Fábio a jogar no SC Rio de Moinhos |
Fábio Ferreira, uma criança de 13
anos, descreve como é ter a doença de crohn, há mais de um ano, e a melhor
maneira de viver com ela. Explica como apareceu esta doença na sua vida, a
reação imediata aos tratamentos e a tudo o que a partir daquele dia iria mudar
na sua vida para sempre.
O que é a doença de crohn?
A doença de Crohn é
uma doença inflamatória intestinal. Os sintomas e os tratamentos dependem de cada pessoa, mas segundo o que sei o mais
comum é haver dor abdominal, diarreia, perda de peso e febre. Atualmente não há cura para esta
doença, no entanto os tratamentos permitem alívio dos sintomas e melhoria de
qualidade de vida. É uma doença muito complicada para se detetar e que afeta
muito o foro psicológico.
Quais foram os primeiros sintomas da doença de crohn?
Comecei por sentir muita diarreia e
uma forte dor de barriga constante. Inicialmente pensei que seria uma gastroenterite,
alias, este foi o primeiro diagnóstico médico que tive. Desde a primeira dor até
ao diagnóstico final passaram seis meses, nesse tempo as dores eram frequentes
e a intensidade era cada vez maior. Acabei por ser internado, fiz uma carga de
exames entre eles a endoscopia e a colonoscopia, exames muito dolorosos e que
me custaram muito. Estive internado durante uma semana e assim
diagnosticaram-me a doença de crohn. Nesse instante tudo na minha vida mudou.
Dada a descoberta tardia da sua doença, houve algum tratamento imediato?
Sim, tive de fazer um tratamento
durante dois meses que consistia em ingerir 8 a 12 iogurtes líquidos fortimel
diários. Durante esse tempo não pude comer qualquer tipo de alimento, só gomas
para estimular o maxilar. Provavelmente foi o pior da minha doença, tornava-se
complicado estar perto das pessoas e vê-las comer e eu sem puder provar. Em
certas alturas até queria comer coisas que nem apreciava, mas a vontade de
comer era tanta, que tudo parecia mais apetecível que nunca, ainda hoje tenho
medo de repetir esse tratamento.
Qual foi a sua reação ao descobrir que sofria desta doença?
Foi bastante má, ainda hoje tenho
consciência que não aceito por completo esta doença. Senti-me revoltado quando
fui internado, descobrir a doença fez-me sentir derrotado e saber que tinha de
fazer um tratamento tão rigoroso deixou-me revoltado. Nunca fui capaz de
perceber como é que com 12 anos teria de aceitar uma doença que teria para toda
a minha vida. Não sabia nem como lidar com a doença, nem o que era esta doença,
nunca tinha ouvido falar. Hoje, é o dia que tudo é mais complicado, a doença
não estabilizou e a minha vida vai oscilando entre dias bons e dias maus, não
consigo ter estabilidade e o medo de a doença piorar vai crescendo a cada dia,
a cada dor de barriga.
O que mudou na sua vida?
Muita coisa mudou, a começar por mim.
Comecei a ter mais responsabilidade, dada a medicação que tomo, tenho de
cumprir muitos horários. Passei a ter um maior cuidado com a alimentação feita,
deixei de beber qualquer tipo de bebida com gás comecei a reduzir as verduras,
os chocolates e os fritos. Passei a ter uma alimentação mais cuidada e saudável.
Os médicos nunca me proibiram de comer nada, apenas me disseram o que poderia evitar.
Muita coisa que sei, ou é de ver na internet ou então o que ouço as pessoas a
dizerem. O meu pensamento diário ao sair de casa era “Será que vai ter casa de
banho perto”, era a minha maior preocupação, ainda é.
Tem por hábito pesquisar na internet sobre a sua doença?
Sim, habitualmente para me manter
informado sobre tudo da doença, o que pode ajudar e o que devo evitar,
essencialmente. Vou sempre muito esperançoso para ver se há algum estudo que
perspetive novos tratamentos, novas medicações que me possam ajudar.
Conhece alguém com a mesma doença?
Sim conheço, já chegamos inclusive a
falar sobre a doença, senti-me bem por conhecer alguém que de certa forma
compreende aquilo o que sinto.
Onde arranja forças para combater esta doença?
Na família, a minha mãe tem sido o meu
grande apoio, nunca me deixou sozinho em nada e acompanha-me em todos os
exames, em todas as consultas. Se não fosse ela, não sei o que seria de mim, é
a minha proteção e sei que com ela por perto nunca nada me faltará.
Sente-se
diferente das crianças da sua idade?
Não, sinto-me igual a todas as outras
crianças, nunca fui descriminado, nem posto de lado, bem pelo contrário, todos
os meus colegas ajudam-me no que podem. Continuei no futebol, desporto que já
praticava, e mesmo na equipa todos me ajudaram em tudo, nunca me senti
diferente.
Em
que sentido os seus amigos lhe dão apoio?
Quando estive internado, um amigo fazia
anos e decidiu não fazer a festa de aniversário por eu não estar presente, foi
uma prova de amizade. E quando regressei às aulas, depois de estar internado,
fizeram uma surpresa e deram-me um cartaz com mensagens de apoio. Aproveitei
esse mesmo dia para explicar a todos o que tinha sucedido e dar-lhes a conhecer
esta doença que daqui em diante faria parte da minha vida.
Alguma
vez pensou o porque de a doença ter aparecido na sua vida?
Senti-me injustiçado, interroguei-me
varias vezes de porquê a mim, porquê eu, que mal fiz eu para ter esta doença.
Não aceitei e isso deixou-me bastante revoltado. Comecei a ter menos paciência
para qualquer pessoa, exalto-me com frequência e por vezes tenho atitudes
erradas. Psicologicamente fiquei muito afetado, e comecei a pensar que poderia
morrer. Com 12 anos pensar que a vida é tão efémera, deixou-me muito
fragilizado.
Chegou
a consultar algum psicólogo?
Comecei, não por vontade própria, mas
hoje considero que foi o melhor que fiz, sozinho não iria aguentar esta mudança
repentina na minha vida. Além disso sou uma pensa que pensa muito nas coisas, e
o sistema nervoso afeta muito a minha doença, mais de que qualquer alimento
prejudicial.
Qual
o seu maior medo?
O meu maior medo é de não encontrar
estabilidade, de não conseguir ter uma vida normal, tenho medo, inclusive, dos
medicamentos deixarem de fazer efeito, de piorar. Sou uma pessoa muito negativa
e penso muito em tudo isto, o que só prejudica a minha saúde.
Fábio Ferreira |
Sente-se
com mais coragem, mais força para ultrapassar qualquer obstáculo na sua vida?
É uma pergunta interessante, posso dizer
que sinto, já passei por situações muito complicadas e nunca desisti nem irei
desistir. Se a vida existe é para ser vivida, se os problemas existem são para
ser vencidos.
Qual
o melhor conselho que pode dar a quem sofre desta doença?
Não se deixem abalar, o pior da
doença é não aceita-la, e tudo na vida tem uma razão de ser, só nos resta ser
fortes, mais fortes que a própria doença.
Por: Filipa Ferreira
Quem é esse lindo e quem é essa feia que fez o trabalho trabalho
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