Foi
numa época difícil para os jornais, devido à censura que surgiu um projeto
criado por sete jovens, em 1967. Um jornal regional generalista da Lousã, o Trevim.
São
dez da manhã e a jornalista, Maria João Borges, exercendo a sua profissão no Trevim há 15 anos, já está pronta para
trabalhar. É à terça-feira, no dia do fecho, o seu dia mais longo, saindo da
redação por volta das duas da manhã. Ao chegar à sala da redação já se prepara
para ver os emails, ler jornais,
contactar pessoas para fazer os trabalhos, colocar notícias online, receber lousanenses interessados
em colocar alguma notícia no jornal, escrever, fazer a maquete da próxima
edição.
Pronta
para ir para o terreno, verifica o funcionamento da sua máquina fotográfica, se
esta tem pilhas e cartão de memória. Ajeita a caneta, caderno de apontamentos e
caso se trate de uma entrevista, escreve as questões antecipadamente. E, claro,
informa-se sobre o evento o mais possível que vai cobrir para não ir a
"zero", como menciona. Já no terreno, a jornalista ouve, tira os seus
apontamentos e conversa com as pessoas. Quando tem alguma dúvida interpela os
intervenientes para poder desenvolver melhor um determinado assunto que gostava
de puxar para lead. Segundo a
própria, “o ideal é sair do acontecimento já com uma ideia do ângulo pelo qual
vamos abordar “.
Chegamos
à parte da seleção de notícias, o critério destas está relacionado com a
importância para a região, como por exemplo, um investimento, uma obra
relevante ou alguma informação importante sobre a ligação ferroviária a
Coimbra. Quanto maior for o número de pessoas envolvidas num acontecimento,
mais relevante ele se torna, revela. As notícias publicadas surgem mais por
agendamento, embora tenham de estar preparados para qualquer alteração que
possa emergir pois, as ocorrências podem dar-se a qualquer momento.
É
duas vezes por semana que, Maria João Borges vai às reuniões de redação. A
primeira destina-se à avaliação da edição anterior e a apresentação dos temas a
desenvolver na seguinte. Participam nela a redação, colaboradores, o diretor e
diretor adjunto, bem como um elemento da Cooperativa Trevim, detentora do
jornal. A segunda pretende fazer o ponto da situação dos artigos em
desenvolvimento e propor a sua disposição nas páginas do jornal.
Em
conversa, fala-nos um pouco mais de como é trabalhar num jornal regional.
Segundo a jornalista, existem diferenças notórias em relação aos nacionais,
nomeadamente o facto de o jornalista ter de ajustar as notícias ao âmbito de
abrangência. Refere que enquanto um jornal nacional divulga, por exemplo, todos
os membros do Governo, secretários de Estado, entre outros, um jornal regional,
por norma, limita-se a referir se existe, por exemplo, algum membro do atual
governo originário da zona de alcance do jornal. Para além disso, os
jornalistas regionais têm também preocupações diferentes. Quando estão a cobrir
o mesmo acontecimento, os jornalistas de imprensa nacional são obrigados a dar
um ângulo à notícia de interesse nacional. Os regionais devem desenvolver ao
máximo os pormenores locais. No entanto, afirma também a existência de
semelhanças, nomeadamente, a forma como aplicam as regras nas reportagens,
notícias…
Em
relação ao Trevim e à sua proximidade
com a vila da Lousã, diz que o nível de proximidade é total, porque é o
concelho onde têm mais assinantes e anunciantes. Mesmo os assinantes no
estrangeiro são lousanenses que emigraram e que querem manter esse elo com a
terra natal. Embora o jornal se expanda e aborde outras regiões como Miranda do
Corvo e Vila Nova de Poiares. Neste momento, tem cerca 3100 subscritores, sendo
que muitos destes estão a morrer, sendo o desafio atual fazer com que as novas
gerações mantenham o mesmo interesse pelo Trevim
que os seus pais e avós.
Agora
com a publicação online, crê “que
quantos mais leitores tivermos online, mais compradores vamos ter nos
quiosques. O público pode ser levado a comprar o jornal por verificar que tem
um conteúdo que lhe interessa. É também uma forma de dar a conhecer o nosso
jornal a pessoas que não têm ligações à Lousã.”
Ana
Maria Francisco, uma das colaboradoras do jornal regional, teve também uma
palavra a dizer. “Colaborar com um jornal regional é interessante, porque
consegues estar dentro dos eventos locais que estão a acontecer. Dá para te
manteres mais informada e próxima das pessoas”. O trabalho que realiza é,
essencialmente, cobrir alguns eventos ou visitar alguma exposição e escrever
sobre isso para que, posteriormente, os jornalistas possam ler, rever e
publicar. Diz também manter uma relação agradável com os jornalistas, que a ajudam
a corrigir e a estruturar os textos, embora “não solicitem frequentemente
colaboração”.
Os
leitores deram o seu testemunho em relação ao Trevim, é “um Jornal Regional muito bom e muito bem conseguido”, “um
jornal interessante que aborda temas relacionados com a Lousã, com textos bem
escritos e que já dura há muitos anos.”, “Tem jornalistas e algumas pessoas que
são independentes, apesar de amadoras. Muitos jornais não são nada
independentes e o Trevim parece-me
que é. Bons projetos, com caricatura, pouca cultura e demasiado desporto, mas
no fundo reflete a realidade da vila.”
Em
relação ao jornalismo regional em geral, também estes se pronunciaram, “O
jornalismo regional é bastante importante na medida em que aproxima as pessoas
e as torna mais informadas quanto ao que se passa à sua volta.”, “Acho que o
jornalismo regional é importante e acessível tanto aos mais velhos que têm por
hábito ler o jornal, como para os mais novos que já começam a ter interesse em
manter-se atuais.”.
A
jornalista acredita no futuro do Trevim,
bastando para isso que continue a haver pessoas que acreditem neste projeto. Em
relação ao jornalismo, em geral, confirma que sempre que houver jornalistas
preocupados com o rigor da informação, com a investigação, o jornalismo não
estará em risco. Dada a demasiada informação existente, o jornalismo é
importante precisamente para fazer essa distinção entre o rumor e a verdade.
Quem quiser uma realidade mais próxima da verdade, deve ler jornais e não
consultar as redes sociais, que devem apenas ser encaradas como fontes de
"dicas" para o jornalista desenvolver. Assume também que o papel de
jornalista é de risco, no seu caso, “não se trata de risco de vida, mas do
risco de ganhar inimizades”.
Maria
João Borges afirma que se sente bem ao trabalhar num jornal regional, no
entanto, considera que não é fácil, pois “quando nos cruzamos no nosso
quotidiano com as pessoas que são alvo de notícias, podemos ser facilmente alvo
de críticas e de pressões”.
Mas
será o jornalismo um trabalho a tempo inteiro? Maria João Borges diz que
depende da periodicidade. O ritmo de um quinzenário é diferente do de um diário
ou semanário. Mas, de facto, o sucesso de qualquer publicação passa por estar
24 horas atento ao que se passa perto ou longe de nós. ” É estarmos sempre
ligados a fontes de informação ou a canais informativos que nos mostrem o que
está a acontecer no mundo.”
Fundadores do jornal Trevim |
Maria João Borges, na redacção do Trevim |
A sala de reuniões, do Trevim |
A vista do exterior do Trevim |
Várias edições deste jornal |
O logótipo do jornal regional o Trevim |
Grupo 1
Sem comentários:
Enviar um comentário