João Henriques entrevista José Mourinho em 2003 |
João
Henriques é jornalista do Diário de Coimbra, exercendo funções na delegação de
Cantanhede. Estudou Comunicação Social na Escola Superior de Educação de
Coimbra. Enquanto estudante, colaborou na secção de desporto do Diário As
Beiras e o seu estágio curricular foi realizado na TVI.
Depois de concluir os
estudos, passou a exercer funções no Diário As Beiras na secção de desporto e
posteriormente foi correspondente do jornal Correio da Manhã no distrito em
Coimbra. Entre 2004 e 2007, enquanto freelancer, escreveu para o Jornal da
Universidade e o Correio da Figueira. Em 2007 entrou no Diário de Coimbra como
jornalista da secção de Coimbra.
Em que altura da sua vida surgiu o interesse pelo
jornalismo e o que é que lhe despertava esse interesse?
Não posso
afirmar que sempre tive interesse pelo jornalismo. É verdade que sempre gostei
de ler. Os jornais desportivos, que um vizinho me dava para ler quando ainda
era miúdo e sempre no dia seguinte à sua publicação, despertaram em mim a
vontade de, quem sabe, ser jornalista, ou, pelo menos, entrar no “mundo da
bola”. Tenho de admitir que a vontade foi-se intensificando com o passar dos anos.
O aproximar do final dos estudos ao nível do Ensino Secundário acabou por
“empurrar-me” para esta área, que, reconheço, desperta em mim a vontade de contar
histórias todos os dias.
Quais foram as suas dificuldades e os receios assim
que entrou no mercado de trabalho?
Acabei por
ter a felicidade de entrar no mercado de trabalho ainda estudante. Na altura,
comecei por colaborar, ao fim-de-semana, na secção de Desporto do jornal Diário
As Beiras, graças ao convite de um colega do curso de Comunicação Social na
Escola Superior de Educação de Coimbra, que também colaborava com o referido
jornal. No Diário As Beiras estive cerca de dois anos como colaborador ao mesmo
tempo que avançava nos estudos superiores. Depois de estagiar em Lisboa, na
TVI, regressei a Coimbra para trabalhar a tempo inteiro no Diário As Beiras.
Por isso, as dificuldades que podia ter sentido foram sendo esbatidas com o
“aprender a fazer” que, felizmente, consegui ter no referido jornal. Quanto aos
receios, é óbvio que a inexperiência traz sempre associados temores que, com o
tempo, vão desaparecendo. Não há nada melhor do que aprender a trabalhar.
É difícil pôr-se em prática o que se estudou?
Claro que
sim. Muito do que aprendemos nos “bancos da faculdade” não passa de pura
teoria. Na prática, a maior parte das coisas acontece de outra forma e temos de
saber lidar com situações que nunca aprendemos enquanto estudantes. Pelo menos
no meu tempo, faltava muita prática ao curso de Comunicação. Na minha opinião,
claro está, ser jornalista tem muito de prática e quase nada de teoria.
Quando pensa em jornalismo, quais são as primeiras
palavras que automaticamente lhe surgem e que definem o que para si é ser
jornalista?
Verdade,
histórias, astúcia, gosto e investigação. Para mim, um jornalista tem que
procurar sempre contar toda a verdade nas histórias que relata. Além disso, tem
de ser astuto para conseguir obter as melhores informações para a melhor
história, além de ter gosto pela profissão. Investigar devia fazer parte do
dia-a-dia de todos os jornalistas, mas, infelizmente, ao entrarmos no mercado
de trabalho, percebemos que tal não é possível.
Na sua opinião, quais as características que deve ter
um futuro jornalista?
Um futuro
jornalista tem de ser, como já disse anteriormente, astuto. Também tem de ser
capaz de olhar e ouvir, mas sempre com o pensamento de que, quem sabe, se aqui
ou ali, pode estar uma boa história, não para mim, mas, consoante os casos,
para os leitores, os ouvintes ou os telespectadores. A persistência é uma das
características que, na minha opinião, mais falta faz, hoje em dia, a quem quer
ser “jornalista de verdade”.
Que conselhos dá a um estudante de jornalismo para que
possa exercer bem a sua profissão?
Ser
verdadeiro com ele próprio. Nada melhor do que acreditarmos naquilo que fazemos
para exercermos bem a nossa profissão. Saber lidar com a pressão é importante
numa área em que ela existe sempre. Tanto a que é imposta por nós próprios,
como a que vem do exterior. Na minha opinião, um jornalista recém-entrado no
mundo de trabalho - os outros também - tem de ter a capacidade de, todos os
dias, procurar diferentes ângulos de abordagem da notícia. A diferença faz – a
repetição é propositada - a diferença.
Durante a carreira de um jornalista, ocorrem muitas situações
diferentes quase diariamente, permitindo uma aprendizagem constante. Qual foi a
experiência que mais o marcou e que mais o ajudou a aprender?
Todos os
dias, aprendemos com o nosso trabalho. O jornalista tem, como qualquer outra
pessoa, sentimentos. No meu caso, não tenho dúvidas em afirmar que a morte, ou
melhor, a vida dos que ficam e lidam com a morte de alguém querido “mexe”
comigo. Há situações difíceis de contar, sobretudo quando a morte é inesperada.
Com estas situações, aprendemos sempre alguma coisa, pois são momentos de dor,
angústia e impotência com que temos de aprender a lidar, fazendo de nós,
jornalistas e humanos, pessoas mais fortes. Não tenho vergonha de dizer que já
chorei em trabalho. Há emoções a que não se resiste. Também se aprende muito
com as “lutas de poder”, com as quais percebemos que a política é feita de
(pouca) gente boa e (muita) outra que nem tanto.
Por: Salomé Assunção
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