Num país onde a empregabilidade e a
crise económica são temas constantes na língua das pessoas surge uma questão
importante quanto à formação das mesmas. Portugal tem 17,6% de população com
ensino superior mas 8% desta população está desempregada… será que ao obter
mais do que um curso de formação ajuda? Valdemar Ramalho, de sessenta e cinco
anos, professor de ensino secundário na escola Dr. Joaquim de Carvalho na
Figueira da Foz depara-se com o seu último ano como docente e respondeu-nos às
seguintes perguntas:
Quais foram os cursos em que o
professor se licenciou?
- Sociologia no ISCTE-IUL, Design no
IADE-U em ensino privado e também tirei Fotografia e Cinema enquanto fazia
parte do exército, pelos serviços cartográficos do mesmo.
Quantos anos diria que viveu como
“estudante” de ensino superior?
- Como estudante gosto de pensar que
ainda hoje o sou, mas a estudar no ensino superior passei um pouco menos. O
curso de Fotografia e Cinema foi o mais curto que foi de apenas um ano, demorei
quatro anos a licenciar-me em Design e finalmente cinco anos em Sociologia,
três anos para a licenciatura e dois anos para a especialização em Sociologia
da Arte.
Ao
licenciar-se em três áreas diferentes certamente pensou nas vantagens que lhe
trariam. Quais foram?
- Pode
parecer inacreditável mas os cursos que tirei, individualmente, não me
trouxeram vantagens quase nenhumas. Trabalhei como operador de câmara na RTP em
mil novecentos e setenta durante um ano e meio com o curso de foto-cine. Fui
fazendo vários biscates e trabalhos pagos ao longo da minha vida com grande
fundamento em Design e Fotografia mas nunca um emprego a sério. Só em mil
novecentos e oitenta e quatro é que consegui ingressar numa escola de ensino
secundário como professor de história e cultura das artes graças à minha
especialização em Sociologia das Artes e da licenciatura em Design. Mas posso
aplicar apenas um pouco do meu conhecimento em sociologia e em design enquanto dou aulas,
a outra grande parte apenas me satisfaz intelectual e culturalmente, mas não me
ajuda propriamente a exercer o meu cargo.
O professor
Valdemar acabou de dizer que entrou no mundo do ensino com os seus trinta e
quatro anos. Nunca pensou em ingressar noutro mundo com a vantagem de ter
várias áreas de formação superior?
- Pensei em
trabalhar em relações públicas com a ajuda do curso de Sociologia ou mesmo em
Design de Interiores com o curso de design, mas a triste verdade é que apesar
de ter tirado vários cursos era muito difícil arranjar um emprego em que
pudesse aplicar todos os meus conhecimentos. Professor de história das artes
foi talvez o único emprego que tive até à data em que pude com mais facilidade
difundir o conhecimento das minhas áreas de especialização e foi também o
emprego que me deu mais prazer em termos intelectuais e académicos.
Com toda a
sua experiência de vida, que conselhos pode dar a estudantes que têm interesse
em tirar mais do que uma licenciatura?
- O maior
conselho que lhes posso dar é para seguirem o que gostam e não perderem
demasiado tempo a estudar como eu fiz. Tive sorte em ter uma família que vivia
bem assalariada e pode cobrir todos os meus estudos mas poderia ter começado
muito mais cedo a exercer algo. Escolham um curso que gostem e se depois
concluírem que afinal é tiro no escuro, então aí, e só aí, podem ou devem
tentar formar-se noutra área.
Aconselha a
outros alunos do ensino superior a percorrerem o caminho que o professor tomou?
- Muito
concisamente, não. Arrependi-me a longo termo pois o país não recompensa alunos
com mais áreas de formação porque cada área é muito limitada em termos
académicos. Nunca encontrei um emprego onde pudesse aplicar conhecimentos de
mais do que um curso portanto hoje posso dizer que só tirei proveito de um
deles enquanto professor de História das Artes. A decisão do curso acertado
deve ser prévia à resolução do mesmo portanto se não gostarem do curso em que
estão, sugiro que mudem o mais rápido possível em vez de o completarem por uma
questão de orgulho ou de medo de não conseguirem tirar outro curso. Basta um
curso para se ser bem sucedido, o resto cabe a cada um de nós averiguar.
Leonardo Ramalho, Grupo 3
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