Ana Pombo, ex-aluna da Escola Superior de Educação de
Coimbra, e estagiária da RTP no Porto, fala sobre o seu percurso académico e
profissional, sem esquecer as adversidades que sentiu durante estes anos.
Ana Pombo |
Qual o seu percurso
académico até agora?
Antes de mais um
percurso académico caracterizado de um enorme empenho, curiosidade e exigência.
Quando terminei o ensino secundário na área de Línguas e Humanidades, não tinha
dúvidas: era jornalismo que eu queria. Era comunicar e contar histórias. Já
desde muito cedo que me lembro de ter alguns sinais reveladores de jornalismo.
Escrevia notícias em casa e afixava no frigorifico...e queria sempre como
prendas livros, rádios, cassetes e até microfones. Fui então tirar comunicação
social na Escola Superior de Educação de Coimbra. Comecei a licenciatura sempre
muito exigente com o trabalho que ia desempenhando. Inseri-me em muitas
formações extracurriculares e fiz muito voluntariado. A minha primeira
experiência pré-profissional decorreu nos meses de verão no jornal regional O
Ribatejo. Se inicialmente tinha entrado no curso com a ideia de que só gostava
de televisão, então aí tive a prova viva de que adorava imprensa. Escrever e
desenvolver assuntos era muito recompensante. Aprendi muito com aquela pequena
equipa de jornalistas, de quem ainda hoje guardo todos os ensinamentos. Quanto
tive de decidir onde estagiar no final da licenciatura optei então por imprensa
e estagiei durante três meses no Diário de Notícias, em Lisboa. Aprendi muito.
Testei os meus limites e coloquei em prática o que tinha até então aprendido na
faculdade. Aprendi a elaborar uma notícia de imprensa com o rigor e a pressão
que são exigidos. Além de que foi a minha primeira entrada numa empresa a nível
nacional, onde os níveis de exigência são muito superiores a uma empresa
regional. No final do estágio já me tinha sido dito que nenhum estagiário teria
hipótese de ficar na empresa, então regressei a Coimbra para melhorar a minha
formação. Matriculei-me na Faculdade de Letras no Mestrado de Comunicação e
Jornalismo. Além de que aproveitei para melhorar idiomas como inglês, alemão e
espanhol nos cursos livres da FLUC. No segundo ano de mestrado resolvi apostar
noutro estágio. E queria em televisão. E foi com grande entusiasmo que recebi a
notícia que tinha conseguido um estágio na RTP do Porto. Já vou a meio do
estágio e está a ser uma aprendizagem enorme. Sempre me imaginei a estagiar na
RTP, desde o início. E é como um pequeno sonho tornado realidade. É um mundo
enorme e que me desperta muita curiosidade. O fato de escrever para a imagem é
fascinante. Além de que televisão é trabalho em equipa e isso entusiasma-me
mais. Tenho aprendido muito. Aprendido com excelentes profissionais que me
ensinam todos os dias, aquilo que não está nos livros.
Como foi o tratamento
dos outros colegas durante o estágio? Acha que há discriminação para com os
estagiários?
Não é uma
questão de discriminação. É uma questão de ver até que ponto somos empenhados e
aguentamos a pressão como jornalistas. Primeiro colocam-nos à prova para ver se
somos pró-activos e responsáveis o suficiente para confiarem em nós. Depois um
estagiário é sempre um corpo estranho numa redacção. Ninguém nos conhece. Ainda
ninguém sabe do que somos capazes de fazer e se nos podem dar trabalho de
responsabilidade. Como em todas as empresas, há jornalistas que ensinam por
gosto e outros que têm menos tempo. Têm prazos de trabalho a cumprir. Muitas
vezes é isso que um estagiário empenhado pode sentir...não receber muito
feedback inicial...por também não existir muito tempo por parte dos
profissionais. Mas muitos querem ensinar quando nos mostramos curiosos e
dinâmicos. E quando acreditam em nós, mais trabalho nos dão e aí aumenta a
responsabilidade. É uma enorme concretização quando vemos o nosso nome assinado
numa notícia num jornal nacional. E é uma concretização enorme aprender com
profissionais que nunca pensámos vir a ter contacto. Temos de ser persistentes.
Nunca deixar que a desmotivação seja mais forte. É acreditar que, algum dia,
todo o nosso trabalho vai ser valorizado. Que alguém olha para nós e vê que
podemos fazer a diferença. Mas é preciso, mais do que tudo, ser muito humilde.
Acha que somente o
curso é uma base sólida para a carreira jornalística?
O curso é apenas
uma introdução a uma futura carreira em jornalismo. Cada vez a forma de entrar
no meio se gere por contactos e experiência prática. O curso só nos dá algumas
bases. Ensina-nos teoria que, às vezes a nível prático, não será bem assim. É
apenas um pilar. Quem quer ser jornalista tem de se interessar pelo mundo, pela
sociedade. Tem de gostar de muito mais do que o curso...tem de gostar de
trabalhar em equipa...inserir-se noutros projectos e associações que melhorem a
sua forma de estar e a comunicação. É muito importante também aprender idiomas
além do inglês. É algo muito valorizado para quem quer ser jornalista. É
importante sermos curiosos...tirar outras formações, noutras áreas. Porque no
jornalismo temos de saber de tudo um pouco. Às vezes pode existir a sorte de
estarmos no local certa à hora certa e após o curso conseguirmos logo emprego.
Só que na minha opinião ser jornalista é muito mais do que saber falar com as
pessoas, saber escrever e condensar informação. É ser criativo. E ser criativo
exige tempo. Exige trabalho. Exige curiosidade pelos outros. Um jornalista deve
acima de tudo, fomentar laços profissionais e desenvolver muito as relações
interpessoais e uma visão abrangente sobre o mundo.
Como é a oferta de
emprego na área do jornalismo?
A oferta de
emprego na área de jornalismo é escassa. São raros os anúncios de trabalho
jornalístico remunerado. O conselho que eu dou é fomentar contactos. Não só no
jornalismo, mas também noutras áreas. São os contactos que nos podem dar dicas,
que nos podem fazer pular de um meio para o outro. Eu acredito que quem tem
paixão por aquilo que faz, tenta fazer a diferença e é empenhado, as
oportunidades vão surgir. Foi como já referi: não se pode desistir, por mais que
seja difícil. É cada vez mais difícil. Mas temos de acreditar. E se for para
isso que temos vocação e queremos mesmo, um dia um lugar surge. Pode ser mais
tarde do que queríamos. Mas surge.
Está satisfeita com o
seu percurso?
Estou satisfeita
com o meu percurso, porque consegui aprender muito até agora. Já ganhei algum
estofo, não só nos estágios, mas também em tudo onde estive inserida. Até o
fato de ter estudado numa cidade estudantil como Coimbra, me deu estofo para
enfrentar o futuro. Aprendemos muito em Coimbra, principalmente se estivermos
longe da família. Tive sempre coragem para saltar fora da zona de conforto.
Agora estou ainda mais longe. Estou no Porto. E isso dá-me estofo, porque tenho
de lidar sozinha com as frustrações que possam surgir. Não tenho a pancadinha
da família no ombro, quando algum dia é menos bom. Cresci muito desde que
comecei esta maratona em jornalismo. É um percurso duro. Exige persistência.
Exige força. Exige paixão. Sinto que dou o meu melhor todos os dias. Sei que
quero aprender mais e mais. Que sou curiosa e não consigo estar parada. E sei
que isso me pode dar frutos. Acima de tudo, tento ao máximo nunca deixar de ser
humilde. A humildade é a melhor característica que podemos demonstrar, sem
deixar que nos pisem por isso mesmo. É um mundo muito competitivo. Temos de ser
fortes. Não podemos desistir.
Cátia Lourenço
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