Vera Monteiro |
Vera
Monteiro, licenciada em Enfermagem pela Escola Superior de Saúde da
Universidade de Aveiro, fala da sua
profissão e do ataque a que a sua classe é alvo nos dias de hoje. Aborda a
emigração e a dificuldade no início da sua carreira.
As
pessoas tem uma ideia errada sobre o que é ser enfermeiro?
Sim sem
dúvida! Acham que somos os empregados dos médicos, sim é verdade que são eles
que passam as prescrisões médicas e tudo que envolva medicação, mas somos nós
enfermeiros que ajudamos as pessoas dependentes, satisfazemos as suas necessidades humanas, somos nós que os
ajudamos a deslocar, comer, comunicar. São os enfermeiros que passam a maioria
do tempo com os doentes, sou eu como enfermeira que estou mais atenta às
evoluções ou retrocessos do doente, por exemplo sou eu que vejo a temperatura e
a tensão do doente e posteriormente informo
o médico para caso seja necessário prescrever algum medicamento.
Acredita
que o mercado de trabalho na sua área está sobrecarregado?
Não. Eu não
acredito que esteja sobrecarregado, não há é colocações o que leva a que muitos
de nós não possam exercer.
Acha
que o seu trabalho é bem remunerado?
Não, de
maneira alguma! Além do esforço e do número de horas a responsabilidade e o
rigor que nos é exigido não corresponde ao salário que nos é atribuído. Estamos
a falar de um trabalho que envolve a saúde, melhor a vida da nossa população e
todo o cuidado é pouco.
Actualmente
vemos muitas contestações por vossa parte, qual é a sua posição em relação a
esses acontecimentos?
As coisas
não estão facéis para o nosso lado, há mais sobrecarga de trabalho e não somos
remunerados por isso. Fazemos noites, horas extras e o que nos pagam não é
equivalente a esse esforço, como já referi. Temos deveres, mas também temos
direitos e famílias para sustentar.
Vemos
diariamente enfermeiros a sair do país, pois o nosso Sistema Nacional de Saúde
é incapaz de resolver as suas necessidades. Na pele de um enfermeiro, que
medidas acha que deveriam ser tomadas para impedir essas saídas?
Criar mais
emprego, com mais colocações, quer em hospitais, centros de saúde, hospitais
privados e clinicas, só assim se conseguirá barrar as emigrações. Claro que há
quem saia do país por decisão própria, mas a maioria é por não conseguir
ocupação laboral por cá.
Em
relação à emigração, sabe-se que há países que são a favor da morte assistida
ao contrário de Portugal, em que medida isso pode influenciar um possivél
retorno desses emigrados?
O
facto de Portugal não aceitar a morte assistida, como a eutanásia, não é
impedimento para um possível retorno. Para exercer no nosso país apenas
necessitamos de ser licenciados em enfermagem, estar inscrito na Ordem dos
Enfermeiros e com as quotas em dia, essas quantias são definidas pela própria
Ordem.
Concretamente
no seu caso, foi fácil iniciar a sua carreira?
Estive meio ano desempregada, enviei currículos
para todo o lado, full-time, part-time qualquer coisa, queria era exercer.
Concorri para duas vagas que havia num hospital na ilha do Faial (Arquipélago
dos Açores) no qual fiquei em quarto lugar, não fiquei colocada então regressei
Portugal Continental, estava disposta a ir para Espanha porque sabia que tinha
uma vaga lá. No dia antes de tirar a passagem para Espanha sou chamada para uma
outra vaga no mesmo hospital nos Açores, imediatamente cancelei a entrevista em
Espanha e fui para o Faial onde iniciei os meus trabalhos a Janeiro de 2009.
Posteriormente
estive no Hospital de Amarante e actualmente estou no Centro Hospitalar Tamêga
e Sousa, também conhecido como Hospital Padre Américo em Penafiel.
Conte-nos
um pouco o dia-a-dia de um enfermeiro.
Bem,
independente do turno, chego ao hospital visto a farda e vou ver o meu plano de
trabalho atribuído pela minha chefe, o meu colega cede-me o turno, e dá-me
todas as informações sobre os pacientes que vou ter de assistir.
Começo por
fazer uma ronda a todos eles e normalmente dou entrada a novos doentes. Durante
o dia vou dar-lhes as refeições, medicações necessárias, posicionar doentes que
estejam impossibilitados de o fazer sem qualquer ajuda, controlo o oxigénio, o
soro, meço tensões. Além disso respondo a todas as necessidades e dúvidas dos familiares
dos nossos pacientes. Por fim faço um relatório dos doentes para depois passar
o turno a um novo colega. Primeiramente os meus pacientes, tudo para eles, como
alguma coisa quando tenho tempo, não há intervalos é sempre em alerta para que
numa urgência consiga logo assisti-los.
Resuma
numa frase o que é ser Enfermeiro.
Desde que
entrei na faculdade que me disseram que enfermagem é a arte de cuidar, e acho
que não há frase que melhor defina o nosso trabalho que essa, a enfermagem é a
arte de cuidar dos nos cidadãos.
Por: Silvana Queirós
Sem comentários:
Enviar um comentário