Beatriz Inácio frequentou o curso de Línguas e Humanidades no Externato Cooperativo da Benedita,
durantes três anos, e foi
finalista no ano lectivo 2012/2013, adquirindo um diploma que contou com a média final de 16 valores. Apesar do seu percurso académico se considerar bastante satisfatório, esta jovem decidiu não seguir o mesmo caminho que os seus colegas e amigos.
Deixou a questão ‘Ensino Superior’
para trás e dedicou-se, desde
cedo, ao mundo do trabalho.
Beatriz Inácio |
Quais foram os factores que a levaram a tomar a decisão de não continuar a estudar?
Não foi uma tomada de decisão, por assim dizer. Fui "obrigada" a tomá-la devido a questões
financeiras. Como muitos jovens portugueses, vi-me obrigada a optar pela via
profissional a fim de poder prosseguir estudos mais tarde.
A escolha de não
querer ingressar no ensino superior foi algo que sempre esteve nos seus ideais,
ou foi uma decisão
tomada de um momento para o outro?
Foi uma decisão ponderada com antecedência. Quando estava a terminar o 12º ano já
sabia que seria impossível
prosseguir os estudos a menos que conseguisse conciliar um full time com a vida
académica. Conheço bem as minhas capacidades e sabia que não iria conseguir aguentar esse ritmo, por isso, desde cedo
me mentalizei que iria ter que trabalhar por algum tempo (indefinido) até atingir a estabilidade necessária para prosseguir os estudos.
Escolheu então
não prolongar os seus estudos, qual
é a sua ocupação hoje em dia?
Hoje em dia trabalho
em full time num Call Center em Lisboa de segunda a sexta-feira, e ao fim de
semana num café na minha localidade
natal.
Perdeu o interesse pelos ‘livros’ e pelo cultivar do seu lado
intelectual? Hoje em dia considera-se uma pessoa menos dada ao ‘saber’ por ter tomado a opção de não querer estudar mais?
Nunca. A minha paixão é
e sempre será o dom da palavra.
Acredito que não preciso de
ingressar na universidade para continuar a aprender, considero-me uma
autodidacta e não me sinto inferior,
nem nunca fui inferiorizada, por não
ter prosseguido os estudos. A minha vontade de aprender nunca cessará e vou "lutar" para, um dia mais tarde, voltar a
estudar.
Acha que a falta de um curso superior, no seu currículo, pode afectar a sua vida
futura em termos profissionais?
Obviamente que um
curso superior é sempre uma mais
valia. Mas eu vejo sempre o copo meio cheio e, para mim, uma licenciatura só é
mais valiosa em certas áreas.
Como comecei a trabalhar desde cedo em serviço ao balcão/mesas
em restaurantes, a experiência
profissional tem sido a minha mais bem valia.
Considera que, nos dias de hoje, é mais importante uma Licenciatura
ou a experiência do universo de trabalho?
Como referi acima,
depende das áreas. No meu caso,
tenho feito valer a minha experiência
profissional e tenho-me adaptado bem ao mercado de trabalho.
De que modo acha que tem prevalência ou inferioridade para com um
estudante licenciado, perante uma entrevista de emprego?
Um estudante
universitário tem sempre preferência, mas existem outros fatores que pesam na hora de escolher
um empregado/funcionário.
Durante a minha experiência
profissional apenas me senti discriminada uma vez - mas estava a candidatar-me
a um cargo mais específico
numa empresa de Marketing e Publicidade, área em que apenas tenho conhecimentos e não diploma.
Tendo em conta os números de emigrantes
jovens-licenciados, que partem rumo a um futuro mais promissor, considera que a
sua escolha foi a mais acertada?
Ir para o
estrangeiro, quer para estudar como para trabalhar, não está
fora das minhas perspetivas, apenas ainda não tive oportunidade de tomar uma decisão ‘final’.
Quando tomou a sua decisão qual foi a reacção dos seus familiares, na altura,
encarregados de educação?
Tanto a minha família como os meus amigos sabiam da minha situação. Obviamente que me apoiaram e me ajudaram a explorar
trajetos alternativos à
faculdade.
Mesmo não
tendo passado pela experiência,
como caracteriza a vida de um estudante universitário?
É a minha vida de
sonho. Tudo o que quero é
poder passar o resto da minha vida a estudar pois não há
nada melhor que adquirir conhecimento. Desde as praxes até à
queima das fitas, passando pelos convívios,
batismo, aulas, ideologias, etc, é
tudo uma experiência incrível. Vendo os meus amigos sinto um orgulho imenso por poder
estar ao seu lado num dos momentos mais bonitos e marcantes da sua vida e
anseio todos os dias pelo dia em que vou conseguir estar no seu lugar.
Para si, hoje em dia, a escolha de não ter ingressado em nenhum curso
do ensino superior é
algo que se arrepende?
Não me arrependo pois foi a escolha mais sensata.
Neste momento, preferia tirar um curso superior numa
Universidade ou Politécnico,
ou acha mais ‘sensato’ recorrer aos programas de cursos
profissionais?
Neste momento, a
curto prazo, mais facilmente irei ingressar num curso profissional pois seria
menos demorado, mas a curto prazo, e é
o meu objetivo, irei, seguramente, ingressar numa Universidade ou Politécnico.
Pauline Rebelo
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