David Santiago |
David Santiago, 21
anos, é, atualmente, militar no Campo Militar de Santa Margarida, maior
instalação militar portuguesa em termos de guarnição e a segunda maior em
termos de área ocupada e uma das maiores instalações militares da Europa. Em
estilo de confissão, o jovem revela-nos alguns dos seus objectivos e os seus
maiores medos.
Sempre quis seguir
carreira militar?
Sim, é um sonho desde miúdo. Sempre vi filmes de guerra e
ação com o meu pai, que despoletaram o meu interesse pelo Exército.
Está no Exército há
quanto tempo?
Estou no Exército desde 7 de Maio de 2012, portanto há dois
anos e seis meses.
Para o recrutamento,
o que é que é preciso?
Para o recrutamento é preciso ter Nacionalidade Portuguesa; ter
pelo menos 18 anos de idade, à data da incorporação; ter aptidão psicofísica
adequada; não estar inibido ou interditado do exercício de funções públicas; não
ter sido condenado criminalmente em pena de prisão efetiva; possuir situação
militar regularizada; possuir habilitações literárias adequadas ( 9.º ano para
a categoria de Praças, frequência de ensino superior ou licenciatura (na área
de Saúde) para a categoria de Sargentos, licenciatura ou mestrado integrado
para a categoria de Oficiais).
Quanto à recruta, foi
o que estava à espera ou surpreendeu-o?
A recruta surpreende sempre, porque é uma fase em que tudo é
desconhecido. É uma fase de aprendizagem em que fazemos coisas que nunca
imaginamos um dia vir a fazer. A minha recruta foi muito complicada mas foi uma
grande experiência e, sem dúvida, que me marcou bastante.
Quais são as
diferenças entre o regime de voluntariado e o regime de contrato?
Regime de Voluntariado corresponde à prestação do serviço
militar por um período de 12 meses, incluindo o período de instrução. Após este
tempo, o militar pode ingressar no serviço efetivo em regime de contrato ou
sair do Exército. O Regime de Contrato corresponde à prestação de serviço
militar durante um período mínimo de dois anos e um máximo de seis.
Como está no Exército
em Regime de Contrato, pretende continuar após o seu termo?
Eu estou a ponderar ficar porque, neste momento, a
verdadeira guerra está no mundo civil. Aqui tenho um emprego estável, com
vencimento certo. Se decidir sair, sei que o mais provável é contribuir para as
estatísticas e ser mais um desempregado. Além disso, gosto daquilo que faço e
não faz sentido sair.
David em frente ao carro Leopard 2A6 |
Qual é a sua função no Exército?
Neste momento, sou condutor de Leopard 2A6 mas quando
ingressei no Esquadrão de Reconhecimento tinha o curso de Atirador/Explorador e
comecei como Atirador no 2º Pelotão de Reconhecimento (o Pelotão mais
operacional do Esquadrão de Reconhecimento).
Sei que recentemente
foi graduado de Praça a Cabo, isso foi um motivo de orgulho para si?
Claro que sim! Isso demonstra reconhecimento pelo meu
trabalho, porque não somos nós que decidimos que vamos frequentar o curso de
Cabo. Quem dá o seu parecer, em primeiro lugar, é o Cabo mais antigo do
Pelotão, depois o Sargento do Pelotão e, por fim, é o Comandante do Pelotão que
dá o nosso nome ao Comandante do Esquadrão.
O que é que faz no seu
dia-a-dia?
No dia-a-dia normal, na parte da manhã, temos treino físico
e à tarde tenho que fazer manutenção, testes e estudos ao carro (Leopard 2A6).
Já no dia-a-dia mais fora do comum, fazemos exercícios no campo, onde treinamos
situações reais de combate, entre outras coisas mais confidenciais. Além disto,
também ajudamos a população em situações de cheias e incêndios, por exemplo.
Também no que toca a
ajudar os outros, o Exército Português participa em alguma atividade de
solidariedade?
Sim. Todos os meses, em Santa Margarida, participamos na
Corrida Pires Garção de 5km e, de três em três meses, participamos na Corrida
Pires Garção de 10km. Estas corridas têm como objetivo a angariação de fundos
para uma instituição de crianças de Constância. O quartel tem também, todos os
anos, uma campanha de recolha de roupa e de alimentos para uma associação de
pessoas carenciadas de Constância.
O David nunca foi a
nenhuma missão porquê?
Nunca fui a nenhuma missão por opção própria. Na altura a
minha vida pessoal não era estável e então tive que ponderar muito bem essa
hipótese. Uma missão nunca é fácil, nem para o militar nem para quem fica cá à
nossa espera. Mas em princípio, irei participar numa próxima porque é para isso
que cá estou e é para isso que trabalho diariamente.
A vida militar é o
que esperava?
Por um lado sim porque conheci a acção e a aventura mas, por
outro lado, acho que o Exército Português está muito desatualizado e isso
desiludiu-me. No entanto, o Estado tem vindo a fazer cada vez mais esforços
para modernizar o Exército e isso é bom. Um exemplo de modernização, é o
investimento em Drones - veículos aéreos não-tripulados utilizados para captar
imagens aéreas.
É fácil conciliar a vida
militar com a vida pessoal?
Não, de todo! A vida militar é uma vida muito complicada, em
que temos que colocar de parte muitas coisas. A partir do momento em que
decidimos que é isto que queremos, temos que “deixar para trás” a família e os
amigos e isso é muito complicado de gerir.
Sente que a sua forma
de ser/estar/pensar mudou desde que está no Exército?
Sim. Agora dou mais valor às coisas simples da vida, como
estar com a família, conviver com os amigos ou até tomar um banho de água
quente. Além disso, em termos de respeito e civismo, mudei completamente. Antes
de vir para aqui era muito egocêntrico, pensava muito em mim. Agora penso mais
nos outros e tento ajudar toda a gente, dentro dos possíveis claro.
Se fosse agora,
voltava a candidatar-se ao Exército?
Sinceramente, não ou, pelo menos, não me candidatava com 18
anos mas, talvez, com 25/26. Sinto que aqui perco muitas oportunidades e não
aproveito tanto a vida e a minha juventude como poderia aproveitar se não
estivesse cá.
Enquanto militar, quais
são os seus maiores medos?
Os meus maiores medos são perder o meu camarada do lado, não
conseguir acabar a missão que nos é dada, seja ela qual for e, principalmente,
levar um tiro e perder a vida.
Por: Adriana Vieira
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