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segunda-feira, 1 de outubro de 2012

A praxe é dura, mas é praxe!

Praxe! É a palavra de ordem quando um estudante inicia a sua vida académica. 

Imagem representativa da praxe em latim. “A PRAXE É DURA, MAS É PRAXE!”
Seguem-se as dúvidas e o medo. "Será que vão ser duros a praxar? Será que me irei conseguir integrar?”
É um novo capítulo na vida de um estudante. Ganham um novo rótulo: ser "caloiro". 

Muito estigma gira em volta da praxe. Ao longo dos anos, esta prática exercida pelos estudantes designados por “doutores”, tem vindo a ganhar muitos simpatizantes e muitos opositores. O que é ser é certo, é que o verdadeiro intuito da praxe é a integração. 

Sendo um período difícil para os novatos, onde estão longe de casa, da família e de tudo o que lhes é conhecido, o papel dos doutores é fazê-los sentirem-se integrados, apoiados e principalmente ajudá-los a encontrar uma família no curso onde ingressam. 

Nem tudo é um mar de rosas, nem mesmo na vida praxística, por isso é que há muita gente contra a praxe e contra toda a tradição por detrás da mesma. Certo também é, que muitos estudantes mais velhos abusam e vêem nos caloiros uma opção para descarregar o stress do dia-a-dia. 

Mas a praxe tem muito que se lhe diga e não é igual em todo o lado. 

No berço da tradição académica, Coimbra, a praxe é algo totalmente aceitável e indispensável para adaptação dos que acabaram de entrar no início do resto das suas vidas. 

Fábio Aguiar, estudante do 3º ano de Comunicação Social na Escola Superior de Educação lembra-se do seu 1º ano como caloiro. “Foi um ano inesquecível apesar de alguns altos e baixos”, continua o agora doutor. Fábio recorda o primeiro dia, a primeira praxe e todo o início desta nova etapa da sua vida com muita saudade. “Ao contrário do que muita gente pensa, a praxe serve essencialmente para integrar os novos alunos e no meu caso todos os doutores contribuíram para isso, fazendo com que o meu 1º ano fosse o melhor do meu percurso académico”, confessa. 

O baptismo do caloiro é outro marco significativo nesta jornada, é o momento em que se escolhe com quem mais simpatizamos e identificamos para nos apadrinharem. “O meu apadrinhamento fugiu ao dito normal e ao aconselhável pois os meus padrinhos foram ambos sugeridos. No entanto, com a convivência, apercebi-me que não podia ter escolhido melhor.” 
Os caloiros em contacto com os doutores, na ESEC.

O ano passa, as festas continuam, as praxes não param e criam-se muitos laços de amizade. Os caloiros são a base da cadeia alimentar académica mas depressa evoluem até ao momento de trajar pela primeira vez e incumbir aos outros os valores transmitidos pelos seus padrinhos. O trajar e o ouvir a Serenata Monumental nas escadas da Sé Velha marcam a passagem de caloiros para pastranos. Ninguém fica indiferente à semana da Queima, pois é o culminar de uma espera que durou um ano inteiro. Para o estudante de Comunicação Social, o vestir o traje académico pela 1ª vez foi um misto de sensações dado o peso que aquela capa e batina representavam. “Foi um momento estranho e ao mesmo tempo um orgulho olhar para o espelho e ver o meu crescimento pessoal. É algo que levarei para a vida inteira tudo o que esta cidade me proporcionou e os amigos que encontrei”, lembra com um olhar de nostalgia. 

Resta agora traçar a capa, desejar boa sorte para o curso, felicidades para o futuro e esperar que estes novos doutores transmitam aos novos caloiros tudo aquilo que os seus respectivos padrinhos passaram.
Por outro lado, nos arredores de Tomar, também se vive o espírito académico. Patrícia de Freitas, estudante de 2º ano de Comunicação Social em Abrantes, pertencente ao Instituto Politécnico de Tomar, recorda todos os momentos do seu ano de caloira, agora que praxa pela primeira vez os novos alunos, “O ambiente familiar com que a ESTA me acolheu, os valores adquiridos na praxe e o espírito de união que ganhei no meu tempo de caloira foram a maior herança que guardo e transmito hoje, enquanto doutora, aos meus caloiros.” 

Com um tom de saudade na voz, recorda também como viveu, vibrou e respeitou a praxe sem nunca faltar diversão, altruísmo e orgulho por estar ser integrada na família que é a faculdade onde ingressou. “Eu ri, eu chorei, eu suei emoção. Mil e uma histórias guardo desses dias, mas basta apenas lembrar-me de quando me tratavam por caloira para esboçar um grande sorriso com um brilho nos olhos que me traz saudade!”.
É apresentado o conselho de Veteranos e a comissão de praxe a todos os novos alunos, sendo estes últimos os responsáveis pela praxe até à primeira quarta-feira de aulas. 

Ao contrário do que é feito na ESEC, na Escola Superior de Tecnologia de Abrantes são os doutores que, olhando para uma lista de nomes sem fotos, escolhem os seus afilhados, sendo que um caloiro só pode ter uma madrinha e uma caloira só pode ter um padrinho. 

Durante essa semana, os caloiros são leiloados, fazem uma “churrascada académica”, participam em olimpíadas, numa procissão e têm ainda um jantar dedicado a eles. Na semana seguinte, realiza-se o baptismo do caloiro, que tem lugar na cidade de Tomar, que inicia-se no Campus do IPT e termina na Praça da Republica. Durante o cortejo, os caloiros são cobertos de “mistelas”, preparadas pelos seus superiores no próprio dia. Alegram o desfile com canções ensaiadas pela sua comissão e gastam as suas vozes em honra dos seus cursos ou escola. 
Baptismo do “caloiro” da ESTA em Tomar.
Ao longo do ano, os caloiros podem ganhar títulos como melhor caloiro, Mr. e Miss Simpatia, Prémio de Honra e Mérito, etc.

Tal como em Coimbra, os caloiros só poderão traçar a sua capa na semana académica, sendo que em Coimbra esse momento é assinalado pela noite da Serenata.

Na ESEC, os caloiros são praxados por uma entidade praxistica existente a nível escolar, a Real Tertúlia Bubones, mas podem ainda ser praxados pelos doutores dos seus cursos. Na ESTA, a praxe é feita a nível da escola, ou seja, com todos os cursos.

Seja onde for, a praxe tem sempre o intuito de integrar e proporcionar os melhores anos de uma pessoa, e no regresso às aulas, a praxe é algo fundamental, pois ajuda a qualquer um a não se sentir tão sozinho num lugar desconhecido, ajuda a criar novas amizades e a fazer-nos crescer enquanto pessoas, ajudando-nos a ultrapassar barreiras.

por: Patrícia Gouveia e Vânia Santos

 

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