticos e as relações com outras
pessoas.
Quais é que são as maiores
benesses do programa “Esporte Cidadania”?
Creio que este, como outros projetos de integração social, levam o seu
tempo a mudar mentalidades, mas muitas das crianças que lá estavam sabem diferenciar
o certo do errado, que para serem bons profissionais no futuro, terão de pôr em
prática aquilo que aprenderam connosco e que a educação é muito importante. Foi
muito difícil para eles aprender, e ainda hoje é, o que é o trabalho de equipa,
porque muitos dos jovens que lá estão, já se habituaram a contarem apenas com
eles próprios e não conseguem confiar noutras pessoas.
Que papel
teve a mentalidade desportiva na educação?
Quando estive no Brasil, o projecto já decorria e muitas das crianças
já estavam de férias da escola. Mas pelo que pude perceber, a maior parte
delas, teve um rendimento melhor desde que estão no “Esporte Cidadania”. Elas
conseguiam colocar a mentalidade desportiva na sua vida quotidiana.
E como foi
para si, o contacto com esta nova realidade?
É uma cultura de facto diferente da nossa mas ao mesmo tempo com muitas
semelhanças. Nunca tinha tido a oportunidade de estar perto das favelas e da
sua realidade. Apesar de não ter vivido na Boa Vista no período que estive no
Brasil, já que os voluntários tinham sítio para ficar fora da favela, o
contacto era de certa forma permanente. O campo onde fazíamos as atividades
desportivas era perto, mas em momento algum me senti em perigo.
Para si, o
leva desta experiência?
Como referi, já tinha trabalhado antes como voluntária, mas esta foi de
facto uma experiência muito enriquecedora porque tive a oportunidade de
trabalhar com crianças que vivem numa realidade que é distante da nossa.
Posso dizer que as crianças também me ajudaram. É muito comum ouvir-se
que favela é só tráfico e violência, mas não é apenas isso. Há pessoas que são
diferentes e que lutam todos os dias para dar algo melhor à família e que
tentam que os filhos saiam daquele panorama de violência. Ser voluntária no
Brasil foi uma experiência enriquecedora.
Por: Cláudia Teixeira
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