Crisália Azevedo, uma recém-licenciada da Escola Superior de Educação de Coimbra, é agora colaboradora do Jornal de Notícias, mas tudo começou com um estágio, empenho, trabalho e muita dedicação.
Sempre soubeste que o teu futuro ia ser o jornalismo
ou tinhas algo diferente em mente no início do teu percurso universitário?
O caminho
para chegar até aqui foi um pouco atribulado. Não posso dizer que quero ser
jornalista desde pequena nem tão pouco que sempre soube a área que queria
seguir. O meu ingresso no ensino superior também não foi em Jornalismo:
primeiro estive um ano no curso de Português na Faculdade de Letras da
Universidade de Coimbra. Foi um percurso de “tentativas-erro” até chegar a
Comunicação Social. A minha escolha no secundário também já não teria sido a
mais acertada, mas só mais tarde é que me apercebi que as minhas aptidões em
tudo se coadunavam mais com área científico-humanística do que com o curso que
frequentava, de Ciências e Tecnologias. Mas mesmo já a estudar Comunicação
Social, cheguei a equacionar a possibilidade de seguir o segundo ramo, de
Criação de Conteúdos para os Novos Media, por aparentemente ter mais saída e um
leque mais vasto de possibilidades para ingressar no mercado de trabalho. Mas o
Jornalismo é um caminho que se constrói. Cada jornalista que se forma fá-lo de
maneira diferente e com percursos diferentes.
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Com tantas
áreas dentro do jornalismo, porque imprensa?
Primeiro, porque sempre gostei de escrever e o facto de poder
contar histórias é algo que me fascina no mundo do Jornalismo. Depois porque
acho nobre assumir a tarefa de informar o outro, não fosse o Jornalismo o
mediador da democracia.
O que te
levou a escolher o Jornal de Notícias como local de estágio?
O Jornal de Notícias era uma das publicações com as quais
estava mais familiarizada e com a qual me identificava, no conteúdo e na forma.
E depois porque são mais de 100 anos de “jornais” e “notícias”, com toda a
história e prestígio que isso traz.
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Enquanto
estagiária quais eram as tuas responsabilidades e quais foram os teus maiores
desafios?
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Alguma vez
durante o estágio pensaste que te iam convidar a permanecer enquanto
colaboradora?
Não, nunca pensei nessa possibilidade. Fui para o estágio com
o objetivo de dar o meu melhor e, acima de tudo, de terminar com sucesso a
última etapa da minha formação académica. Nunca pensei que ali se abririam as
primeiras portas para o mercado de trabalho porque estava ciente das
dificuldades de um recém-licenciado em arranjar emprego. O setor da informação
é um mercado extremamente saturado, onde para além de ser difícil entrar, é
difícil permanecer. Por ano formam-se em Jornalismo, muitas mais pessoas que
aquelas que os media têm capacidade para acolher. E os despedimentos coletivos
são cada vez mais frequentes e em maior número. Vejamos o “Sol” e o “i”. Ainda
assim, existem sempre alternativas e novos projetos a acontecer.
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Quais são
as maiores diferenças entre estagiária e colaboradora?
São cargos completamente distintos. Um estagiário – não
desvirtuando as suas responsabilidades e o seu empenho – cumpre funções dentro
da instituição, no âmbito curricular. O estágio é a etapa final da formação
académica de um estudante e para a grande maioria é o primeiro contato com o
mercado de trabalho e com o Jornalismo. Um estagiário está numa publicação para
aprender e para melhorar dia após dia. Para fazer cada vez mais em menos tempo
e para dizer muito sem serem precisas muitas palavras. Por outro lado, um
colaborador faz parte do “pessoal” da instituição embora não seja dos “quadros”.
Um colaborador presta serviços à instituição mediática e dá o seu nome a uma
equipa que trabalha em prol do mesmo objetivo. É uma questão administrativa e
acima de tudo orçamental, porque quanto ao resto, um colaborador e um
jornalista são o mesmo.
Quais as
funções que exerces no JN neste momento?
Neste momento estou a fazer
serviço de Agenda. Um jornalista de agenda não executa trabalho editorial nem
redige notícias mas tem nas suas mãos o poder de decidir sobre que temas se irá
escrever. Para além de ter conhecimento dos trabalhos que todas as secções
estão a desenvolver (e por quem), é na agenda que a informação é filtrada. E a
agenda é essencialmente isso - filtragem de informação - por telefone, e-mail
ou qualquer outra via – e planeamento. A agenda é uma secção onde são
necessárias fontes e, acima de tudo, ter bem consolidado o conceito de
valor-notícia. Fazer serviço de agenda não traz visibilidade nem reconhecimento
a um jornalista. Ele não produz notícias nem vê o seu nome assinado em nenhuma
peça. Na realidade, fazer a agenda não é um trabalho muito exigente mas
reconheço que é de grande responsabilidade. A agenda é o "esqueleto"
de um jornal. É na agenda onde estão marcados os serviços para os dias
seguintes, os horários, os locais, os fotógrafos. Uma pequena falha no horário
ou na data, implica que ninguém cubra o serviço, isto é, que o jornal não
esteja presente no acontecimento. A agenda, enquanto documento, conserva
informações relevantes, durante o seu tempo de vida útil e todas as secções, de
todo o jornal, dependem da agenda. É um elemento fundamental mas, devido aos
cortes orçamentais, cada vez mais “dispensável” para a organização de um diário. Estou satisfeita com esta oportunidade mas não
realizada porque não estou a escrever, que é aquilo que gosto verdadeiramente
de fazer embora tenha liberdade para propor temas e escrever sobre eles, como
tem acontecido ultimamente, sempre que tenho oportunidade para o fazer.
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Acreditas
que o tipo de jornalismo produzido no nosso país é de qualidade?
Essa pergunta não tem uma resposta fácil. No meu ponto de
vista, acho que existe sim Jornalismo de qualidade no nosso país, assim como
muito bons jornalistas. Nomeadamente Jornalismo que não é de massas. Mas, como é
de senso comum, a informação é muitas vezes defraudada pelo número de vendas e
o Jornalismo transforma-se em propaganda e sensacionalismo ao invés de cumprir
funções de serviço público. As publicações de massas vivem com a pressão de
cumprirem metas e liderarem o mercado e isso é muitas vezes incompatível com
informar de forma isenta e rigorosa.
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Quais são
os teus maiores objetivos enquanto jornalista?
Poder escrever sobre todo e qualquer assunto, sem que o tema
me possa “melindrar” e criar uma boa rede de contactos. Mas mais importante que
isso quero melhorar, dia após dia, para ser uma profissional completa,
competente e versátil, o que inclui ser 100% autónoma na produção de conteúdos
jornalísticos, desde a fase de recolha de informação até à redação de uma
notícia.
Pensas completar a tua formação académica de alguma
outra forma?
De momento não, mas não excluo a possibilidade de num futuro
próximo, conciliar o trabalho com mestrado ou averiguar outras possibilidades
compatíveis com as minhas funções no Jornal de Notícias. A verdade é que sinto
que ainda tenho muito que aprender e três anos de Licenciatura não são suficientes
para adquirirmos muitos conhecimentos. Mas a melhor escola para um jornalista
é, sem dúvida, uma redação.
Grupo 7 no âmbito do tema "Jornalismo e Profissão"
Sara Pestana
Frederica Wilbraham
Roberto Quintas
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