Entrevista realizada a
Catarina Elias, estudante de comunicação Social, residente na cidade de Coimbra
desde os três anos até aos dias de hoje, onde continua a sua vida académica na
Escola Superior de Educação de Coimbra.
1-
Como residente em Coimbra há vários anos, sempre sonhaste/tiveste
como objetivo estudar na tua cidade?
Nasci em
Coimbra e, embora não tenha vivido cá até aos três anos, frequentei o
Infantário, o Ensino Primário e o Secundário cá. Quando pensava em entrar na
faculdade, nunca considerei a hipótese de sair de Coimbra. No entanto, quando
acabei o 12ºano fiz uma pesquisa acerca dos cursos nas áreas que me cativavam e
alguns deles seriam em faculdades de Lisboa. Mesmo assim, um dos cursos que
mais me interessavam existia aqui na ESEC e, por questões de facilitismo e
comodidade, decidi permanecer cá.
2- Comunicação
Social sempre foi a tua escolha ou foi a escolha de recurso antes da candidatura?
Eu sempre
gostei de várias coisas, tanto relacionadas com Ciências como com Letras. Apesar
de ter seguido o curso de Ciências e Tecnologias no secundário, sempre soube
que não queria seguir nada relacionado com Ciências. Achei que me identificava
mais com as letras, pelo meu gosto pela escrita. Por isso, as minhas opções
passavam pelo Jornalismo, pela Psicologia… A ideia de Psicologia foi
rapidamente descartada, virei-me para o Jornalismo. Para além da escrita, a
rádio também me interessava. Comparei o curso de Jornalismo na Universidade de
Coimbra com o de Comunicação Social da Escola Superior de Educação de Coimbra e
depois de conhecer melhor as unidades curriculares de cada um dos cursos, optei
pelo que me pareceu ser a melhor escolha: Comunicação Social. Hoje sei que fiz
a melhor escolha e percebi que também ganhei o ‘gosto’ pela área da produção e
edição de conteúdos, que era algo que, inicialmente, não tinha em mente.
Imagem
2 – Fotos de Curso (Comunicação Social).
3- O
que é que uma pessoa que sempre viveu na cidade sente ao chegar a esta fase da
sua vida, mantendo-se cá?
Agora é
difícil falar sobre Coimbra sem soar, por uma vez ou outra, clichê. Há tanto para dizer e as ‘frases
feitas’ dizem quase tudo. Mas vou tentar.
No início do
meu primeiro ano não senti grande entusiasmo, só uma certa ansiedade porque ía
começar um novo ano rodeada de pessoas que não conhecia. Para além disso, não
sabia o que esperar nem como me iria adaptar ou integrar. Mas, com o tempo,
senti que fazia parte de uma família, a família dos estudantes. A família de
Coimbra. Finalmente percebi que existia uma família diferente por detrás
daquela que sempre tinha sido a minha cidade. E o melhor? Eu fazia parte dela.
A partir daí, comecei a olhar para Coimbra de outra forma. Não mudei de cidade,
mas mudou aquilo que eu via nela. Era como se, a partir daquele momento, ela me
pertencesse um bocadinho mais e eu a conhecesse um bocadinho melhor – de uma
maneira que nunca tinha conhecido. Dei por mim num mundo completamente diferente,
que eu queria agarrar e aproveitar ao máximo. Conheci a magia de Coimbra de que
tanta gente falava. Conheci pessoas de todos os pontos do país. Chegava a casa
com dezenas de sotaques diferentes na cabeça. Comecei a sentir saudades dos
tempos que passavam e, sempre que me deslocava para fora da zona de Coimbra, o
regresso era cada vez mais desejado. Como é que, depois de 17 anos aqui, mais
três anos me começaram a parecer demasiado pouco?
Quando cheguei
a esta fase da minha vida, mantendo-me cá, pude viver a euforia daqueles que
seriam ‘os melhores anos da minha vida’, como todos os estudantes de Coimbra,
mas sempre com o conforto de minha casa. Pensava que, por continuar em Coimbra
durante mais uns anos, não iria sentir nenhuma mudança. Mas a verdade é que Coimbra
nunca mais foi a mesma e eu estava longe de imaginar tudo aquilo que viria a encontrar.
4- Quais
eram as tuas expectativas de ser estudante no ensino superior, em Coimbra?
Sinceramente,
não tinha grandes expectativas relativamente ao ensino superior. Nunca me
preocupei muito com isso e acho que a ideia de seguir os estudos para a
faculdade já nos é tão ‘imposta’ que não era algo que me surpreendesse de
alguma forma. Eu sabia que depois do secundário, o caminho seria o ensino
superior e pronto. Quando recebi o resultado da candidatura, o nervosismo
sobrepôs-se ao entusiasmo. Não tinha criado expectativas, tinha apenas
curiosidade. Ouvia dizer que ‘amigos da faculdade são amigos para a vida’ e que
‘Coimbra é uma lição de sonho e tradição’. Assisti a alguns cortejos da Queima
das Fitas e não percebia o que motivava nos estudantes tanto orgulho e tanta
nostalgia pela tradição. Mas lá está… esta vida académica ainda me era um
cenário um pouco distante.
5- Foram
ao encontro disso?
Sem dúvida que
superaram. Se antes não sabia para o que ía, hoje espero pelo que aí vem. Se
antes não sabia os amigos que ía encontrar, hoje não imagino sequer como é que
seria se não tivesse escolhido o curso que escolhi. Vivi e senti, na minha
própria pele, a lição de sonho e tradição enquanto envergava capa e batina pela
calçada. E hoje digo, com toda a certeza, que não há expectativa alguma que
chegue a Coimbra. Nem palavras que a expressem.
6- Gostavas
de ter ido para outra cidade? Prosseguindo lá os teus estudos?
Pelo espírito
académico, não. Não há outro como o de Coimbra. Talvez no futuro vá para outra
cidade, mas a Licenciatura tinha mesmo de ser aqui. Não há acordes como os que
se ouvem por aqui, pelas ruas místicas que veem passar o preto das capas a
arrastar. Se fosse hoje, voltaria a escolher ficar por cá.
7- Recomendarias
o curso que frequentas?
Em termos de
saídas profissionais, penso que o curso é muito bom e o facto de nos
possibilitar a realização de estágio curricular no último ano da licenciatura é
uma vantagem em relação a outros cursos, como, por exemplo, o de Jornalismo da
UC. Outro ponto a favor é a possibilidade de seguir dois ramos na área da
Comunicação Social, o de Jornalismo e Informação e o de Produção de Conteúdos
para os Novos Media. Para quem tem interesse nestas áreas, sim, recomendaria.
8-
Notas alguma diferença na tua cidade,
Coimbra, desde que vieste para cá até aos dias de hoje?
Sinceramente, não me vem à cabeça
nada que tenha mudado drasticamente ao longo destes anos. É evidente que a
cidade evoluiu e um dos momentos mais importantes na sua história foi o
reconhecimento, pela UNESCO, da Universidade de Coimbra – Alta e Sofia, como
Património Mundial.
9-
Quais são as tuas expectativas de trabalho?
Pensas continuar a estudar após a licenciatura?
Tento não criar grandes
expectativas relativamente ao trabalho, porque esta não é uma área fácil. Por
enquanto, estou focada em aproveitar os próximos meses em estágio e, a partir
daí, pensarei no que fazer. Gostava de prosseguir os estudos e inscrever-me num
mestrado, mas ainda não está nada definido.
10-
Ambicionas trabalhar em Portugal ou no
estrangeiro?
Obviamente que gostava de
trabalhar em Portugal, mas confesso que fazê-lo no estrangeiro também não é uma
ideia que me desagrade. De certeza que seria uma ótima experiência!
11-
Achas que o jornalismo no futuro irá
continuar a ser uma profissão rentável?
Eu acho que o jornalismo não pode
deixar de existir e, enquanto existir, será uma profissão frágil, mas essencial.
Talvez devido a uma crescente facilidade em aceder à informação, o profissional
do jornalismo seja menos valorizado e, nesse sentido, o seu trabalho pode
tornar-se menos rentável. Ainda assim, olho para o jornalismo como a força que
mantém o país ‘de pé’ e os valores indispensáveis a ele associados não se
encontram facilmente noutras atividades profissionais. Fala-se muito no
“Jornalismo do Futuro” na era da internet, do mundo digital. Hoje, as redações fazem
o esforço de adotar estratégias online
que mantêm a sua edição em papel rentável, como é o exemplo do Diário de
Coimbra. Eu acho que o jornalismo ‘puro e duro’ terá sempre de existir, assim
como o trabalho de investigação que ele exige. Há certas abordagens que não se
conseguem se não for feito um trabalho aprofundado, um trabalho em campo. Tarefas
que cabem aos jornalistas, profissionais qualificados para as concretizar. O
trabalho do jornalista pode ser sobrevalorizado, mas em tempos de crise, quer
sociais, políticas ou até económicas, constitui o grande ponto de equilíbrio.
Por alguma razão, o jornalismo procura afirmar-se como o “Quarto-Poder”.
Miguel Azinheira (grupo 3)
Miguel Azinheira (grupo 3)
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