Andreia Oliveira, 32 anos, Coimbra. Há conversa com alguém
cujos “heróis” vivem no reino da Casa Acreditar.
O que é que a levou a abraçar o
voluntariado?
Decidi dedicar-me ao voluntariado
porque gostava de me sentir útil e poder contribuir para melhorar a vida de
alguém, nem que fosse apenas por breves momentos. Considero que é um gesto
nobre, onde um bocadinho de ti pode marcar a diferença na vida de outras
pessoas.
A sua escolha recaiu sobre a
missão da Acreditar, que é direccionada para crianças doentes. Porquê o
voluntariado nesta área?
Em primeiro lugar, adoro crianças e
quando decidi fazer voluntariado, a minha ideia inicial era poder fazer parte
do seu mundo. Por outro lado, como editora de conteúdos estou ligada à área da saúde
e trabalho há muitos anos com a temática da oncologia pediátrica - esta é
portanto uma realidade que conheço na teoria, mas que tinha intenção de
conhecer mais de perto - por isso, pensei que seria uma oportunidade única.
A Acreditar define-se como uma
associação de pais e amigos de crianças com cancro. Porquê ajudar crianças numa
fase tão delicada?
É uma área sensível mas, por isso
mesmo, desafiante, e achei que faria todo o sentido conhecer melhor esta
realidade e poder ter um papel activo junto de crianças que, infelizmente, se
vêem arrastadas para um mundo que as obriga a passar por provações que ninguém
deveria ter que percorrer. Sentires que, com apenas um pouco de ti, podes devolver
um sorriso a uma criança que está a passar por situações e sofrimento que são
alheias à maior parte das pessoas, é algo extraordinariamente motivador. Embora
não possas fazer muito para aliviar a dor e os medos, tens consciência de que,
em apenas algumas horas, consegues fazê-las esquecer, por um bocadinho, que são
doentes, e lembrar-lhes que são crianças iguais a todas as outras.
Mas muitos não teriam essa
coragem. Teve receios?
Confesso que tive muitos. Sou
extremamente sensível e até me sinto muito “pequenina” e facilmente
impressionável, por isso, estar perto de crianças que são, sem dúvida,
“pequenos grandes heróis” foi um superar de barreiras para mim enquanto ser
humano. Logo, foi de extrema importância passar por uma experiência destas,
para que pudesse “crescer” e enfrentar esses mesmos medos.
Qual foi o impacto inicial quando
começou o voluntariado?
Superou todas as minhas expectativas.
Perceber que as crianças que passam por uma doença como o cancro e os
tratamentos que lhe estão associados com uma alegria de viver contagiante e uma
força interior inimaginável é algo indescritível. Esse postura na criança é genuína
e provém de uma inocência que lhes está inerente. Nós, enquanto adultos, devido
às experiências, vivências e conhecimentos adquiridos, definitivamente não
temos essa capacidade de encaixe e essa forma de estar e viver a vida.
Sente-se uma pessoa diferente,
então?
Sim, sem dúvida. Viver de perto estas
situações e esta realidade dá-te uma perspectiva completamente diferente dos
teus próprios problemas e da forma como encaras as pequenas privações e aqueles
mal-estares triviais que assombram o teu dia-a-dia. Quando te deparas com
situações delicadas como estas percebes que a dimensão que dás muitas vezes a
pequenas coisas deixa de fazer qualquer sentido. Garantidamente, passas a
encarar a vida de outra forma.
E quais as suas perspectivas
futuras?
As minhas perspectivas são continuar a
ajudar naquilo que me for possível, dedicando o tempo que passo na casa da Acreditar
a brincar e a distraí-las, para que não se esqueçam nunca que não deixam de ser
crianças.
Para terminar, e fazendo uma
retrospectiva, teria escolhido ser voluntária há mais tempo?
Sim, sem pensar duas vezes. Obviamente
que há uns anos atrás não tinha a percepção de que apenas algumas horas do meu
tempo poderiam fazer toda a diferença. Actualmente, dedico 3 horas por semana
ao voluntariado, e percebo que a única coisa que precisas para o fazer é
querer.
Tiago
Guedes
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