Viver a 2300km das suas origens
Jacinto
Soares aceitou enquanto cidadão português, mas emigrado há três anos, falar da
experiência do que é viver no país alemão. Tem 23 anos, vive agora, numa cidade
localizada a 50 km a sul de Munique, mais precisamente em Bad tolz.
Trabalhou inicialmente num parque aquático, que entretanto fechou e atualmente
e provisoriamente numa empresa de limpezas. Não se trata de mais um caso de um
licenciado que teve devido às circunstâncias económicas e financeiras que optar
por sair do país. Mas sim, de um caso de um jovem que se deixou aliciar pela
experiência de mudar o rumo da sua vida, tudo em prole da sua satisfação, concretização
pessoal e profissional.
Quais foram os motivos que te levaram
a sair do teu país de origem?
Acho
que foi um motivo superior. Muito baseado na minha força de vontade, porque sem
esse fator, jamais poderás mudar a tua vida. E essa minha força de vontade teve
origem principalmente, num fator emocional, a busca pelo equilíbrio. E quando
falo em equilíbrio refiro-me à vontade que tinha de perceber até que ponto a
minha vida podia melhorar, nomeadamente na vertente profissional. Sendo que era
parte deficitária na minha vida, até porque o meu anterior trabalho nada
correspondia à minha satisfação pessoal e à minha motivação.
Porque é que escolheste a Alemanha
como país para embarcares na nova aventura?
Uma oportunidade, apresentada por um amigo de
infância, ele embarcou nesta aventura primeiro, e quando surgiu uma brecha,
contactou-me e como eu me encontrava insatisfeito no meu trabalho, aproveitei
aquele momento para mudar, e buscar algo que aumentasse as minhas expectativas
no futuro.
Chegaste a um país novo, tinhas vindo
de uma aldeia pacata do interior do país. Como é que foi a tua fase de
adaptação a um país distinto?
A
adaptação depende sobretudo, do quanto estás recetivo a uma experiência
completamente distinta, até aquelas que tinha vivido durante os meus 20 anos.
A
verdade, é que foi lenta, mas satisfatória…isto num plano gradual, como se o
horizonte se fosse expandido à medida que o tempo ia passando. E claro foram
emergindo, no meio do desconhecido, sentimentos de aceitação, comprometimento
com a experiência e a tal satisfação pessoal, embora com alguns altos e baixos.
Mas se também não fores ao encontro da tua satisfação pessoal e não te
comprometeres com os teus objetivos de vida, será decerto muito difícil,
aceitares toda a mudança.
Sentiste a diferenciação cultural?
Culturalmente
falando, não existe um grande impacto. A sociedade têm hábitos semelhantes aos
portugueses e a cidade onde resido além de calma, é muito acolhedora e, é por
isso, fácil chamá-la de casa. Embora ainda pese sempre nas nossas costas outra
casa e nenhuma outra ocupa o seu lugar, porque foi o sítio onde cresceste e
abriste os olhos para a vida, vai ser sempre o lugar mais gostoso de voltar, tenhas
tu 20 anos ou 70, e não passa um dia em que não feche os olhos e me venham as
memórias à cabeça. Seguidas pela vontade de dar um pulo até lá, mas infelizmente
não se percorrem 2300 km num simples pulo.
Disseste que a sociedade tem hábitos
semelhantes. Tais como?
É
uma sociedade, com regras estabelecidas, partilhamos da mesma religião, dos
mesmos ideais de liberdade, respeitando o próximo, uma sociedade que valoriza a
comunhão familiar e de amizade.
Fora
a língua que em nada se assemelha, ou a arquitetura que é bastante diferente do
que estou habituado, aqui as casas regem-se por um estilo mais rústico,
recorrendo muito ao uso de madeiras por exemplo, mas que foi um impacto
positivo, à minha chegada.
Acho
que a partir do momento em que a língua já não se apresenta tão estranha, e tu
sentes que afinal, mesmo tratando-se de um país diferente do teu, tens ali um
lugar e tu és respeitado, a partir daí a sociedade, se algum dia foi um
problema, vai deixar de ser e vais sentir as barreiras a ceder, uma por uma.
Ao fim destes três anos, se
retrocederes no tempo e fizeres um processo de reflexão, qual é a expetativa de
um rapaz de 20 anos, imbuído de algumas ilusões antes de partir das suas
origens e um rapaz que já passou pelo impacto da chegada?
As
expetativas da minha parte nunca serão desmedidas, porque a minha vida rege-se
pela vontade em equilibrar as coisas e na realidade penso que neste momento
estão equilibradas. Há sempre um ou outro ponto negativo, mas a expetativa será
em todo o momento, equilibrar os pontos que constituem a minha realidade.
Falas muito do encontro ou da busca
do tal equilíbrio, o que é para ti o tal equilíbrio que procuras a nível
profissional, por exemplo?
O
equilíbrio baseia-se na minha ideia, de encontrar a satisfação pessoal,
englobando toda a minha vida, que seja capaz em momentos de confrontação com
problemas. E que eu possa resolver as coisas de forma tranquila, olhando sempre
os aspetos positivos da minha vida, e buscar forças para quebrar qualquer
barreira que surja pelo caminho.
Enquanto emigrante, sentes alguma
frustração quando olhas para o estado do teu país?
Acho
que a frustração atinge a grande maioria dos Portugueses, residentes ou emigrados,
porque todos nós sentimos que temos potencial para mais, sabemos que a dimensão
do nosso país nunca foi uma barreira que não pudéssemos quebrar, a história
está do nosso lado, a quantidade de pessoas que visitam o nosso país e se
rendem, é soberba.
O
estado do nosso país é lamentável, em várias aspetos, mas isso parte de um princípio,
creio eu, não estou por dentro da política, mas por vezes sinto que o poder, do
primeiro-ministro é como se tratasse de um brinquedo que ofereces a uma
criança, mas tu é que decides quando e como ela brinca com ele, porque de outra
maneira, duvido que não exista um português capaz de nos colocar numa rota,
certa e favorável não a centenas, mas sim aos milhões que nós somos.
Em algum momento te arrependeste da
tua escolha?
Muito
sucintamente, não. Não há razões para isso, a escolha foi feita, e depois de
tudo o que vivi, positivo ou negativo, sou alguém diferente do que era, mas
para melhor e isso deve-se muito há experiência que fui absorvendo.
Do que é que mais sentes falta de
Portugal?
Sinto
falta de tudo, da família, do convívio com os amigos, os lugares onde cresci e
o à vontade como me deslocava para onde fosse. Quando chegas a um país
diferente, encontras uma barreira base, que é a língua, depois sentes falta, do
contacto diário, e tudo o que vives quando tens por perto uma rede grande de
conhecidos.
Na
Alemanha, conheci muita gente até agora, mas a maioria partiu, ou ficou por
aqui pouco tempo, e por vezes há uma variação, entre alturas em que encontras
pessoas com quem partilhar momentos de descontração, enquanto em diversos
momentos tens de te sujeitar a descontrair sozinho.
Achas que se tivesses um curso
superior ou até mesmo completado o 12ºano as oportunidades teriam sido outras
no teu país?
As
oportunidades existem, mas também é preciso criá-las, mas sinceramente não
penso muito nisso, agarrei esta oportunidade, em algum momento se surgir uma
que me faça regressar, voltarei ao meu país, com a certeza que não esquecerei a
Alemanha, nem aquilo que ele me deu ao longo destes anos.
Objetivos para o futuro?
No
futuro essencialmente prolongar o equilíbrio que encontrei, para tal usarei as
armas que tenho, o maior poder será a força de vontade, que me levou por
transformar na maior parte do tempo, a saudade num sentimento de aceitação
constante.
Bom,
mas o futuro é já daqui a 5 minutos e neste momento não te posso assegurar a
meses de distância, mas sei que daqui a 5 minutos irei continuar a sentir-me
orgulhoso de ter chegado até aqui, aquela que não é assim tão recente
realidade, mesmo que daqui a 5 minutos seja atacado pela saudade, pela vontade
de voltar às minhas origens. No entanto, tenho em conta o sortudo que sou,
porque somando as coisas, neste momento tenho dois lugares no mundo a que
chamar de casa e onde me sinto bem, enquanto isso outros tantos pelo mundo, não
dispõem de único local para esse efeito.
Cátia Soares
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