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sexta-feira, 14 de outubro de 2011

A caixa mágica perdeu o encanto


A caixa mágica perdeu o encanto 
Há dias que relembro com saudade a minha infância, bons tempos, sem preocupações maiores, vivida com inocência e alegria. Com os velhos amigos recordamos o que foram essas épocas, por muito curioso que pareça é quase inevitável não referir os desenhos animados que todos seguíamos fervorosamente, estes eram o “Batatoon”, os “Pokémons”, o “Dragon Ball”, entre muitos outros. 
Como é lógico não me esqueço dos antigos brinquedos tão estimados, mas é evidente que sempre cresci muito ligada ao pequeno ecrã. Foram muitas as manhãs, tardes e por vezes dias inteiros em que não tirava o olhar da minha pequena televisão. Anos mais tarde comecei a encantar-me por outros conteúdos, a desejar sentar-me na cadeira da Judite de Sousa ou a cobrir grandes acontecimentos como o José Rodrigues dos Santos.
Hoje aspiro ser jornalista, não pelo facto de aparecer com os cabelos delicadamente penteados na televisão ou por ser reconhecida em público. Apaixonei-me pelo jornalismo, pela missão social que lhe está associada, a profissionais a quem se confia o acto da informação pública, exigindo-se em troca honestidade e verdade.
Como estudante da área comecei a reflectir sobre o que realmente me atraía na televisão, nessa caixinha que temos por quase todas as divisões da casa. Analiso com cada vez mais frequência os conteúdos exibidos nos canais generalistas portugueses, as conclusões são evidentes. Somos cada vez mais invadidos por programas de pouco interesse cultural, com cada vez menos conteúdo informativo, com uma valorização da imagem que chega a ser exagerada, formatos que apenas se pretendem com a teatralização e que alcançam grandes audiências.
É necessário perceber toda esta realidade tendo em conta que actualmente os canais televisivos fazem parte de grandes empresas mediáticas, com necessidades lucrativas. Assim, a televisão é vista como um negócio, que logicamente tem de ser rentável. Os conteúdos apresentados são apenas uma mercadoria, não um produto jornalístico sério que tenha como grande objectivo satisfazer o interesse público em vez do interesse do público.
Perante este cenário, é imprescindível repensar no papel do jornalista. Será possível ser “funcionário da humanidade” e em simultâneo funcionário da indústria? Se os interesses económicos se sobrepõem aos valores profissionais, à autonomia e responsabilidade não há lugar para o exercício de uma profissão ancorada a valores de liberdade, de expressão e informação e cuja função pública se exige independente de constrangimentos de poderes políticos e económicos. A classe jornalística parece demitir-se da sua principal função.
É necessário referir que apesar de serem poucos os casos, ainda existe jornalismo rigoroso em alguns conteúdos informativos. No entanto, como consequência do imediatismo da informação exigido na actualidade, os jornalistas ficam presos a novas rotinas produtivas, que os impedem de seleccionar, classificar, contextualizar e analisar os acontecimentos em profundidade. Como amante de arte televisiva, é com algum desgosto que percebo que muitas vezes a televisão utiliza como principal fonte o jornalismo tradicional, excluindo-se de uma investigação autónoma. Apesar do declínio das vendas do jornal em versão papel, é aqui que encontro algumas publicações de referência, em que denoto que realmente há um grande envolvimento de profissionais que praticam jornalismo sério, empenhado e baseado em informar de forma rigorosa, aprofundada e que não contempla fins meramente lucrativos. Assim, encontramos um ciclo vicioso que afecta os órgãos de comunicação social portugueses. As publicações de referência tradicionais enfrentam cada vez mais dificuldades económicas, e, têm poucos meios para por em prática o jornalismo pautado por valores fundamentais. No entanto, é na televisão, que apesar de não investir em conteúdos informativos rigorosos, que há maior receita publicitária.
Perante tamanha desilusão só posso afirmar que a caixa mágica perdeu o encanto inicial, mas, enquanto estudante de Comunicação Social, com os meus princípios, valores bem definidos e acreditando no jornalismo como uma arte, tenho a certeza que um dia será a minha vez de por em prática tudo o que aprendi, e quando esse dia chegar estará nas minhas mãos, e dos meus colegas mudar o estado de jornalismo português.





Por :  Rosália Costa

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