A professora na inauguração de um centro comercial |
Filipa Gonçalves, licenciada em
Ensino Básico variante Português e Inglês pela Escola Superior de Educação de
Castelo Branco, é uma apaixonada pela sua profissão, apesar do desânimo sentido
face às suas atuais condições profissionais. A sua primeira experiência
profissional foi em Itália, onde lecionou Inglês e Português durante seis meses
a alunos do primeiro ciclo, proporcionada pelo programa ‘’Commenius Leonardo Da Vinci’’. A partir daí, trabalha há cinco
anos na Câmara Municipal de Penafiel, nas Atividades Extracurriculares (AECS),
como professora de Inglês. O seu tempo livre é, essencialmente, dedicado à
natação e à fotografia.
Qual foi o momento em que surgiu a vontade de ser professora ou em que
decidiu que esta seria a sua
profissão?
Quando concorri para o ensino superior, a minha primeira opção foi o
curso de Assistente Social mas como não consegui entrar, fui colocada em
Castelo Branco no curso de Português e Inglês, e ainda bem (risos). Esta minha
escolha surgiu quando uma professora me disse que tinha perfil para este curso.
Na altura não tínhamos psicóloga de aconselhamento vocacional, e como andava um
pouco perdida decidi seguir o conselho da minha professora.
Quantos anos
tem de serviço? Que balanço faz deste seu percurso profissional?
Tenho cinco anos de serviço. Cada vez mais, os
professores trabalham sem que as horas lecionadas sejam contadas para o tempo
de serviço, o que é lamentável. Isto acontece frequentemente em jardins de infância
e em colégios privados o que complica imenso a colocação de professores porque
o critério fundamental dos concursos de professores é o tempo de serviço.
Apesar disto, considero o meu percurso profissional positivo, uma vez que,
conheço muita gente do meu curso que nunca foi colocada ou que que nunca
trabalhou como docente.
Como é que se
descreve enquanto professora? Quais são os seus pontos fortes, ou, pelo
contrário, quais são os aspetos que sente mais dificuldade no seu exercício
profissional?
No mínimo tenho que ser interessada e estar motivada
no que estou a fazer. Acho que o fundamental é ter uma boa ligação com a turma,
depois as coisas acontecem naturalmente e a comunicação entre professora e
aluno consegue realmente resultar. Os pontos fracos verificam-se,
essencialmente, quando desanimamos por causa das poucas horas que nos são
atribuídas. Por vezes sentimo-nos estafados e descompensados porque não é fácil
ser professor. Ser professor é ser ator, cantor, pintor, todos os dias dentro
da sala de aula.
Podendo dar aulas ao primeiro ciclo,
pré-primária e segundo ciclo, onde sente mais dificuldade? Porquê?
É
sem dúvida o primeiro ciclo porque é a faixa etária em que menos me identifico.
Acho que um professor primário deve investir muito em trabalhos de expressão
plástica, coisa que não gosto, prefiro coisas mais objetivas e menos infantis.
Estando
atualmente a dar aulas nas AECS das escolas primárias, na sua opinião, qual é a
razão do investimento da língua inglesa em idade pré-escolar e ensino primário?
Eu acho que este investimento já devia ter sido feito,
existem vários países que já o fazem e Portugal apenas há seis anos é que se
preocupou de verdade com isso, pelo menos no ensino público. Cada vez mais
estamos ligados às tecnologias, e essa mesma tecnologia exige muito domínio de
inglês e, se não o possuirmos não vamos poder responder eficazmente à realidade.
E o mais importante ainda é que o inglês tornou-se a língua comercial do
momento.
Que condições
lhe foram oferecidas no concurso das AECS da Câmara Municipal de Penafiel? Qual
é a sua opinião sobre o assunto?
Foram-me oferecidas diferentes horas desde que
trabalho nas AECS : comecei com treze horas semanais, no segundo ano tive
direito a quinze horas, depois ofereceram-me vinte e uma horas e este ano
trabalho oito horas por semana. Penso que cada vez mais é difícil ao Estado
pagar aos professores das AECS e vejo em “vias de extinção” esta profissão.
Concorreu ao
Concurso Nacional de Professores? Foi colocada?
Não concorri porque achei que não seria colocada.
Neste momento, os professores já não se preocupam tanto com o Concurso Nacional
graças às listas indetermináveis de professores. Eu estou a números muitos
distantes de ser colocada e cada vez mais perco a esperança de ter uma única
escola para trabalhar e um horário completo. Sinceramente, acho uma perda de
tempo concorrer ao Concurso Nacional, já para não falar dos exames feitos aos
professores, que são cobrados. Neste momento, ser professor tornou-se um
negócio.
O que acha que
deve ser feito para que o sector da educação evolua?
Eu acho que o essencial é fazer turmas mais pequenas e
arranjar meios económicos para conseguir ter um professor para cada turma. Para
além disso, devemo-nos preocupar em tornar o ensino tecnológico, mas sem
exageros. A grande onda tecnológica que invadiu as escolas acabou por
atrapalhar a evolução do conhecimento dos alunos e distorceu a visão correta do
passado. Eu orgulho-me de dar aulas num agrupamento que começou a fazer jogos
tradicionais, e isto sim é uma ótima aposta para os alunos em que eles podem
ter o mesmo gozo ou até mais do que num jogo de computador.
Já pensou em
mudar de profissão? Se o tivesse de fazer, qual seria a sua escolha?
Já pensei várias vezes e o motivo mais óbvio é a
situação de fragilidade dos professores nos dias de hoje mas quero-me manter no
ensino enquanto conseguir. Se não tiver oportunidade de exercer a minha
profissão, já pensei em investir na Fotografia que é uma área de que gosto
muito mas é igualmente frágil. Sinceramente, custa-me muito pensar nisso porque
todos os sectores profissionais estão instáveis. Por isso, pensar no que vou ser
se ficar sem o emprego de professora é muito difícil porque, primeiro, tenho
que conseguir emprego e um rendimento, e depois ser autossuficiente e manter
esse mesmo emprego.
O que traz e
sempre trará de bom desta profissão?
Esta profissão tem, sem dúvida, um retorno muito
positivo porque temos várias experiências com os nossos alunos. O mais bonito
de ver, todos os dias, são os sorrisos dos alunos que nos recebem de braços
abertos, e isso sim ajuda-nos a percorrer este difícil caminho. Ser professora é
desafiante porque conseguimos retirar da turma novos métodos de trabalho e
novos conhecimentos, quer pela evolução da educação, quer pelos próprios alunos
que são os portadores de atualidade e conhecimento. Portanto, é muito boa a
troca entre professor e aluno porque, normalmente, um traz conhecimento ao
outro. O professor só existe quando existe aluno e o aluno só existe quando
existe professor.
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