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sexta-feira, 23 de novembro de 2012

“Temos de estar preparados para trabalhar em qualquer parte do mundo”

Atualmente, em Portugal, o ato de emigrar é cada vez mais frequente. Jovens e adultos, com formação académica ou sem ela procuram encontrar um emprego no estrangeiro de modo a terem melhores condições de vida que não conseguem neste país. Pedro Reis, licenciado em Engenharia Civil, tem 39 anos e decidiu emigrar para Moçambique há pouco tempo.
 
Post Pescada: Quando e por que é que decidiu emigrar?
Pedro Reis: Há cerca de dois anos. Desde essa altura sabia que em Portugal, no setor da construção, haveria uma forte diminuição do investimento público para a construção de infraestruturas e que os grandes projetos, como era o caso da construção do novo aeroporto de Lisboa e a linha do TGV, mesmo que se fizessem, não seriam suficientes para manter todas as empresas de construção do setor. Sabia, portanto, que era uma questão de tempo. Posso mesmo dizer que “fiz a mala” há cerca de dois anos.

PP: Há quanto tempo é que está a trabalhar no estrangeiro?
PR: Estou a trabalhar em Moçambique há um ano.

PP: Por que é que escolheu ir para Moçambique?
PR: Não se tratou propriamente de uma escolha equacionada após análise de outros países ou outros mercados. A Construtora do Tâmega S.A. tem uma longa história em Moçambique e encontrava-se numa situação bastante difícil, resultado de um longo período sem ter uma equipa de gestão e controlo.

PP: Quais as potencialidades desse país?
PR: Moçambique encontra-se numa fase de crescimento, resultado das recentes descobertas de recursos minerais como o carvão na região de Tete e as enormes jazidas de gás natural na região da bacia do Rovuma. Segundo o FMI será o país que registará o maior crescimento de todos os países de África (8.4% do PIB)

PP: Considera um país seguro?
PR: Sim, considero um país seguro. No entanto é importante entender que é um país onde a generalidade da população vive com menos de 100 euros por mês. É portanto necessário ter algumas precauções.

PP: Cada país tem uma cultura própria, mas de continente para continente essas dissemelhanças são mais visíveis. Quais foram as diferenças que lhe mais marcaram neste país africano?
PR: É um país onde ainda se encontram muitas marcas da colonização portuguesa sendo a língua o principal ponto de ligação com a nossa cultura. Agora é um país ainda também muito marcado por uma guerra civil que durou quase 20 anos, onde a pobreza e a falta de infraestruturas básicas afetam a generalidade do país. É de facto a falta ou a dificuldade em obter coisas tão simples como água, uma refeição ou um alojamento com condições mínimas que apontaria como as principais diferenças para Portugal.

PP: Consegue-se ter uma boa qualidade de vida? O custo de vida é elevado?
PR: O custo de vida é elevado quando comparado com o custo de vida numa cidade de Portugal. Nas principais cidades de Moçambique, Maputo, Beira, Nampula consegue-se genericamente ter uma qualidade de vida aceitável na medida em que existem disponíveis os principais bens de consumo que estamos habituados. O principal problema reside no norte e interior do país.

PP: Como é que a sua família reagiu ao saber que ia emigrar? Pensa levá-la para Moçambique?
PR: A família reagiu sem grande surpresa uma vez que há algum tempo que estava a preparar a saída por motivos profissionais do país. De qualquer forma é sempre complicado, sobretudo para os filhos na idade em que estão. Em relação a trazer a família para Moçambique, apesar de ser ainda prematuro por razões profissionais, sim penso trazer a família.

PP: De que tem mais saudades de Portugal?
PR: De tudo, mas sobretudo dos meus dois filhos.

PP: Na sua opinião o que é que os moçambicanos pensam dos portugueses?
PR: A opinião dos moçambicanos sobre os portugueses depende muito da geração, os mais velhos terão uma opinião mais moderada e os mais novos, talvez por este êxodo recente de muitos portugueses têm uma opinião mais negativa. Agora genericamente os portugueses que se encontram em Moçambique conseguem integrar-se com relativa facilidade e não há qualquer tipo de rejeição por parte dos moçambicanos.

PP: Acredita que voltará a trabalhar em Portugal?
PR: Acredito que sim apesar de não ser para mim importante esta questão. Neste momento e cada vez mais, temos que estar preparados para trabalhar em qualquer parte do mundo. Apesar dos problemas financeiros, económicos e sociais que Portugal atravessa penso que cada pessoa deve estar preparada para competir com outros quadros de outros países que apresentam esta disponibilidade de sair das suas fronteiras. Quem tiver esta disponibilidade irá certamente ter muitas dificuldades em encontrar trabalho apenas no seu país de origem.

PP: Neste momento sente-se realizado apesar de estar longe do seu país e da sua família?
PR: Penso que a questão da realização pessoal ou profissional apesar de ser evidente que o facto de estamos junto da família facilita muito, não depende exclusivamente da proximidade da nossa cultura ou da família. Podemos perfeitamente trabalhar à porta de casa e não estarmos minimamente realizados. Respondendo à pergunta, posso dizer que sim, encontro-me neste momento realizado. Sinto que da realização do meu trabalho acrescento valor à organização onde me encontro e que com esse trabalho consigo proporcionar à minha família os meios para que os meus filhos cresçam e estudem com todas as condições.

por: Patrícia Gomes


*Artigo escrito ao abrigo do novo Acordo Ortográfico
 

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